Não
se trata mais de hipótese: os falcões americanos e o governo britânico
estão dispostos a apoiar ação militar de Israel contra o Irã, embora
grande parte da opinião pública israelita advirta que essa aventura é
arriscada. Aviões militares de Israel fazem manobras no Mediterrâneo e
já se fala no emprego de mísseis de alcance médio contra o suposto
inimigo. Seus líderes da extrema-direita, entre eles religiosos
radicais, estimulam os cidadãos, com o argumento de que se trata de uma
luta de vida ou morte.
Toda cautela é pouca na avaliação política da questão de
Israel. Em primeiro lugar há que se separar o povo judaico do sionismo e
do Estado de Israel - que parece condenado a sempre fazer guerra. Como
disse um de seus grandes pensadores, se todos os estados possuem um
exército, em Israel é o exército que possui o estado. É explicável que,
com sua história atribulada e as perseguições sofridas, sobretudo no
século 20, sob a brutalidade nazista, os judeus se encontrem na
defensiva. Isso, no entanto, não autoriza a insânia de sua política
agressiva contra os palestinos em particular, e contra os muçulmanos, em
geral.
A política belicista de Israel, alimentada pelos
fundamentalistas, e estimulada pelos interesses norte-americanos, tem
impedido a paz na região. Os palestinos são tão semitas quanto os
judeus, embora muitos dos judeus procedentes da Europa não sejam
semitas em sua origem étnica, posto que convertidos a partir do século
VIII. Os dois povos poderiam viver em paz, se o processo de ocupação da
Palestina pelos judeus europeus tivesse seguido outra orientação. Mas o
passado não pode ser mudado. Sendo assim, é tempo para o entendimento
entre os dois povos – mas para parcelas das elites de Israel e seus
patrocinadores americanos, a guerra é um excelente negócio. Sem a
guerra, a receita de Israel – um território pobre de petróleo, tão
próximo das mais pejadas jazidas do mundo – seria insuficiente para
manter seu poderoso e bem remunerado exército e suas elites dirigentes,
contra as quais começam a mover-se também os indignados, e com razão.
Israel nasceu sob o ideal de um sistema socialista baseado na
solidariedade dos kibbutzim, mas hoje não se distingue mais dos países
capitalistas. Os ensandecidos partidários da ação militar contra Teerã
talvez imaginem que essa iniciativa tolha o reconhecimento do Estado da
Palestina pela ONU, mas deixam de atentar para os grandes riscos da
operação, apontados pelos judeus de bom senso. Em primeiro lugar há uma
questão ética em jogo, que o mundo já medita há muito tempo: por que
Israel pôde desenvolver as suas armas nucleares, e os outros países da
região não podem investigar o aproveitamento do conhecimento nuclear
para fins pacíficos? Em visão mais radical, mas nem por isso contrária à
ética: porque Israel dispõe de 200 ogivas nucleares e os outros países
não podem dispor de armas atômicas? O que os faz tão diferentes dos
outros? Se o Estado de Israel se sente ameaçado pelos vizinhos, os
vizinhos também têm suas razões para se sentirem ameaçados por Israel.
Façamos um rápido exercício lógico sobre as conseqüências de um ataque aéreo – que já não se trata de hipótese, mas de timing
– de Israel às instalações nucleares do Irã. Como irão reagir a Rússia e
a China e, antes das duas grandes potências, o que fará a Turquia? A
Grã Bretanha, segundo informou ontem The Guardian, já está
estudando participar de uma expedição contra o Irã e só o governo dos
Estados Unidos – exceto alguns falcões - está relutante. Haveria,
assim, uma aliança inicial entre Sarkozy, Cameron e Netanyahu contra o
Irã. Talvez os europeus e os próprios norte-americanos vejam nesse
movimento uma forma de superar o acelerado descontentamento de seus
povos contra a submissão dos estados aos banqueiros larápios. O encontro
de um bode expiatório, como parece a propósito a antiga Pérsia, poderia
ser uma forma de buscar a unidade interna de ingleses, franceses,
norte-americanos – e judeus. É ingenuidade imaginar que o provável
ataque se concentrará nas instalações de pesquisa nuclear. Uma vez
iniciada a agressão, ela não se limitará a nada, e se repetirá o
holocausto da Líbia, com seus milhares de mortos e feridos, em nome dos
“direitos humanos” dos ricos.
O mapa geopolítico de hoje é um pouco diferente do que era em
1948 e 1967, quando se criou o Estado de Israel e quando ele se ampliou
para além das fronteiras estabelecidas pela comunidade internacional.
É assustador pensar em uma Terceira Guerra
Mundial, com novos atores em cena, entre eles possuidores das armas
apocalípticas, como a China, o Paquistão e a Índia. Diante da insanidade
de certos chefes de Estado de nosso tempo, é uma terrível probabilidade
– e com todas as conseqüências impensáveis.
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