Mesmo depois da crise de 2009, quando
descobriu-se que atos secretos nomeavam parentes e
funcionários-fantasmas em seus gabinetes, senadores não perderam o
hábito do empreguismo. Pelo contrário. Usam a estrutura da Casa para
acomodar profissionais com atividades particulares, mas que recebem
dinheiro público - ou que respondem a processos por mau uso de recursos
do contribuinte. Levantamento realizado pelo Globo com base no Quadro de
Servidores Efetivos e Comissionados demonstra que dos 81 senadores,
pelo menos 25 (30%) abrigam em seus escritórios em Brasília ou nos
estados desde estudantes que moram fora do Brasil, até médicos e
advogados que passam o dia entre clínicas e tribunais. Há também casos
de aliados que enfrentam denúncias do Ministério Público ou até mesmo
foram cassados por compra de votos.
O presidente do DEM, Agripino
Maia (RN), pagava até semana passada mais de R$ 4 mil mensais em seu
escritório político no Rio Grande do Norte para uma servidora fantasma.
Estudante de Medicina, em vez de trabalhar para o senador em Natal, ela foi fazer um estágio, em agosto de 2011, na Espanha.
Gleika de Araújo Maia é sobrinha
do deputado João Maia (PR-RN) e do ex-diretor-geral do Senado, Agaciel
Maia, demitido por manter escondidos os atos de nomeações e benefícios
de pessoas protegidas pelos senadores. Depois de procurado pelo GLOBO, o
senador demitiu a funcionária.
No Rio Grande do Norte, o
senador Paulo Davim (PV) paga R$ 8,1 mil para a cardiologista Carla
Karini de Andrade Costa, sua sócia em uma clínica no estado.
"Tudo é tolerado até que vire escândalo"
O senador Ivo Cassol (PP-RO)
patrocina uma ilegalidade. O jornalista Francisco Sued de Brito Pinheiro
Filho, nomeado como assistente parlamentar em 1 de dezembro do ano
passado, ganhou outro cargo público, na Assembleia Legislativa de
Rondônia. Em 1 de fevereiro deste ano, ele foi nomeado para trabalhar no
gabinete da presidência da Assembleia. Embora o acúmulo de função
pública seja proibido por lei, Sued continua a receber pelo Senado e
pela Assembleia. A assessoria do senador disse, há 10 dias, que Cassol
já havia identificado o problema e mandara demitir o funcionário. No
entanto, até sexta-feira ele continuava como servidor federal, de acordo
com o Quadro de Servidores Efetivos e Comissionados do Senado.
Cassol emprega Carlos Alberto
Canosa, seu ex-secretário de Assuntos Estratégicos quando foi governador
de Rondônia. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) pediu abertura de
investigação contra Canosa por irregularidades em contrato de R$ 15
milhões para publicidade do governo.
Presidente da Confederação
Nacional da Agricultura (CNA), a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) mantém
entre seus funcionários Sani Jair Garay Naiamayer. Em dezembro de 2008, a
Justiça do Trabalho anulou uma sentença em que o filho de Sani, Cláudio
Márcio Almeida Naimaier, havia ganho direitos trabalhistas em uma ação
indenizatória contra o pai. O Ministério Público do Trabalho comprovou
que a ação foi fraudulenta porque a fazenda Nova Querência, de Sani,
sofria duas execuções financeiras da Fazenda Pública do Tocantins, além
de duas hipotecas em favor do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
A senadora emprega Abdon Mendes
Ferreira, condenado pelo TCE a devolver R$ 123 mil aos cofres públicos
de Crixás por gasto irregular com alimentação, hospedagem e obras.
Cientista político da
Universidade de Brasília, Ricardo Caldas disse que a presença de
fantasmas e condenados por desvio de dinheiro público faz parte da
cultura política do país, que ainda se pauta pela troca de favores.
- Ou você acredita que o senador
não está retribuindo um favor? O sistema tende a acobertar até mesmo
delitos de outros políticos. Tudo é tolerado até que vire escândalo.
Tudo pode ser feito, se não for divulgado.-Informações do Globo
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