Paulo Moreira Leite
Cenas de medo
novelesco de Regina Duarte, em 2002, tem pouco a ver com comparação entre o
Brasil antes e depois de Lula
O primeiro filminho
de propaganda do PT provocou uma reação previsível da oposição.
Aécio Neves chegou a dizer que as crianças deveriam ser
retiradas da sala. Eduardo Campos também criticou. Claro que nenhum deles está
discutindo a linha estética das imagens.
A comparação entre o
Brasil de hoje e aquele que antecede a chegada de Lula ao Planalto, em 2003, é
chocante e perturbadora. Aposto que muitos eleitores sequer se dão conta do que
mudou no país ao longo de onze anos. A comparação, é claro, só prejudica quem
quer ganhar a eleição de outubro com o discurso do caos e da catástrofe e, ciente da impunidade junto aos meios de
comunicação, chega a prometer “medidas impopulares” sem ficar corado nem temer
por repercussões negativas.
A comparação com o discurso do medo apresentado por Regina
Duarte, na reta final de 2002, não faz sentido. O discurso de 12 anos atrás não
podia apoiar-se em fatos objetivos.
Naquele ano, a inflação disparava e o país pedia socorro ao
Fundo Monetário Internacional para não quebrar. A popularidade de Fernando
Henrique era tão baixa que José Serra, candidato do governo, preferia manter
distância do Planalto e do presidente. Quando perguntado sobre a economia – um
desastre nos ultimos anos de FHC – o
candidato tucano não colocava a culpa na crise internacional apenas. Fazia
questão de dizer que o governo FHC não seguira a política economica de sua
preferência.
O PSDB até podia falar no medo mas não conseguia apresentar
nenhum motivo para transmitir segurança ao eleitorado em caso de vitória de seu
candidato. Este era o ponto. Era uma aposta no irracional, no pavor do
desconhecido, naquilo que os psicanalistas chamam de inconsciente. No vale tudo
da reta final, o olhar de Regina Duarte tinha muito de heroína de novela. Mas
sua alternativa era o apagão, o desemprego, as privatizações.
Você sabe minha
opinião sobre o governo Lula-Dilma e não vou explicar o que penso aqui. Mas é
evidente que vive-se outra situação com uma economia que mantém o menor
desemprego da história, que valoriza o salário mínimo e consegue, com muitos
esforços, manter a inflação na melhor média desde a posse de FHC no Planalto,
em 1995.
A campanha pela reeleição de Dilma compara passado e
presente porque pode fazer isso. Não fala de um sentimento, que pode ser
manipulável, mas de fatos. Não faltam emoções nos momentos de encontros de
brasileiros consigo mesmos. Você pode até achar que se chegou ao melodrama. Mas
o conteúdo é racional, compreensível. É político.
Eu acho provável que
a campanha venha adquirir outra dinâmica nas próxiimas semanas. Num país onde
os meios de comunicação vivem num mundo fechado, de suas próprias ideologias e
preferencias seletivas, a propaganda
eleitoral é um raro espaço democrático.
Vai oferecer ao governo Dilma uma chance única de dialogar com os brasileiros e
defender seu legado político. É por isso e apenas por isso que a oposição teme
comparações com o passado.
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