A Marolinha e os Abutres
Com
20 dias da explosão do Lehman Brothers e da crise instalada de forma
incontrolada nos EUA e ameaçando a Europa, o ex-Presidente Lula de forma
simples definiu o que seria a crise no Brasil: Marolinha. Depois
reafirmou que “o Brasil será o último a entrar em crise e o primeiro a
sair”.
A reação foi desenfreada
para desqualificar o Presidente Lula, quilos e quilos de editoriais,
“especialistas” nos programas de televisão para desmentir o que ele
dizia, nem a humildade de perceber que as palavras ali eram para que o
cidadão comum entendesse a crise e que o Brasil podia enfrentá-lo, nada
foi considerado. Aqui uma pequena amostra do que disseram – a mídia e a
oposição – na melhor fusão de ambos:
“Era
um telhado com goteiras, e o dono da casa tentava pegar a água com
baldinhos. Ontem caiu parte do telhado: a queda de 17,2% da produção
industrial em janeiro, em comparação com janeiro de 2008 — o pior
resultado desde 1991 —, fez cair a ficha de que o país pode ter recessão
em 2009. Há fatos preocupantes. Quem acreditou na tese da “marolinha” tomou decisões que aprofundam a crise agora.
(…)
O governo Lula continua perdido.
Para ele, o que há é uma crise do “neoliberalismo”. O que há é uma
crise econômica, senhores e senhora. Ela é grande e nos atingiu há
meses.
(Miriam Leitão 7/3/2009)
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“O
quixotesco presidente Lula é outro que prefere indicar o caminho de um
otimismo imaginário e enganador a aceitar a realidade. Diante da
intensidade da crise nos últimos 30 dias, a tentativa de reduzi-la ao
tamanho de uma marolinha mostrou-se ridícula. Lula até descreve
direitinho a cadeia de acontecimentos: se o cidadão não compra, as
vendas caem, as empresas reduzem a produção e o trabalhador perde o
emprego. Afinal, é isso que ensinam manuais de economia e é o que está
acontecendo. Só que Lula ignora um detalhe poderoso: quem desencadeia a
perda de vendas, da produção e do emprego não é o cidadão, mas a pior
crise econômica global dos últimos 70 anos. Não serão seus extravagantes
conselhos de consumo que irão derrotá-la.” (O Estado SP – O real e o imaginário na crise 11/01/2009) *Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio
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“A
percepção popular é a de que a população está sendo lograda. A história
da marolinha pegou e as pessoas estão vendo que o Lula as estava
ludibriando”, afirmou Agripino Maia. “Há uma realidade que o
governo não foi capaz de enfrentar, de encarar de frente o risco de uma
crise interna e externa. A opinião pública está sentindo que, na
prática, a crise não está sendo verdadeiramente enfrentada”, disse Sérgio Guerra. (O Estado SP – Para oposição, crise derrubou aprovação ao governo Lula 30/03/2009)
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“Os
brasileiros, portanto, ainda acreditam em Papai Noel e que a crise é só
uma marolinha, enquanto o tsunami devora 1,2 milhão de vagas em três
meses e 533 mil num único mês nos EUA. E está vindo.
Isso demonstra má informação e confiança quase mística em Lula.”
* Eliane Catanhêde (Folha Sp – Bota tsunami nisso! 7/12/2008)
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“O
governo perdeu a chance de preparar o Brasil para a crise. Num aspecto,
estamos piores do que a própria Argentina, que não tem déficit na conta
corrente do balanço de pagamentos nem déficit fiscal.
“A
crise é do Bush, não é minha”. “Aqui, se a crise chegar, vai ser uma
marolinha”. O talento do presidente Lula para se esquivar de
responsabilidades é conhecido. Mas o país depende agora de duas
habilidades que seu governo ainda não mostrou: firmeza e competência
para tomar decisões difíceis e capacidade de negociação transparente e
baseada no interesse nacional.
* Sérgio Guerra,
economista, é senador da República pelo PSDB-PE e presidente nacional
do PSDB. (Folha SP – Uma crise (inter) nacional 14/10/2008)
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“Mesmo
os mais cabeludos já estão carecas de saber que o presidente Lula
exagerou, exageradamente, ao dizer, em outubro passado, que a crise –
“um tsunami lá nos Estados Unidos – chegaria ao Brasil, se chegasse,
como uma “marolinha”. Hoje, Lula é malhado, com razão, sem dó nem
piedade, por gregos e baianos – principalmente os que lhe fazem
oposição.” José Paulo Kupfer, Estadão 17/03/2009)
O
DataFolha foi usado para tentar “provar” que Lula estava errado, que a
declaração sobre marolinha não era aprovada pela população:
“Diminuiu
sensivelmente desde novembro a concordância com a frase do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de que a crise, se chegasse aqui, seria apenas
“uma marolinha”, informa pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta sexta-feira pela Folha.
