(Ilustra de Cárcamo) |
Não sei se vocês conhecem uma fábula de Esopo que se chama “O velho, o menino e a mulinha” – também
aparece com o nome de “O velho, o garoto e o burro” em algumas versões.
Eu li com este título, quando era criança, na coleção de Monteiro
Lobato, volume “Fábulas”. E nunca esqueci.
Para quem não conhece, trata-se da história de um homem que vai vender
uma mula no mercado e sai puxando o animal pelo cabresto, ao lado do
filho, quando se depara com um viajante:
– Esta é boa! O animal vazio e o pobre velho a pé!
Para “tapar a boca do mundo”, o velho sobe na mula e manda o menino puxar os dois, até que passam por uma turma de lavadeiras:
– Que graça! O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre menino a pé…
Para “tapar a boca do mundo”, sobem ambos na mula. Um carteiro que o trio cruza pelo caminho dispara:
– Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez…
Assim, meu velho, quem chega à cidade não é mais a mulinha, é a sombra
da mulinha…
O velho apeia e, para “tapar a boca do mundo”, sai puxando o animal com o menino em cima.
– Bom dia, príncipe!, diz um sujeito.
– Por que príncipe?, pergunta o menino.
– Ora, porque só príncipes andam assim, de lacaio à rédea!
Mais uma vez, o velho, decidido a “tapar a boca do mundo”, cede à
opinião alheia e ele e o filho passam a carregar o bicho às costas.
“Talvez isto contente o mundo”, ele diz. Um grupo de rapazes dá
gargalhadas ao ver a cena:
– Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro…
– Sou eu!, replicou o velho. Venho há uma hora fazendo o que não quero,
mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que me manda a
consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já vi que
morre doido quem procura contentar toda gente…
Lembro dessa história toda vez que vejo notícias relacionadas à
presidenta Dilma Rousseff. Parece impossível a Dilma agradar à imprensa.
Se seu governo não toma nenhuma iniciativa, “está paralisado”. Se
anuncia algum programa novo, “está visando 2014″. Se investe mais em
educação do que em obras, “é má gestora”. Se investe mais em obras, “é
negligente com a educação”. Se acata alguma decisão contrária do
Congresso, “não tem pulso”. Se veta, “é autoritária”. Se Dilma não
comenta a renúncia de Bento 16, é “pouco caso com o catolicismo”. Se vai
ao Vaticano prestigiar o primeiro papa latino-americano, “é campanha”.
Dilma é o velhinho da fábula. O menino é seu governo. A mídia são os que
cruzam com ela pelo caminho. A mulinha somos nós. Como brasileira, não
quero que Dilma me carregue às costas nem que me puxe pelo cabresto.
Espero que a presidenta governe, simplesmente. Que não mude seus planos,
como fez o velhinho, tentando agradar a todos. Que não se preocupe em
“tapar a boca do mundo” e siga sua consciência. E que a moral da
história seja: é preciso fazer o melhor possível sempre, porque as
críticas virão do mesmo jeito.
Cynara MenezesNo Socialista Morena
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