Presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, acusou o jornalista Ricardo
Noblat por crimes de injúria, difamação e preconceito racial, em
representação enviada ao MPF. segundo o ministro, Noblat atacou sua
honra e praticou o crime de racismo num texto publicado em seu blog e no
jornal "O Globo" em agosto do ano passado; o MPF concordou com Barbosa e
enviou à Justiça Federal do Rio de Janeiro, na quarta-feira (19), uma
denúncia criminal contra o jornalista
20 DE MARÇO DE 2014
247 - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,
acusou o jornalista Ricardo Noblat por crimes de injúria, difamação e
preconceito racial, em representação enviada ao Ministério Público
Federal. Segundo o ministro, Noblat atacou sua honra e praticou o crime
de racismo num texto publicado em seu blog e no jornal "O Globo" em
agosto do ano passado. O MPF concordou com Barbosa e enviou à Justiça
Federal do Rio de Janeiro, na quarta-feira (19), uma denúncia criminal
contra o jornalista. No processo, o MPF pede que Noblat seja condenado
por crimes contra a honra do ministro e pelo delito racial. Somadas, as
penas podem chegar a 10 anos e 4 meses de prisão.
O texto de Noblat foi publicado em 19 de agosto, quatro dias depois de
Barbosa protagonizar um bate-boca com o ministro Ricardo Lewandowski,
durante o julgamento de recursos do processo do mensalão. Na ocasião,
Barbosa acusou Lewandowski de estar fazendo chicanas no mensalão –o que,
no jargão jurídico, significa uma manobra para atrapalhar o andamento
de processos.
Em seu texto, intitulado "Quem o ministro Joaquim Barbosa pensa que é?",
Noblat diz que o presidente do STF, devido a seu cargo e às suas
decisões no processo do mensalão, não tem o direito "tratar mal seus
semelhantes, a debochar deles" e a "humilhá-los". Além disso, cita que
"para entender melhor Joaquim" é preciso acrescentar "a sua cor". "Há
negros que padecem do complexo de inferioridade. Outros assumem uma
postura radicalmente oposta para enfrentar a discriminação", diz trecho
do texto.
Noblat também destacou que Barbosa não teria sido escolhido ministro do
STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas por seus
conhecimentos jurídicos, mas por sua "cor". "Joaquim foi descoberto por
um caça-talentos de Lula, incumbido de caçar um jurista talentoso e...
negro", escreveu o jornalista. Devido a isso, o MPF entendeu que, além
de difamar e injuriar especificamente Barbosa, Noblat praticou um crime
contra toda a raça negra.
Abaixo o texto de Noblat na íntegra:
Joaquim Barbosa: Fora do eixo, por Ricardo Noblat
Quem o ministro Joaquim Barbosa pensa que é?
Que poderes acredita dispor só por estar sentado na cadeira de presidente do Supremo Tribunal Federal?
Imagina que o país lhe será grato para sempre pelo modo como procedeu no Caso do Mensalão?
Ora, se foi honesto e agiu orientado unicamente por sua consciência,
nada mais fez do que deveria. A maioria dos brasileiros o admira por
isso. Mas é só, ministro.
Em geral, admiração costuma ser um sentimento de vida curta. Apaga-se com a passagem do tempo.
Mas enquanto sobrevive não autoriza ninguém a tratar mal seus
semelhantes, a debochar deles, a humilhá-los, a agir como se a efêmera
superioridade que o cargo lhe confere não fosse de fato efêmera. E não
decorresse tão somente do cargo que se ocupa por obra e graça do sistema
de revezamento.
Joaquim preside a mais alta corte de justiça do país porque chegara sua
hora de presidi-la. Porque antes dele outros dos atuais ministros a
presidiram. E porque depois dele outros tantos a presidirão.
O mandato é de dois anos. No momento em que uma estrela do mundo
jurídico é nomeada ministro de tribunal superior, passa a ter suas
virtudes e conhecimentos exaltados para muito além da conta. Ou do
razoável.
Compreensível, pois não.
Quem podendo se aproximar de um juiz e conquistar-lhe a simpatia, prefere se distanciar dele?
Por mais inocente que seja quem não receia ser alvo um dia de uma falsa
acusação? Ao fim e ao cabo, quem não teme o que emana da autoridade da
toga?
Joaquim faz questão de exercê-la na fronteira do autoritarismo. E por
causa disso, vez por outra derrapa e ultrapassa a fronteira, provocando
barulho.
Não é uma questão de maus modos. Ou da educação que o berço lhe negou,
pois não lhe negou. No caso dele, tem a ver com o entendimento jurássico
de que para fazer justiça não se pode fazer qualquer concessão à
afabilidade.
Para entender melhor Joaquim acrescente-se a cor – sua cor. Há negros
que padecem do complexo de inferioridade. Outros assumem uma postura
radicalmente oposta para enfrentar a discriminação.
Joaquim é assim se lhe parece. Sua promoção a ministro do STF em nada serviu para suavizar-lhe a soberba. Pelo contrário.
Joaquim foi descoberto por um caça talentos de Lula, incumbido de caçar um jurista talentoso e... negro.
“Jurista é pessoa versada nas ciências jurídicas, com grande
conhecimento de assuntos de direito”, segundo o Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa.
Falta a Joaquim “grande conhecimento de assuntos de direito”, atesta a
opinião quase unânime de juristas de primeira linha que preferem não se
identificar. Mas ele é negro.
Havia poucos negros que atendessem às exigências requeridas para vestir a
toga de maior prestígio. E entre eles, disparado, Joaquim era o que
tinha o melhor currículo.
Não entrou no STF enganado. E não se incomodou por ter entrado como entrou.
Quando Lula bateu o martelo em torno do nome dele, falou meio de
brincadeira, meio a sério: “Não vá sair por aí dizendo que deve sua
promoção aos seus vastos conhecimentos. Você deve à sua cor”.
Joaquim não se sentiu ofendido. Orgulha-se de sua cor. E sentia-se apto a
cumprir a nova função. Não faz um tipo ao destacar-se por sua
independência. É um ministro independente. Ninguém ousa cabalar seu
voto.
Que não perca a vida por excesso de elegância. (Esse perigo ele não
corre.) Mas que também não ponha a perder tudo o que conseguiu até aqui.
Julgue e deixe os outros julgarem.
Postado há 1 hour ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
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