Duas
semanas depois de ficar sabendo que está com câncer na laringe, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra seu estado de ânimo ao
falar dos planos para o futuro:
"Quero
estar forte em 2014 para ajudar a reeleger a Dilma"", contou em meio a
uma conversa de mais de duas horas na tarde deste sábado, na sala do seu
apartamento, no centro de São Bernardo do Campo, o mesmo onde morava
antes de ser eleito presidente da República.
Lula
só não se conforma de não conseguir comer seus pratos prediletos. Tinha
pedido uma feijoada para o almoço, cortou tudo em pedaços pequenos, mas
não conseguiu comer. O tratamento de quimioterapia provoca-lhe enjôos e
o fez perder o sabor dos alimentos.
"Gostaria
de entrar num freezer e só sair quando terminar essa quimioterapia...",
brincou ele, ao relatar suas dificuldades com a nova rotina imposta
pela doença, sem perder o bom humor.
Fora
isso, Lula percebeu que já começou a perder cabelos no alto da cabeça e
está conformado com a idéia de que também ficará sem a barba que
cultiva desde o final dos anos 1970.
A
voz já voltou ao normal e ele está com muita vontade de falar,
principalmente do cenário político para as eleições de 2012. Lula até já
gravou, na última sexta-feira, sua participação no programa do PT que
irá ao ar em dezembro.
Seu objetivo imediato é convencer o PMDB a repetir em São Paulo a aliança que elegeu Dilma no ano passado.
Ao
lado da mulher, Marisa, o ex-presidente lembra que nunca ficou tanto
tempo sem sair de casa. Tinha várias viagens ao exterior marcadas até o
final do ano, mas teve que cancelar tudo até fevereiro.
Daqui
a dez dias, ele inicia a segunda sessão de quimioterapia, um tratamento
penoso que o deixa com um gosto ruim na boca. "A Dilma me falou que
isso passa rápido. São só três sessões. Quer dizer, um terço já
passou...".
No final da tarde, o
casal Silva recebeu a visita do casal Luiz Marinho, velhos amigos e
vizinhos de chácara na represa Billings. A "vó" Marília, sogra de Marisa
no seu primeiro casamento, que vive com a família, preparou o café.
Sandro, o filho do meio dos dois, deu plantão junto ao telefone que não
parava de tocar.
Fiquei feliz de
reencontrar Lula com a mesma disposição de sempre, elevando o tom de voz
para convencer os outros de que seus argumentos estão certos, em
especial quando se queixa do noticiário da imprensa, uma discussão que a
gente sempre tinha nos primeiros anos de governo.
A
queixa é a mesma: a imprensa só se interessa em dar notícias ruins, não
mostra o que acontece de bom no país. Para provar, pega o relatório que
recebeu esta semana sobre o programa "Luz para todos", um dos orgulhos
do seu governo, que superou a marca de 3 milhões de famílias atendidas.
Quando
as visitas já estavam se despedindo, chegou a filha Lurian com dois dos
netos de Lula. Dali a pouco era hora de jantar, tentar comer alguma
coisa além de carne moída, arroz e ovo frito. O velho Lula continua de
bem com a vida, apesar de tudo.
Vida que segue.
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