Do Brasil 247 - 7 de Maio de 2013 às 06:29
Segundo Janio de Freitas, a imprensa
brasileira, inclinada à direita, como definiu o presidente do Supremo
Tribunal Federal, encontrou no próprio ministro um caminho para tentar
recuperar seu espaço perdido
247 - Janio
de Freitas deu razão ao ministro Joaquim Barbosa, que diagnosticou a
inclinação à direita da imprensa brasileira. Mas essa mesma imprensa
encontrou em Barbosa um caminho para resgatar a tradição conservadora da
sociedade brasileira. Leia abaixo:
O prestígio de Joaquim Barbosa foi elaborado pelas características identificadas por ele na imprensa do país
Jânio de Freitas
A intervenção do ministro
Joaquim Barbosa, de franqueza incomum em pronunciamentos
internacionais, durante encontro na Costa Rica sobre liberdade de
imprensa desvendou uma situação algo extravagante.
O diagnóstico da imprensa
brasileira feito pelo palestrante aparenta duas vertentes que, na
realidade, têm iguais pontos de partida e de chegada. A primeira delas
resume-se bem em poucas frases do pronunciamento:
"O Brasil tem hoje três
principais jornais nacionais impressos, todos mais ou menos inclinados
para a direita no campo das ideias";
"Eu não seria sincero se
concluísse a apresentação sem trazer a público desvantagens que vejo em
meu país acerca da informação, da comunicação, da liberdade de expressão
e de imprensa: o problema está, basicamente, na falta de um pluralismo
forte [na imprensa]".
Entremeadas, citações à ausência de "pluralismo" e à "fraca diversidade política e ideológica da imprensa brasileira".
Irretocável.
Curioso, no entanto, é
que o fulminante prestígio de que Joaquim Barbosa vê-se munido, também
fora do Brasil, foi elaborado exatamente por aquelas características
políticas e ideológicas identificadas na imprensa brasileira pela visão
crítica do ministro. A contrariedade da "inclinação para a direita", com
a vitória sem precedentes de adversários políticos e ideológicos,
encontrou no relator Joaquim Barbosa um veio para sua ansiedade de
reverter o país à tradição conservadora. A razão e a desrazão, o
equilíbrio e o atropelo não importariam mais do que a efetivação do
objetivo intermediada por Joaquim Barbosa e nele heroizada.
O próprio convite para
falar na reunião da Unesco, portanto, foi fruto do que Joaquim Barbosa
lá descreveu como identidade da imprensa brasileira.
O outro componente do diagnóstico, como aparência de fator à parte do anterior, também se acomoda em referências breves:
"No Brasil, negros e
mulatos representam 50% a 51% população. Mas não brancos são bem raros
nas Redações, telas de televisão, sem mencionar a quase abstenção deles
nas posições de controle ou liderança na maioria dos veículos. É quase
como se não existissem no mercado das ideias. Raramente são chamados
para expressar pontos de vista ou especialidades, salvo nas situações de
estereótipos";
"As pessoas são tratadas de modo diferente de acordo com seu status, sua cor de pele e o dinheiro que têm".
Não poderia ser diferente
em uma imprensa "inclinada para a direita" e com "fraca diversidade
política e ideológica". O conservadorismo político e ideológico é
conservadorismo social que é conservadorismo também racial. Aqui, está
tudo no mesmo trono. Sem que a raridade de não brancos seja uma
peculiaridade da imprensa, e sem que haja nas Redações, em geral, uma
predisposição pensada.
Entre as inevitáveis
respostas sobre o Judiciário, não muito menos críticas, o ministro
mencionou, segundo uma das notícias a respeito, certo dado perturbador:
"(...) a Suprema Corte, que tem 60 mil casos aguardando julgamento,
casos que afetam a sociedade (...)".
A "imprensa se inclina
para a direita" e o Judiciário se inclina para a inutilidade social,
pois
O que dá no mesmo, como inclinação.
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