Em uma
reporcagem de seis minutos e meio, a Rede Globo, através de seu
principal telejornal, mostrou mais uma vez com clareza de que lado da
sociedade está.
Nunca esteve nem nunca estará ao lado dos oprimidos, dos contestadores, nunca estará ao lado da mudança.
Está
ao lado dos opressores, das elites, da alienação e da conservação
reacionária. Nesta terça-feira esteve ao lado de uma polícia
militarizada, herdada da Ditadura Militar, e esteve contra os estudantes
que protestavam contra a truculência dessa polícia.
A reporcagem
narra o caso em que a USP foi ocupada pela Polícia Militar e estudantes
saíram presos de sua universidade. É o mundo ao avesso, que tanto
agrada a esse setor da mídia.
A
narração, obviamente, também foi ao avesso: “A Polícia Militar retirou
os estudantes que haviam invadido (…), começou Fátima Bernardes, antes
de chamar a reportagem de José Roberto Burnier.
A
matéria que foi ao ar é uma típica reportagem de guerra. Não poderia
deixar de ser assim, se lembrarmos que a PM, altamente militarizada,
treinada pela ditadura brasileira, vê sua ação como o simples confronto
com o inimigo. Não há, ali, função efetiva de proteção social, mas de
ataque.
Burnier, tal qual
correspondente de guerra, vai caminhando e falando, escondido atrás dos
policiais, como se os estudantes estivessem prontos a abrir fogo. Em
nenhum momento ele se põe ao lado dos estudantes, nunca narra a história
pela visão deles.
Quando a
polícia invade a universidade, Burnier e seu cinegrafista ficam para
trás, e as imagens veiculadas são, então, as cedidas pela PM. “A polícia
diz que” é o mote geral.
“A
manifestação começou quando a polícia prendeu três estudantes com
maconha no fim do mês passado”, diz o repórter, esvaziando o debate que
se deu com tanta intensidade na última semana. O protesto inicial e a
ocupação não se deram em defesa do uso de maconha no campus, mas contra a
truculência policial.
A tese da maconha como motivação fundamental das manifestações é reforçada em mais dois momentos.
Primeiro,
uma imagem mostra um estudante fumando. Em seguida, já com os
estudantes presos e levados em um ônibus para a delegacia, um deles
explica a preferência por permanecer no ônibus, e o único trecho
veiculado, sem qualquer necessidade, é “aqui a gente conversa com vocês,
aqui a gente pode fumar o nosso cigarro”.
Nesse
momento já era outro repórter, Alan Severiano, quem conduzia a matéria,
direto da delegacia para onde foram levados os “criminosos”. Quando
Alan está falando para a câmera, vê-se ao fundo um estudante balançando
um livro vermelho. Esse mesmo livro fora retirado da bolsa e exibido por
outro rapaz, no momento da prisão.
Naquele
momento, o texto da matéria dizia: “Na saída (da USP), um último
protesto”. E acabava por aí. Em nenhum dos dois casos houve a
preocupação em esclarecer que protesto era aquele, que livro era aquele.
Depois da mentira sobre as razões do protesto, agora a omissão.
Mas
houve ainda tempo para mais silêncios de quem deveria informar. Antes
de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, líder do PSDB e integrante
da Opus Dei, dar a mais longa declaração de toda a reportagem (20
segundos), o Jornal Nacional editou para dez segundos a leitura de uma
nota dos estudantes presos.
Também
foi de dez segundos o tempo para a vazia resposta do major da PM. A
edição mostrou o seguinte trecho da nota: Resistimos e nos obrigaram a
entrar em salas escuras, agrediram estudantes. Levaram uma das
estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta minutos.
O
trecho completo, ocultado pela Globo, retirado da nota publicada na
íntegra no site da revista Caros Amigos: Resistimos e nos obrigaram a
entrar em salas escuras, agrediram estudantes, filmaram e fotografaram
nossos rostos (homens sem farda nem identificação). Levaram todas as
mulheres (24) para uma sala fechada, obrigando-as a sentarem no chão e
ficarem rodeadas por policiais homens com cacetetes nas mãos. Levaram
uma das estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta
minutos, levando-nos ao desespero ao ouvir gritos como o das torturas
que ainda seguem impunes em nosso país. Tudo isso demonstra o verdadeiro
caráter e o papel do convênio entre a USP e a polícia militar.
A reporcagem do Jornal Nacional:
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