Ontem os portais destacavam com excessivo cuidado que o helicóptero de
um deputado havia sido apreendido com 450 kg de cocaína. Depois
informaram que o piloto havia viajado sem autorização dos proprietários.
E agora, registram que o piloto nega o fato.
Deputado e 450 quilos de cocaína. Será esse um fato tão comum que não
merece tanto destaque? Principalmente se vier a se levar em
consideração que este deputado é filho de um senador aliadíssimo de um
candidato a presidente da República?
Estamos falando dos Perrellas e do presidente do PSDB, Aécio Neves. Aliados políticos históricos.
Mas vamos lá. Vamos imaginar que um dos filhos de Marta Suplicy fosse
deputado. E um helicóptero dele fosse apreendido pela PF com 450 quilos
de cocaína. Você acha que este fato teria a mesma cobertura discreta e
cuidadosa que o dos Perrellas está tendo? Você acha que o Uol daria
apenas registros aqui e ali do caso? Ou acha que a casa da atual
ministra teria filas de repórteres tentando pular o muro para falar com
ela?
Talvez o exemplo não seja o melhor. Tentemos, pois, outro exercício
hipotético. Imagine que ao invés do helicóptero do filho de Marta
Suplicy fosse o de um irmão do senador carioca Lindbergh. O que você
acha que aconteceria? Quantos minutos isso renderia no Jornal Nacional?
Quantas páginas do jornal O Globo?
Mas podemos ir ainda mais longe. Imagine que o helicóptero fosse de
alguém que tivesse relação com o ex-presidente Lula. Alguém, por
exemplo, que tivesse feito churrasco na casa dele uma ou outra vez. O
que será que aconteceria com Lula e com o suposto churrasqueiro de
Lula?
Como você acha que seria a cobertura dessa história se o avião fosse do
Zeca Dirceu, deputado pelo Paraná e filho de José Dirceu? Ou de um
filho do vereador Donato, que ontem voltou à Câmara para enfrentar do
legislativo a quadrilha do ISS? Ou se fosse da Miruna, filha de José
Genoíno?
Não se deve responsabilizar os Perrellas, Aécio ou quem quer que seja
sem que seja realizada uma investigação cuidadosa. E não é disso que se
trata aqui. Há, porém, indícios, que ensejam uma cobertura bem mais
atenta do que a que foi feita até agora pelos principais veículos da
mídia tradicional. São 450 quilos de cocaína. Não são meia dúzia de
sacolinhas. É coisa de uma quadrilha extremamente profissional. E essa
imensa quantidade de droga era transportada num helicóptero de uma
família tradicional da política mineira.
A questão é que a cobertura midiática só tem se interessado por aquilo
que leve à criminalização do PT. Independente do mérito. O que importa
não é mais o crime, mas a legenda do criminoso. E por isso Demóstenes
Torres flanava todo pimpão por aí. Fazendo discursos moralistas e ao
mesmo tempo armando falcatruas com Cachoeira.
Aliás, você ouviu falar de Cachoeira e Demóstenes por aí? Você viu a
indignação da direção do PSDB com a investigação do escândalo do metrô
de SP? Pois é. É disso que se trata. Eles sabem que são midiaticamente
impunes.
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