Bob Fernandes
O PT decidiu cobrar do governo federal a implantação do novo marco regulatório das comunicações. O assunto é importantíssimo. Nos jornais, a primeira reação. Manchetes anunciam que o PT quer o "controle da mídia". Leia-se, na escolha feita para as manchetes: a volta da censura.
Se o PT ou alguém quiser a volta da censura não conseguirá fazê-lo.
Não há espaço para isso. Não há espaço nem ambiente na política e não
há na sociedade minimamente organizada. Por outro lado, já não há mais
espaço para ignorar que o resto do mundo civilizado regula a dinâmica da
Indústria, do Mercado da Comunicação.
Regular, estabelecer regras para impedir monopólios e oligopólios, é
necessidade básica no sistema capitalista. E, neste setor, o da Mídia,
monopólios tendem a se perpetuar.
Perpetuam-se porque, entre outros motivos, estabelecem um movimento
circular com a publicidade. Ambas, a Indústria da Comunicação e
Publicidade, retroalimentam-se e mantém imutável esse ambiente.
Na Inglaterra, por exemplo, a OFCOM, instituição que cuida da regulação da indústria percebeu o perigo e agiu.
O News of the World, centenário jornal do grupo do
bilionário Murdoch, grampeou o príncipe herdeiro da coroa, entre muitos
outros. A OFCOM obrigou Murdoch a abrir mão da SKY. O dono da Fox tinha
40% da Sky e queria ter 100%. Ficou sem nada. E ainda teve que fechar as
portas do jornal centenário.
Regular a dinâmica do Mercado da Comunicação, como fazem europeus e
os Estados Unidos, não é censurar. Regular é impedir que se criem
monopólios e oligopólios neste setor tão sensível. Regular é estimular a
diversidade na propagação de informações.
O que o PT não pode fazer é usar o tema para retaliar. Retaliar,
por exemplo, por conta das condenações no caso do chamado "Mensalão". Se
essa for a intenção, não conseguirá. E jogará no lixo algo que a
sociedade necessita para se democratizar plenamente.
Se alguém tiver dúvida sobre o bioma da comunicação no Brasil, note
quantos parlamentares têm meios de comunicação. Centenas de deputados,
prefeitos, vereadores, senadores e governadores, chefes e chefetes
políticos são donos de meios de comunicação. E isso pode ser tudo, só
não é democrático.
E recordemos: dois dias depois de eleito, Renan Calheiros (PMDB-AL) escreveu um artigo, publicado na Folha de S.Paulo. Ali prometeu à indústria da comunicação que não deixará que se mexa no setor. Algo ele deve esperar em troca.
O assunto, discutido há décadas, está posto em banho maria desde os primórdios da era Fernando Henrique Cardoso.
Sérgio Motta, o Serjão, ministro da Comunicações, entendia a
regulamentação desse mercado, o da Indústria da Comunicação, como
projeto modernizador e inevitável.
Para tanto, através de consultas várias, inclusive públicas,
chegou-se a meia dúzia de minutas do projeto de regulamentação. A
pressão foi imensa. Bastaram 15 dias de telejornais numa seca no
Nordeste e o projeto tucano de Regulamentação das Comunicações foi para a
gaveta, de onde nunca mais saiu.
O mais recente surto irrompeu no dia 20 de fevereiro último.
Neste dia, ao ser questionado pelo professor Murilo Ramos e pelo
jornalista Rubens Glasberg sobre as perspectivas do novo marco legal das
comunicações, em seminário organizado pela Revista TELETIME e
pelo Centro de Estudos de Políticas de Comunicação da UnB, Cezar
Alvarez, secretário executivo do Ministério das Comunicações, foi
sincero:
- Com a qualidade e a profundidade que merece, necessitaria de uns dois ou três anos de discussão com a sociedade.
Como o mandato da presidente Dilma Rousseff termina em 2014,
Alvarez alegou falta de tempo hábil para que fosse lançada e concluída
uma consulta pública sobre o assunto. Apesar de descartar uma reforma
ampla, o secretário-executivo contemporizou:
- Isso não significa que tudo vai para as calendas.
Foi o bastante para o início de uma reação. O Fórum Nacional Pela
Democratização da Comunicação, o FNDC, há 20 nessa luta, protestou em
nota pública.
Na sequência, neste início de fevereiro, o diretório nacional do PT
se manifestou em defesa do marco legal para regulamentação do mercado
de comunicação.
Por fim, em conversa com o repórter Samuel Possebon, em Barcelona, o
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, buscou amenizar as
declarações de seu secretário-executivo:
- A hora que estiver bom para discutir, vamos discutir, mesmo que
seja em ano eleitoral. Mas tenho que dizer que não é prioridade. Não
podemos querer fazer um marco legal porque não se gostou da capa de uma
revista.
Disse ainda, para dirimir quaisquer dúvidas:
- Ninguém vai fazer lei para discutir imprensa. Mas há serviços que
têm previsão de marco na Constituição, e isso é perfeitamente cabível
uma regulamentação. Nunca vai haver um marco que permita ao governo
controlar o conteúdo jornalístico.
Para Paulo Bernardo, a maturação do projeto não pode se restringir ao governo:
- Quando for discutir, é necessário convencer e aprovar isso no
Congresso. Acho que tem muita coisa para discutir e que o projeto é
importante, mas isso tem que ser feito sem paixões.
Paulo Bernardo deve saber que, há pelo menos 16 anos, o projeto de
Regulamentação da Mídia – ainda da era FHC/ Serjão Motta- dormita numa
gaveta qualquer do seu Ministério. E que o rol de alegações para
mantê-lo engavetado tem sido sempre o mesmo. Assim como são sempre as
mesmas as pressões para mantê-lo na gaveta.
Assim como a democratização na comunicação, outros temas sempre
foram historicamente caros ao PT. Cabem então perguntas: o que o PT tem a
dizer sobre o "Rei da Soja", Blairo Maggi, presidir a Comissão de Meio
Ambiente? Nada?
O pastor e deputado Marco Feliciano, do PSC, quer presidir a
Comissão de Direitos Humanos. Feliciano é um homofóbico radical e já
disse que descendentes de africanos são "amaldiçoados".
Qual é a posição oficial do PT nessas outras questões tão caras ao
partido e a seu eleitorado mais fiel? Questões tão caras e importantes
quanto a democratização dos meios de comunicação.
Do Portal do Terra.com.br
Um comentário:
CORTA A VERBA PUBLICITÁRIA DA GLOBO!!!!!!!!!!!!!! NÃO RENOVA A CONCESSÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!1
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