Primeiro de tudo: foi um erro dos manifestantes baianos impedir a
exibição do documentário, ou seja lá o que for aquilo, do tal cineasta
de Jequié, Dado Galvão, em Feira de Santana. Não que eu ache que dessa
película poderia vir alguma coisa que preste, mas porque praticar sua
arte – seja genial, banal ou medíocre – é um direito inalienável de
qualquer cidadão brasileiro.
Ao impedir o documentário, os manifestantes estão ajudando a consolidar a
tese adotada pela mídia de que os que são contra a blogueira Yoani
Sánchez são, apenas, a favor da ditadura cubana. Fortalece, pois, esse
reducionismo barato ao qual a direita latinoamericana sempre lança mão
para discutir as circunstâncias de Cuba.
Minha crítica aos manifestantes, contudo, se encerra por aqui.
De minha parte, acho ótimo que tenha gente disposta a se manifestar
contra Yoani Sánchez, uma oportunista que transformou dissidência em
marketing pessoal. Não vi ainda nenhuma
matéria que informe ao distinto público quem está pagando a turnê de
Yoani por 12 (!) países – passagens aéreas, hospedagens, traslados,
alimentação, lazer, banda larga e direito a dois acompanhantes, o marido
e o filho.
Nem a Folha de S.Paulo, que até em
batizado de boneca do PT pergunta quem pagou o vestido da Barbie, parece
interessada nesse assunto. E eu desconfio por quê.
Yoani Sánchez é a mais nova porta-bandeira da liberdade de expressão em
nome das grandes corporações de mídia e do capital rentista
internacional. É a direita com cara de santa, candidata a mártir da
intolerância dos defensores da cruel ditadura cubana, a pobre coitada
que tentou, vejam vocês, 20 vezes sair de Cuba para ganhar o mundo, mas
só agora, que a lei de migração foi reformada na ilha, pode viver esse
sonho dourado. Mas continuo intrigado. Quem está pagando?
A mídia brasileira, horrorizada com as manifestações antidemocráticas em
Pernambuco e na Bahia, não gosta de lembrar que a atormentada blogueira
morou na Suíça, apesar de ter tentado sair de Cuba vinte vezes, nos
últimos cinco anos. Vinte vezes!
Façamos as contas: Yoani pediu para sair de Cuba, portanto, quatro vezes
por ano, de 2006 para cá. Uma vez a cada três meses. Mas, antes,
conseguiu ir MORAR na Suíça. Essa ditadura cubana é muito louca mesmo.
Mas, por que então a blogueira dissidente e perseguida abandonou a
civilizada terra dos chocolates finos e paisagens lúdicas de vaquinhas
malhadas pastando em colinas verdejantes? Fácil: nos Alpes suíços, Yoani
Sánchez poderia blogar a vontade, denunciar a polícia secreta dos
Castros e contar ao mundo como é difícil comprar papel higiênico de
qualidade em Havana – mas de nada serviria a seus financiadores na
mídia, seja a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que lhe paga
uma mesada, ou o Instituto Millenium, no Brasil, que a tem como
“especialista”.
Então, é preciso fazer Yoani Sánchez andar pelo mundo. Fazê-la a frágil
peregrina da liberdade de expressão, curiosamente, financiada pelos
oligopólios de mídia que representam, sobretudo na América Latina, a
interdição das opiniões, quando não a manipulação grosseira,
antidemocrática e criminosa da atividade jornalística, em todos os
aspectos.
É preciso vendê-la como produto “pró-Cuba”, nem de direita, nem de
esquerda – aliás, velha lenga-lenga mais que manjada de direitistas
envergonhados. Pena Yoani ter se atrasado nessa missa: Gilberto Kassab,
com o PSD, e Marina Silva, com a Rede (Globo?), já se apropriaram, por
aqui, dessa fantasia
não-tem-direita-nem-esquerda-depois-da-queda-do-muro-de-Berlim.
No mais, se a antenada blogueira cubana tivesse ao menos feito um Google antes de embarcar para o Brasil, iria descobrir:
1) Dado Galvão, apesar de “colunista convidado” do Instituto Millenium, não é ninguém. Ela deveria ter colado em Arnaldo Jabor;
2) Eduardo Suplicy é a Yoani do PT;
3) Em Pernambuco não tem só frevo;
4) E na Bahia não tem só axé.
No Esquerdopata
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