Por Maria Mello, no jornal Brasil de Fato:
Do alto do prédio, escorada em uma parede, a repórter entra ao vivo no
intervalo do jogo para atualizar a situação de confronto na manifestação
que acontece lá embaixo, na rua já praticamente esvaziada. Seu
cameraman tenta aproximar a imagem das pessoas e quase perde o foco.
A cena poderia remeter, à primeira vista, a um possível resguardo dos
profissionais de comunicação em relação à violência policial deflagrada
nos protestos recentes, que não poupou nem jornalistas. Um olhar mais
atento, porém, revela que o temor ali era outro: o de que se tornassem
alvos dos manifestantes.
Por que a marca das grandes emissoras de televisão nos microfones,
coletes e veículos se converteu, tão rapidamente quanto os levantes, em
objeto recorrente de protestos nas manifestações em todo o país?
A evidente "virada" editorial empreendida pela cobertura feita do alto
dos helicópteros das redes de televisão ao longo das últimas semanas
pode ser uma pista da insatisfação da juventude em relação aos meios de
comunicação tradicionais. O que de início fora taxado pelo paladino da
democracia ditada pelos barões da mídia, Arnaldo Jabor, de "burrice
levada a cabo por revoltosos de classe média que não valem 20 centavos"
se tornou, dois dias depois, um "momento histórico lindo e novo".
Transfigurar as variadas pautas populares - em grande medida emanadas
das redes sociais, que se estabelecem como canais de comunicação não
mediada cada vez mais presentes na vida política do país - em clamores
especificamente relacionados aos seus interesses, impondo bandeiras
genéricas e antipartidárias e ditando comportamentos potencialmente
reacionários, tem sido a tônica atual da cobertura da mídia
oligopolizada brasileira.
É frente a este cenário que movimentos sociais de todo o país vêm
promovendo assembleias populares e aulas públicas, nas ruas, para
discutir a cobertura das manifestações e a necessidade de fazer avançar
políticas públicas que contribuam para reverter o quadro de concentração
midiática que obstrui a efetiva liberdade de expressão no Brasil.
Nelas, são discutidos temas como a universalização da banda larga, o
Marco Civil da Internet - Projeto de Lei que garante a liberdade de
expressão e o direito à privacidade do usuário - e o Projeto de Lei da
Mídia Democrática, lançado em maio passado, que pretende ampliar a
liberdade de expressão e promover a diversidade e a pluralidade de
opiniões nos meios de comunicação. O projeto, de iniciativa popular,
traz em 33 artigos propostas para regulamentar o que diz a Constituição
em relação às rádios e televisões brasileiras.
A marca de 1 milhão e trezentas mil assinaturas colocará o texto em
debate no Congresso Nacional. "Vamos levá-lo para as ruas e recolher as
assinaturas necessárias. Se esse projeto não veio de quem tinha de fazer
- o governo brasileiro e o Congresso -, virá da mão do povo", aponta
Rosane Bertotti, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC), entidade que impulsionou a criação do projeto. Os
materiais de divulgação e o kit para coleta de assinaturas podem ser
encontrados em www.paraexpressaraliberdade.org.br.
Além dos debates públicos, também estão sendo agendados em todo o país
protestos em frente às sedes da TV Globo - símbolo máximo da estrutura
midiática concentrada - e de outras empresas representantes da hegemonia
dos conglomerados de mídia nos estados.
Postado há 22 minutes ago por Blog Justiceira de Esquerda
Também do Blog Justiceira de Esquerda.
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