Eduardo Campos, presidente do PSB. |
André Singer
Fosse a política brasileira menos acomodatícia, a reforma ministerial em
gestação implicaria a retirada dos cargos entregues ao Partido
Socialista Brasileiro (PSB), que a esta altura, aliás, nada mais tem de
socialista afora o nome. Os últimos gestos do presidente da sigla,
Eduardo Campos, indicam a intenção de criar, sempre que pode, embaraços
ao governo federal, que supostamente apoia.
Há 15 dias, o governador de Pernambuco estabeleceu uma surpreendente
aliança com Paulo Pereira da Silva, o principal dirigente da Força
Sindical, para barrar a privatizante MP (595) dos portos. Em seguida, na
quarta passada, liderou 16 governadores em uma proposta de onerar a
União em R$ 4,5 bilhões para resolver o problema criado com a derrubada
no Congresso do veto presidencial sobre a divisão dos royalties do
petróleo.
Campos vem sendo procurado por descontentes, à direita e à esquerda, com
a presidente Dilma Rousseff. De empresários do agronegócio a
representantes da estiva, passando por candidatos à presidência da
Câmara, é extensa a romaria dos que viajam a Recife. A todos o neto de
Arraes acolhe com magnânima boa vontade, mesmo que nada tenham a ver com
a sua plataforma modernizante de eficiência gerencial.
O caso dos portos é exemplar. O mais coerente para quem defende o uso de
métodos empresariais na gestão pública seria apoiar a medida
privatizante. Mas Eduardo decidiu secundar o movimento dos
trabalhadores, que têm nova greve marcada em uma semana com o objetivo
de barrar o que consideram a privatização do setor. Para o cúmulo da
ironia, o ministro encarregado da Secretaria de Portos é do PSB.
O objetivo evidente do jovem político nordestino é ampliar as bases para
uma postulação presidencial de centro, provavelmente já no ano que vem.
Portador de altíssima aprovação em seu Estado, ainda é pouco conhecido
no resto do Brasil. Mesmo depois do bom desempenho do partido nas
eleições municipais de 2012, Campos tinha apenas 3% das intenções de
voto no país. Por isso, precisa aparecer.
A disputa de 2014 será difícil para um candidato fora das grandes
agremiações (PT e PSDB), considerando-se que Marina Silva também correrá
pelo meio. Com pouco tempo de TV, Campos terá baixo poder de fogo. O
seu trunfo é o suporte que recebe dos que querem desgastar Dilma, o que
pode crescer caso a situação econômica patine. O mesmo explica, por
sinal, a hesitação do PSD, de Kassab, em aderir à recandidatura da
presidente.
O governo parece alimentar a ilusão de que pode recuperar a lealdade de
Campos mais à frente. A lógica indica, entretanto, que só a terá se e
quando não precisar mais dela.
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