Luis Nassif, GGN
"Um
dos públicos mais desinformados do país é o dos proprietários de
veículos de mídia. E sobre um tema que bate diretamente nos seus
interesses e no seu caixa: regulação da mídia..
Já
escrevi em outras oportunidades sobre o extraordinário poder da Globo -
a mais competente estrategista de seus próprios interesses. Através de
um belo corpo de colunistas, ela conseguiu transformar um tema que
interessa exclusivamente a ela - a regulação dos monopólios de mídia -
em bandeira de todos os veículos de mídia que só teriam a ganhar com uma
Lei dos Meios.
***
Hoje
em dia, existe apenas um monopólio no país – o da Globo – com um poder
de influência tal que conseguiu criar esse paradoxo de queda consistente
e rápida dos índices de audiência dos seus veículos; e, paralelamente,
um aumento da fatia do bolo publicitário do país, em detrimento dos
demais veículos da mídia tradicional.
Não foi a imprensa regional nem meia dúzia de blogs que tirou publicidade dos demais grupos de mídia.
À
medida em que a Internet começava a dividir as verbas publicitárias, as
agências passaram a concentrar no sistema Globo a maior parte das
verbas destinadas aos veículos tradicionais. A TV aberta perdeu
audiência mas não perdeu verbas; e parte absoluta dessas verbas foi
destinada à Globo.
***
Nesses anos todos, esse extraordinário poder de fogo se sustentou em um enorme conjunto de práticas anticoncorrenciais.
Entre
as agências de publicidade, consolidou o modelo do BV (Bônus de
Veiculação), que seria condenado em qualquer corte de país sério que
tratasse sobre práticas anticoncorrenciais.
Esse
modelo era sustentado por dois aferidores de audiência que jamais foram
auditados: o IBOPE (para a televisão) e o IVC (Instituto Verificador de
Circulação) para a mídia escrita.
Apenas
nos últimos tempos os concorrentes decidiram trazer um novo instituto
para concorrer com o IBOPE. Coincidentemente, nos últimos meses o IBOPE
passou a registrar taxas aceleradas de queda de audiência da Globo –
passando a falsa impressão de que estaria fazendo uma conta de chegada.
O
grande drama da Globo é que esse modelo acelerou a crise dos seus
parceiros – grupos de mídia tradicionais, todos eles metidos em um beco
sem futuro. Mais cedo ou mais tarde cairá a ficha sobre quem foi o
sorvedouro real das verbas publicitárias.
***
Uma
Lei dos Meios com compromisso sério com a desconcentração midiática
obrigaria a Globo a rever suas práticas, acabaria com o conceito de rede
(tal como praticado no Brasil) e abriria enorme espaço para as mídias
regionais e para os demais grupos de mídia.
Além de trazer um enorme reforço ao conceito de democracia.
Como
disse um grande político brasileiro, em seminário no dia 15 de maior de
2012: “Os meios de comunicação no Brasil não trazem o outro lado. Isso
não se dá por pressão de governo, mas por uma complexidade de nossa
cultura institucional. Nós temos toda a arquitetura democrática, menos a
alma”. É preciso lutar pelos mecanismos de regulação que permitam a
diversidade. “Não há como regular adequadamente a democracia sem regular
adequadamente os meios de comunicação”.
O autor dessas palavras não é Lula nem Franklin Martins: é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso."
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