Por Willian Novaes, da Geração Editorial
Neste livro corajoso, A Outra História do Mensalão – As contradições de um julgamento político(R$ 34,90, pag. 352), independente e honesto, o jornalista Paulo Moreira Leite, que foi diretor de Época e redator-chefe de Veja,
entre outras publicações, ousa afirmar que o julgamento do chamado
mensalão foi contraditório, político e injusto, por ter feito
condenações sem provas consistentes e sem obedecer a regra elementar do
Direito segundo a qual todos são inocentes até que se prove o contrário.
Os acusados
estavam condenados – por aquilo que Moreira Leite chama de opinião
publicada, que expressa a visão de quem tem acesso aos meios de
comunicação, para distinguir de opinião pública, que pertence a todos —
antes do julgamento começar.
Naquele que foi
o mais midiático julgamento da história brasileira e, possivelmente, do
mundo, os juízes foram vigiados pelo acompanhamento diário, online, de
todos os seus atos no tribunal. Na sociedade do espetáculo, os juízes
eles se digladiaram, se agrediram, se irritaram e até cochilaram aos
olhos da multidão, como num reality show.
Este livro contém os 37 capítulos publicados pelo autor em blog que mantinha em site da revista Época,
durante os quatro meses e 53 sessões no STF. A estes artigos Moreira
Leite acrescentou uma apresentação e um epílogo, procurando dar uma
visão de conjunto dos debates do passado e traçar alguma perspectiva
para o futuro.
O prefácio é do reconhecido e premiado jornalista Janio de Freitas, atualmente colunista da Folha de S. Paulo.
Esse é o 7° titulo da coleção Historia Agora, lançada pela Geração
Editorial, entre os livros desta coleção está o best seller, A Privataria Tucana.
Ler esses
textos agora, terminado o julgamento, nos causa uma pavorosa sensação. O
Supremo Tribunal Federal, guardião das leis e da Constituição, cometeu
injustiças e este é sem dúvida um fato, mais do que incômodo, aterrador.
Como no
inquietante Processo, romance de Franz Kafka, no limite podemos
acreditar na possibilidade de sermos acusados e condenados por algo que
não fizemos, ou pelo menos não fizemos na forma pela qual somos
acusados.
Num gesto
impensável num país que em 1988 aprovou uma Constituição chamada cidadã,
o STF chegou a ignorar definições explícitas da Lei Maior, como o
artigo que assegura ao Congresso a prerrogativa de definir o mandato de
parlamentares eleitos.
As acusações,
sustenta o autor, foram mais numerosas e mais audaciosas que as provas,
que muitas vezes se limitaram a suspeitas e indícios sem apoio em fatos.
A denúncia do
“maior escândalo de corrupção da história” relatou desvios de dinheiro
público mas não conseguiu encontrar dados oficiais para demonstrar a
origem dos recursos. Transformou em crime eleitoral empréstimos
bancários que o PT ao fim e ao cabo pagou.
Culpou um
acusado porque ele teria obrigação de saber o que seus ex-comandados
faziam (fosse o que fosse) e embora tipificasse tais atos como de
“corrupção”, ignorou os possíveis corruptores, empresários que, afinal,
sempre financiaram campanhas eleitorais de todos, acusados e acusadores.
Afinal, de que
os condenados haviam sido acusados? De comprar votos no Congresso com
dinheiro público, pagando quantias mensais aos que deveriam votar,
políticos do próprio PT – o partido do governo! – e de outros partidos.
Em 1997 um deputado confessou em gravação publicada pelo jornal Folha de S. Paulo que
recebera R$ 200 mil para votar em emenda constitucional que daria a
possibilidade de o presidente FHC ser reeleito. Mas – ao contrário do
que aconteceu agora – o fato foi considerado pouco relevante e não
mereceu nenhuma investigação oficial.
Dois pesos,
duas medidas. Independentemente do que possamos aceitar, nos limites da
lei e de nossa moral, o fato é que, se crimes foram cometidos, os
criminosos deveriam ter sido, sim, investigados, identificados, julgados
e, se culpados, condenados na forma da lei. Que se repita: na forma da
lei.
É ler, refletir e julgar. Há dúvidas – infelizmente muitas – sobre se foi isso o que de fato aconteceu.
*Via http://www.viomundo.com.br
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