Mair Pena Neto, Direto da Redação
“Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio
de Janeiro, o gerente de imprensa do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, Kevin
Neuendorf, escreveu em um quadro negro, numa sala do Riocentro, a frase
“Bem-vindo ao Congo”. A brincadeirinha desrespeitosa o levou de volta aos
Estados Unidos antes mesmo que a competição começasse. Neuendorf era peixe
pequeno, e o próprio comitê norte-americano o puniu. Agora, o secretário-geral
da Fifa, Jêrome Valcke, elevou o tom da grosseria e disse que o Brasil
precisava de “um chute no traseiro” para acelerar os preparativos para a Copa
do Mundo de 2014. Valcke é peixe grande, um predador, e tirá-lo da jogada não é
tão fácil assim.
Em primeiro lugar, os dois comentários se
assemelham na prepotência e no julgamento de que lidam com antigos quintais,
dos quais podiam por e dispor. A reação do governo brasileiro, no caso de
Valcke, foi apropriada para reforçar a soberania do país e colocar o dirigente
esportivo em seu devido lugar. A afirmação do governo brasileiro de que
não aceitava mais o secretário-geral da Fifa como interlocutor para a Copa de
2014 levou a pedidos de desculpas da Fifa e do próprio Valcke, mas a posição
deveria ser mantida (enquanto escrevo essa questão não está definida) em nome
da honra do país e como medida profilática contra o comportamento imperialista
da entidade máxima do futebol.
O episódio que se vive agora é consequência
da negociação com um grupo organizado que assumiu o controle da Fifa desde os
tempos de João Havelange. E nesse esquema, Jêrome Valcke conquistou seu espaço
à base de chantagens. O jornalista inglês Andrew Jennings, que investiga os
meandros da Fifa há uma década e já escreveu dois livros sobre o funcionamento
do comando do esporte no mundo, contou à Comissão de Educação, Cultura e
Esporte do Senado que no começo de 2001, Valcke trabalhou para uma companhia
francesa que esperava comprar os ativos da falida empresa de marketing ISL, que
cuidou dos negócios da Fifa, desde o início da era Havelange, em 1974 (ver
coluna “Por um novo nome para o Engenhão, de 8/12/2011). Nessa operação, sua
equipe examinou os livros da ISL e descobriu propinas “secretas e polpudas”
pagas a autoridades da Fifa.
De posse dessas informações preciosas,
Valcke as usou em benefício próprio para renegociar contratos com a Fifa. Dá
para imaginar os argumentos que utilizou, diante de uma carta de resposta que
recebeu do presidente da entidade, Joseph Blatter, afirmando que a posição da
Fifa não seria alterada por “qualquer ameaça ou tentativa de chantagem”. Mas
Blatter já estava nas mãos de Valcke e os arroubos foram apenas para inglês
ver. Dois anos depois, o presidente da Fifa contratou o chantagista como
diretor de marketing da entidade.”
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