Segundo
a pesquisa, a porcentagem dos que concordam caiu de 42% para 35%,
enquanto os que discordam aumentaram de 39% para 50%. Mas segue alto o
grau de concordância com outra frase –a de que “o Brasil, se tiver que
passar por um aperto, será muito pequeno”: ele caiu de 53% para 50%.
A
piora da crise econômica mundial fez a aprovação ao governo Lula cair
cinco pontos percentuais –de 70% para 65%. O levantamento revela também
que o percentual de brasileiros que tomaram conhecimento da crise subiu
de 72% para 81%, em relação a última pesquisa divulgado em novembro do
ano passado”. (Folha de S, Paulo 20/03/2009)
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A Virada de LulaComo toda declaração de Lula quase foi massacrado pela mídia e seus acólitos no parlamento. Porém ele jogou todo seu patrimônio político no combate a crise, enfrentou-a de peito aberto, com o significativo pronunciamento no natal de 2008.
Mesmo
com toda torcida contra, Lula jogou todas as suas forças e recursos do
Estado para que o Brasil fosse pouco atingido pelos efeitos da crise,
importante lembrar os coveiros (Miriam Leitão, Sardenberg, PSDB e DEM)
que torciam entusiasmados com a possibilidade de derrotar o governo,
todo dia eles comemoravam um número ruim que saiam, em abril chegaram a
dizer que o desemprego iria explodir em 2009, que a geração de novos
empregos seria nula. No parlamento a ‘“marolinha” era motivo de chacota,
os programas eleitorais do DEM/PSDB/PPS repetiam as piadas sobre a
crise.
Logo em junho a situação
se reverteu, o pior passara, o crescimento seria ZERO, mas o mundo todo
em média seria de -4%, ou seja, estávamos no Lucro. A previsão de
geração de emprego foi de 1 milhão(confirmado com 995 mil novos
empregos).
Para variar Lula foi
reconhecido no exterior pela sua imensa coragem de enfrentar a crise, ao
contrário do governo FHC que sucumbira nas crises: Tigres Asiáticos e
Russa. Lula saiu como o grande vencedor, mas melhor ler o que publicou o
Le Monde no começo de Setembro de 2009:
Ao
prever com ironia um ano atrás que “o tsunami” da crise provocaria em
seu país uma simples “marola”, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula
da Silva, acertou: a recessão só duraria um semestre.
O
produto interno bruto aumentou 1,9% no segundo trimestre de 2009,
depois de ter recuado durante dois trimestres consecutivos: -3,4%
(outubro-dezembro 2008) e -1% (janeiro-março 2009).
Segundo
o ministro da economia, Guido Mantega, o gigante sulamericano deverá
recuperar em 2010 sua velocidade média anterior à crise, em torno de
+4,5%.
Atingido pela
recessão mais tarde que a maioria dos países do mundo, o Brasil também
saiu dela antes, como mostram dois outros índices: a Bolsa de São Paulo
retomou seu alto nível de um ano atrás e a moeda, o real, recuperou toda
sua força frente ao dólar e o euro.
A
rápida recuperação do Brasil mostra como foi acertada a estratégia
adotada pelo governo, com enfoque sobre o apoio do mercado interno.
Reduções de impostos na indústria automobilística e de eletrodomésticos
mantiveram as vendas nesses dois setores industriais cruciais.
O
Banco Central ajudou os bancos em dificuldades, retirando de suas
gordas reservas – US$ 200 bilhões – para irrigar o mercado que havia
secado. Grandes empresas, como a gigante mineradora Vale, ficaram com
medo, congelando seus investimentos, o que é criticado pelo presidente
Lula hoje. Mas a confiança dos consumidores não foi abalada: “A economia
sobreviveu graças aos mais pobres”, ressalta Lula.
Lula
passou a ser visto no mundo como o “CARA” nas palavras de Obama, sua
rapidez de agir, firmeza e principalmente a confiança de que só nós
podíamos vencer a crise convenceu a população de que era possível.
Jamais, em tempo algum, aqueles acima citados fizeram ou farão mea-culpa
do que escreveram e falaram, mas eles passarão para história apenas
como ideólogos do caos, do sentimento de vira-latas que assolou por
longos anos o Brasil.
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