Confesso
que o esforço de determinados políticos, observadores e acadêmicos para
reclamar das condecorações internacionais recebidas por Luiz Inácio
Lula da Silva já passou o limite da boa educação, do bom gosto e até do
ridículo.
Lula recebeu sua mais
nova condecoração há duas semanas em Paris. Até hoje a imprensa continua
publicando textos que procuram convencer o leitor, basicamente, do
seguinte: os pobres intelectuais do mundo desenvolvido são tão
despreparados, tão ignorantes e tão incultos, que não sabem quem é Lula,
nunca ouviram falar das mazelas de seu governo e só por isso insistem
em lhe dar títulos honorários.
Num
artigo publicado no Estadão, hoje, um professor do interior de Minas
Gerais tenta convencer o público que os intelectuais europeus estão
confundindo Lula com a reencarnação do “bom selvagem,” aquele mito da
obra de Jean-Jaques Rousseau.
É
até preconceituoso, quando se recorda que o “bom selvagem” não tinha um
conteúdo de classe social, mas era uma referencia a civilizações
consideradas primitivas pelo pensamento colonial europeu.
É
preciso apostar alto na ignorancia do leitor para imaginar que ele vai
acreditar que os intelectuais dos países desenvolvidos vivem na Idade da
Pedra, sem internet e sem uma imprensa de qualidade, que nos últimos
anos tem feito reportagens extensas e profundas sobre o Brasil.
Posturas deste tipo são apenas mesquinhas e provincianas.
Mesquinhas,
porque envolvem interesses menores e inconfessáveis, frequentemente
eleitorais, apenas disfarçados por um palavrório de tom indignado.
Provincianas,
porque a condecoração de um presidente da Republica por instituições
respeitadas, como a Ecole de Sciencies Politiques, de Paris, que, com
afetada intimidade, alguns comentaristas chamam de Siencies Po, deveria
ser motivo de orgulho para qualquer brasileiro.
Outro
ponto é que o aplauso acadêmico internacional pelas realizações do
governo Lula contém um ensinamento importante para um pais desigual e
hierarquizado, onde a boa educação só é acessível a uma minoria.
Estou
falando de um preconceito antigo e mal disfarçado contra brasileiros e
brasileiras que não puderam frequentar a escola como se deve, na idade
em que seria preciso, não tem o domínio perfeito da língua, não
respeitam normas cultas, cometem erros de concordancia e exibem um
vocabulário muitas vezes limitado.
Com
frequencia, essas pessoas costumam ser tratados como cidadãos de
segunda classe, pré-destinados a ocupações inferiores e que nada devem
fazer além de ganhar a vida em atividades braçais.
Ao
premiar um presidente que teve pouca educação formal, mas foi capaz de
obter um reconhecimento popular como nenhum outro na história recente do
país, as universidades estrangeiras informam que é recomendável
enxergar além do estererótipo.
Talvez
por isso as condecorações irritem tanto a tantos. O reconhecimento é
uma advertencia contra aqueles que valorizam demais os diplomas que
conseguiram pendurar na parede. Não faltam motivos concretos para se
fazer uma crítica política a Lula e a seu governo. Todo cidadão bem
informado tem sua lista de críticas e sua análise.
Mas o esforço para criticar as condecorações internacionais é esforço inglório.
Nem
os brasileiros foram convencidos por estes argumentos, como se viu na
campanha presidencial e também pelas pesquisas de opinião, que sugerem
que Lula está próximo do nível da santificação junto ao eleitorado.
Vencidos em casa, seus adversários querem ganhar a eleição no exterior.
Além de feia, é uma batalha perdida.
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