Fundação ligada aos tucanos mineiros não teme processo no CNJ e espera aumentar arrecadação
A denúncia de um esquema milionário de distribuição de recursos públicos
da área de Comunicação Social dos principais tribunais de Justiça do
país para a Fundação Renato Azeredo (FRA), dirigida por tucanos
graduados, não atrapalhou os planos da instituição de seguir em frente
com as suas perspectivas de faturamento para os próximos anos. O fato de
responder a um processo no Ministério Público do Estado de Minas Gerais
(MPMG) e correr o risco de ser investigada no Conselho Nacional de
Justiça – um de seus clientes mais discretos – não preocupa o gestor da
instituição, Antonio Carlos Braga.
– Quem está dizendo que haverá um processo são vocês – disse o executivo, em entrevista ao Correio do Brasil.
Alvo de uma denúncia da revista Carta Capital, na edição desta
semana, a FRA prefere não revelar seu faturamento, embora a reportagem,
assinada pelo jornalista Leandro Fortes, aponte o repasse de recursos
públicos na casa dos 10 dígitos, nestes últimos anos. Embora o volume de
dinheiro faturado seja de domínio público, Braga desconversa na hora de
dizer o quanto a instituição arrecadou em 2011.
O Conselho Nacional de Justiça, que ainda não recebeu a documentação
referente ao inquérito a que responde no MP mineiro, pagou à FRA, nos
últimos 18 meses, um total contratado que supera a casa dos R$ 5
milhões, quantia justificada com a filmagem das sessões do Plenário,
entre outros serviços prestados a esta instância do Judiciário. Segundo
informou a assessoria de Comunicação Social, a casa não dispõe “de
material e de pessoal para essa tarefa”, explica a chefe do setor, Maisa
Moura. A maior parte dos gastos da FRA, ainda de acordo com o seu
administrador, “destina-se ao pagamento de salários” para mais de 600
empregados, terceirizados de acordo com os contratos fechados com os
clientes. Estes são, na grande maioria, entes públicos para os quais a
admissão de funcionários deveria ocorrer por concurso.
A FRA não esconde apenas o quanto faturou no Erário. A lista de clientes
também não é atualizada desde maio de 2009, fato que Braga alega
desconhecer. Nos dez anos anteriores à última aferição das instituições
que mantêm em dia os salários de seus empregados, a Fundação
lista, entre outros contratantes, a Petrobras, os ministérios da Saúde e
da Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e a Fundação Banco do Brasil. O CNJ, o STF e o TSE, porém, não
constam dessa lista, embora, juntos, sejam responsáveis por repasses
superiores a R$ 30 milhões nos últimos anos.
Em sua defesa, a FRA divulgou nota, nesta sexta-feira, na qual afirma
não ter se afastado “de sua missão institucional”, que seria de apoio à
Universidade do Estado de Minas Gerais. “Desde o seu nascimento até a
presente data, a Fundação contribui de maneira decisiva para o
fortalecimento e para o crescimento da UEMG. As atividades de difusão do
conhecimento e da cultura, via rádio e TV, são atividades que também
contam dos objetivos estatutários da FRA”, diz a nota.
“O nome completo da fundação é Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e o fato de ter sido
feita, quando do nascimento da FRA, em 25 de abril de 1996, em homenagem
ao falecido deputado federal Renato Azeredo, colocando seu nome na
abreviatura do nome da Fundação, não implica em nenhum tipo de ligação
familiar ou partidária da Fundação. Não constam dos quadros da Fundação
nenhum dos familiares do falecido deputado Renato Azeredo, nem mesmo o
seu filho, o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG)”, continua o
documento.
Para encerrar a nota, preparada pela assessoria de imprensa da FRA e
lida por Braga, vírgula por vírgula, com a palavra “Fundação” citada
nove vezes em apenas três parágrafos, “a Fundação participou e participa
de diversas licitações, concorrências e que tais, tanto de órgãos
públicos quanto de instituições privadas. Em todos os casos que saiu
vencedora do certame foi devido à sua grande expertise, melhor técnica e
melhor preço”. Na citada expertise consta a “notória especialização”,
fator que rendeu à FRA boa parte dos mais de R$ 50 milhões faturados nos
“que tais”, ou seja, sem passar por qualquer crivo na concorrência de
mercado.
Nestes últimos 24 meses, de acordo com as contas apuradas por Leandro
Fortes, a fundação se consolidou como um “eficiente sorvedouro de
dinheiro público, comandado pelo PSDB”. Braga nega o caráter partidário
da instituição que dirige, mas teve que admitir o fato de seu patrão, o
presidente da FRA, Aluísio Pimenta, ser homem de confiança do então
governador, e hoje senador tucano, Aécio Neves (PSDB-MG).
Renato Parente, personagem-chave na matéria de Carta Capital,
que figura na reportagem como uma espécie de elo de ligação entre a FRA e
seus clientes na área do Judiciário, negou qualquer vínculo com a
Fundação, embora admita conhecer os dirigentes da instituição que
conseguiu ampliar em mais alguns milhões de reais o seu faturamento nas
instâncias por onde ele passou, entre elas o Superior Tribunal Federal e
o Tribunal Superior Eleitoral. Parente, no entanto, afasta qualquer
ingerência dele na contratação desses serviços, alegando que os
contratos foram obtidos com lapsos de tempo entre um e dois anos e meio,
respectivamente, para cada tribunal.
– Sou um funcionário público com 22 anos de serviços prestados ao meu
país – diz ele, em alusão à denúncia contida na reportagem da revista,
segundo a qual Parente “passou os últimos 20 anos ocupando ilegalmente
cargos comissionados no Poder Judiciário de posse de um currículo falso,
no qual afirmava possuir um diploma de curso superior que nunca teve”. O
fato de não ter obtido uma graduação universitária, conforme explica,
não o impediu “por lei”, de assumir os cargos ocupados. No organograma
do TST, porém, ele ainda consta como “secretário de Comunicação Social”,
função para a qual se exige o diploma de curso superior. Parente
atribui a informação a “um erro da área de Tecnologia” do Tribunal, por
não ocupar mais o cargo, atualmente exercido pelo jornalista Alexandre
Gomes Machado.
Ao longo de mais de duas décadas de carreira, mesmo sem diploma, Parente assume uma parcela de responsabilidade pela criação da TV Justiça,
um canal para o qual a Fundação Renato Azeredo sempre prestou
significativos e bem remunerados serviços na última década.Correio do
Brasil
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