Em 1954, um atentado contra o jornalista e político Carlos Lacerda, até
hoje não esclarecido, precipitou o suicídio de Getúlio Vargas. Quase 60
anos depois, há um clima estranho no ar. Porta-vozes da oposição, como
Marco Antônio Villa e Reinaldo Azevedo, antecipam que, em breve, serão
agredidos por "petistas fascistas" e Merval Pereira conta que viveu seu
"momento Yoani Sánchez" na última sexta-feira, ao ser xingado e ter seu
carro cercado. Os três culpam o ministro Gilberto Carvalho. Será que
buscam um novo caso Tonelero?
Brasil 247 - O jornalista Carlos Lacerda, o principal
opositor de Getúlio Vargas, tinha uma grande vantagem em relação a seus
imitadores atuais. Era também político e não escondia seu objetivo
natural, que era a busca do poder. Em 5 de agosto de 1954, quando sua
campanha contra o "mar de lama" getulista não surtia os efeitos
desejados, um acontecimento mudou o curso da história: o atentado da rua
Tonelero, em Copabacana, que matou um de seus seguranças, e lhe deixou
ferido no pé. Com a responsabilidade atribuída ao Palácio do Catete,
Getúlio avisou que só sairia morto do Catete. Dito e feito. No dia 24,
ele foi encontrado morto, depois de suicidar-se. Ainda hoje, há
interpretações divergentes sobre o atentado – alguns historiadores
sustentam que tudo foi planejado para tirar Getúlio da presidência e as
versões de Lacerda sempre foram contraditórias.
No Brasil de hoje, o principal líder da antiga UDN tem diversos
seguidores. Não na política, mas no jornalismo. Eles fazem política 24
horas por dia, mas não assumem esse papel. Têm como principais inimigos o
ex-presidente Lula e, por tabela, a presidente Dilma. Assim como em
1954, o discurso do mar de lama, a despeito do julgamento da Ação Penal
470, também não surtiu os efeitos desejados. Nas últimas eleições
municipais, por exemplo, o PT se fortaleceu e o cenário para 2014 ainda
indica o partido como franco favorito.
No entanto, uma nova linha de ataque começa a se desenvolver: a de que
petistas trabalham para minar, por dentro, a democracia. Tudo começou no
fim do ano passado, quando o ministro Gilberto Carvalho se dirigiu aos
filiados do partido e, num vídeo, sugeriu aos militantes que fossem às
ruas defender o legado dos governos de Lula e Dilma, diante dos ataques
do principal adversário, que seria o chamado "Partido da Imprensa
Golpista". Uma frase, a de que em 2013 "o bicho vai pegar", tem sido
interpretada por opositores de Lula como uma prova de que o PT estaria
incitando atos de violência contra seus opositores.
Neste domingo, o jornalista Merval Pereira relata que, na sexta-feira
passada, viveu seu momento Yoani Sánchez, depois de ser xingado de "fdp"
e de ter seu carro cercado. De quem é a culpa? De Gilberto Carvalho,
segundo Merval Pereira (leia mais aqui).
Quando a cubana Yoani Sánchez veio ao Brasil, a revista Veja, de Roberto
Civita, desenvolveu a tese de que diversos ataques a ela estariam sendo
orquestrados dentro do Palácio do Planalto, também por Gilberto
Carvalho. E a frase "o bicho vai pegar" foi novamente resgatada. "A ação
dos fascistas petistas contra Yoani Sanchéz confirmou a “previsão” do
ex-seminarista Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da
República. Em dezembro, disse que “em 2013 o bicho vai pegar.” Pelo que
assistimos, o bicho já pegou”, disse Marco Antonio Villa, que se
apresenta como historiador, mas é apenas um militante político, além de
representante do Instituto Millenium.
Quem foi ainda mais longe nessa tese foi Reinaldo Azevedo, blogueiro de
Veja.com. "Gilberto Carvalho prometeu: em 2013 o bicho vai pegar! Hoje,
eles só nos xingam; amanhã, começarão a nos espancar", antecipou. Não
será surpresa se, nos próximos dias, os personagens de sempre, como
Marco Antonio Villa, Augusto Nunes e próprio Reinaldo, se levantarem
contra a agressão perpetrada pelo PT à "imprensa livre", representada
pela figura de Merval Pereira.
Afinal, como disse o colunista do Globo, "a violência está no ar". E
talvez ela, a violência, seja a esperança que resta à oposição.
Um comentário:
O pior da violência e o seu efeito, dependendo da(s)vítima(s)pode(m) o(s) violento(s) tornar-se objeto da mais arrebatradora paixão do(s) violentado(s)... Já imagiram Mervais, Azevedos e Villas pedindo mais e cada vez mais!!! Um horror!!!
ZP
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