Da Carta Capital - publicado 17/05/2013 09:11, última modificação 17/05/2013 10:55
Comove a fidelidade dos leitores de CartaCapital colhida em andanças pelo Brasil: eles estão afinados com o nosso compromisso
Mino Carta
Escrevi um livro intitulado O Brasil, publicado pela Editora Record de Sergio Machado e engalanado pelo posfácio de Alfredo Bosi. Lançado em São Paulo no final de fevereiro passado, graças a O Brasil tenho viajado pelo próprio em noites de autógrafos, e mais viajarei.
O livro pretende conciliar ficção com memória, acima da óbvia ideia de que quem escreve quase sempre conta a si próprio. O enredo desenrola-se em cenários verdadeiros e contexto histórico idem, e escala personagens verdadeiros juntamente com os da ficção. Aqueles ao surgirem em cena, automaticamente até, como será provado para quem se der ao trabalho de me ler, convocam as lembranças do trato que tive com eles. São anotações esparsas, limitadas a alguns momentos escolhidos quase ao acaso, às vezes ditadas pela emoção. Certo é que não quis escrever um livro de memórias, estes são para Churchill, para De Gaulle. E muito menos apresentar uma coletânea de artigos conforme vezo brasileiro peculiar e primitivo.
De São Paulo passei ao Rio no começo de março, depois Brasília. Fui a Fortaleza em abril, a Salvador na primeira quinzena de maio. Nestas capitais nordestinas falei para plateias generosas, em seguida às apresentações críticas de Ciro Gomes no Ceará e Emiliano José na Bahia. Noitadas inesquecíveis, santificadas pela presença de grandes amigos indispensáveis, e não me move aqui qualquer impulso retórico. O que me tocou em profundidade, espeleologia com tocha e cordas, é a amizade dos conhecidos e dos desconhecidos, e a ligação que todos estabelecem entre o acima assinado e CartaCapital. Brindam-me com frases de dar nó na garganta, e não exagero.
Agradecidos porque existimos. Meus visitantes da noite enaltecem aquilo que têm como lisura, honestidade, independência. Como respeito pela verdade factual e pela língua, bela e rica.
Emocionam-me esses dignos representantes da cidadania, e falo agora sem pieguismo. Solicitado por uma pergunta, em Salvador contei como me tornei jornalista e, de início, encarei a profissão. Em princípio com seriedade, creio eu, mas também com certo espírito mercenário, o que me levou a aceitar a chefia da equipe pioneira de uma revista de automóveis, a Quatro Rodas da Editora Abril, sem saber dirigir carro e sem distinguir um Fusca de uma Mercedes. Tinha então 26 anos.
Acordei para a valia do jornalismo depois do golpe de 1964 e mais ainda após o golpe dentro do golpe de 1968, que logo precipitaria a feroz censura em Veja, da qual era diretor da sua primeira redação. A despeito da prepotência da ditadura, foi aquele um tempo esperançoso, na expectativa de que o Brasil encontraria seu melhor caminho ao raiar do sol da liberdade.
Ao cabo, o sol não raiou, embora anunciassem a redemocratização no tom dos arcanjos. O Brasil padeceu Sarney, Collor, Fernando Henrique, com todas as inevitáveis consequências, sem contar com a ambiguidade da palavra redemocratização, como se antes tivéssemos gozado de radiosa democracia. Nonadas, diria Guimarães Rosa. De todo modo, as eleições de Lula e Dilma Rousseff me devolveram esperança, porque lhes conhecia o propósito de enfrentar o problema mais agudo, mais gritante, mais daninho: a desigualdade social monstruosa. Donde, o apoio dado a ambos por CartaCapital, clara e responsavelmente, como manda o jornalismo autêntico.
Hoje, minhas andanças pelo País me conduzem pela mão à convicção de que há brasileiros habilitados a entender o empenho de CartaCapital. O compromisso. Daí o redobrar da esperança.
