A adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul consolida no
coração da América Latina uma referência de recorte progressista sem
precedentes na região
Na contraofensiva do conservadorismo abjeto que tem dado ultimamente seu
show de horror ao próximo perante o mundo inteiro (vide o deputado
conservador britânico que classificou a abertura dos Jogos Olímpicos
como uma “cerimônia esquerdista e lixo multicultural”. Com uma
Inglaterra orgulhosa do que viu na abertura, o primeiro-ministro David
Cameron procurou se afastar de seu colega conservador. No plano
político, bandeiras de Taiwan e da Coréia do Sul provocaram conflitos
diplomáticos. A Olimpíada de 2012 e seus conflitos de bandeiras provaram
mais uma vez, parafraseando Von Clausewitz, que o esporte é, como a
guerra, a “política por outros meios”), a cúpula do Mercosul dá boas
vindas à Venezuela de Hugo Chávez.
No exercício da presidência do Mercosul até dezembro deste ano, o Brasil
coordenou a cúpula extraordinária do bloco nesta terça-feira (31),
celebrando a entrada de seu quinto membro, a Venezuela. “Estamos
conscientes de que o Mercosul inicia uma nova etapa”, disse Dilma
Rousseff, que considerou o significado histórico da entrada venezuelana
por marcar a primeira ampliação do bloco desde a sua criação em 1991,
estendendo-o da Patagônia até o Caribe, além de incrementar sua
economia: “Considerando os quatro países mais ricos do mundo, EUA,
China, Alemanha e Japão, o Mercosul somado é a 5° força”, destacou
Dilma.
A propósito, nos chamou a atenção um editorial da agência Carta Maior,
assinado por Saul Leblon. Com o título sugestivo “Enfrentamentos reais e
miragens conservadoras”, ele observa que a adesão da Venezuela como
membro pleno do Mercosul consolida no coração da América Latina uma
referência de recorte progressista sem precedentes na região, em razão
da abrangência institucional e o fôlego econômico intrínseco ao bloco
agora liderado por Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Pepe Mujica e
Chávez.
Leblon comenta que se a Cuba dos anos 60 exerceu um magnetismo
ideológico superior ao desse quarteto, seu ardor não se traduziu numa
organização duradoura com o alcance que o Mercosul possui e deve ampliar
graças à incorporação do detentor da maior reserva de petróleo cru do
mundo (a Venezuela tem 296,5 bilhões de barris, seguida da Arábia
Saudita, com 264,5 bilhões de barris).
Trata-se de mais um confronto no qual os interesses conservadores,
refletidos no bombardeio midiático contrário a essa inclusão, foram
habilmente vencidos. Não é um revés em torno de uma questão bizantina
menor. Os que hoje, como há uma década, protestam contra a presença
venezuelana, são os mesmos que, paralelamente, defenderam a ALCA como
alternativa a uma inserção global do continente assumidamente
subordinada e dependente aos EUA. Felizmente, foram derrotados.
Há pouco, no golpe contra Lugo, enfatizado com a suspensão dos golpistas
no âmbito do Mercosul, o jornal ‘Estadão’ destilou a nostalgia da velha
agenda. Em editorial, aconselhou a direita paraguaia a responder à
punição jogando-se nos braços dos EUA, de modo a consumar, pelo menos,
mais uma mini-Alca regional, na expressão do embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães.
E conclui Leblon, em seu melhor estilo barroco-belicoso: “A opção de
desenvolvimento regional integrado e soberano, reafirmada pela Cúpula de
Brasília do Mercosul, insere-se assim numa espiral de enfrentamentos em
que o guarda-chuva maior do conservadorismo verga sob o peso da
dissolução da ordem neoliberal. É nessa esquina de derrotas históricas
apreciáveis que a seção brasileira perfila armas e concentra tropas para
fazer do julgamento do chamado mensalão uma espécie de 3º turno
simbólico de sua anemia política”.
O fato é que o conservadorismo aferra-se a batalhas do passado na
esperança de apagar do imaginário social a percepção de que seus
interesses e credo são parte de um mundo que irá ruir muito em breve no
futuro. Estrondosamente.
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