Brasileiros, enfim conscientes da cidadania, decisiva para a democratização do País. Minoria, porém válida e exemplar. Democratização, e ponto.
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Escrevi um livro intitulado O Brasil, publicado pela Editora Record de Sergio Machado e engalanado pelo posfácio de Alfredo Bosi. Lançado em São Paulo no final de fevereiro passado, graças a O Brasil tenho viajado pelo próprio em noites de autógrafos, e mais viajarei.
O livro pretende conciliar ficção com memória, acima da óbvia ideia de que quem escreve quase sempre conta a si próprio. O enredo desenrola-se em cenários verdadeiros e contexto histórico idem, e escala personagens verdadeiros juntamente com os da ficção. Aqueles ao surgirem em cena, automaticamente até, como será provado para quem se der ao trabalho de me ler, convocam as lembranças do trato que tive com eles. São anotações esparsas, limitadas a alguns momentos escolhidos quase ao acaso, às vezes ditadas pela emoção. Certo é que não quis escrever um livro de memórias, estes são para Churchill, para De Gaulle. E muito menos apresentar uma coletânea de artigos conforme vezo brasileiro peculiar e primitivo.
De São Paulo passei ao Rio no começo de março, depois Brasília. Fui a Fortaleza em abril, a Salvador na primeira quinzena de maio. Nestas capitais nordestinas falei para plateias generosas, em seguida às apresentações críticas de Ciro Gomes no Ceará e Emiliano José na Bahia. Noitadas inesquecíveis, santificadas pela presença de grandes amigos indispensáveis, e não me move aqui qualquer impulso retórico. O que me tocou em profundidade, espeleologia com tocha e cordas, é a amizade dos conhecidos e dos desconhecidos, e a ligação que todos estabelecem entre o acima assinado e CartaCapital. Brindam-me com frases de dar nó na garganta, e não exagero.
Agradecidos porque existimos. Meus visitantes da noite enaltecem aquilo que têm como lisura, honestidade, independência. Como respeito pela verdade factual e pela língua, bela e rica.
Emocionam-me esses dignos representantes da cidadania, e falo agora sem pieguismo. Solicitado por uma pergunta, em Salvador contei como me tornei jornalista e, de início, encarei a profissão. Em princípio com seriedade, creio eu, mas também com certo espírito mercenário, o que me levou a aceitar a chefia da equipe pioneira de uma revista de automóveis, a Quatro Rodas da Editora Abril, sem saber dirigir carro e sem distinguir um Fusca de uma Mercedes. Tinha então 26 anos.
Acordei para a valia do jornalismo depois do golpe de 1964 e mais ainda após o golpe dentro do golpe de 1968, que logo precipitaria a feroz censura em Veja, da qual era diretor da sua primeira redação. A despeito da prepotência da ditadura, foi aquele um tempo esperançoso, na expectativa de que o Brasil encontraria seu melhor caminho ao raiar do sol da liberdade.
Ao cabo, o sol não raiou, embora anunciassem a redemocratização no tom dos arcanjos. O Brasil padeceu Sarney, Collor, Fernando Henrique, com todas as inevitáveis consequências, sem contar com a ambiguidade da palavra redemocratização, como se antes tivéssemos gozado de radiosa democracia. Nonadas, diria Guimarães Rosa. De todo modo, as eleições de Lula e Dilma Rousseff me devolveram esperança, porque lhes conhecia o propósito de enfrentar o problema mais agudo, mais gritante, mais daninho: a desigualdade social monstruosa. Donde, o apoio dado a ambos por CartaCapital, clara e responsavelmente, como manda o jornalismo autêntico.
Hoje, minhas andanças pelo País me conduzem pela mão à convicção de que há brasileiros habilitados a entender o empenho de CartaCapital. O compromisso. Daí o redobrar da esperança.
Brasileiros, enfim conscientes da cidadania, decisiva para a democratização do País. Minoria, porém válida e exemplar. Democratização, e ponto.
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