Barbosa protagonizou falso moralismo que comprometeu o Conselho Nacional de Justiça
Do Blog do NassifO anúncio da aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa livra o sistema judicial de uma das duas piores manchas da sua história moderna.
O pedido de aposentadoria surge no
momento em que Barbosa se queima com os principais atores jurídicos do
país, devido à sua posição no caso do regime semi-aberto dos condenados
da AP 470. E quando expõe o próprio CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a
manobras pouco republicanas. E também no dia em que é anunciada uma
megamanifestação contra seu estilo ditatorial na frente do STF.
A gota d’água parece ter sido a PEC 63 – que dispõe sobre o aumento do teto salarial da magistratura.
Já havia entendimento no STF que
corregedor não poderia substituir presidente do CNJ na sua ausência. Não
caso da PEC 63 – que aumenta o teto dos magistrados – Barbosa
retirou-se estrategicamente da sessão e colocou o corregedor Francisco
Falcão na presidência. Não apenas isso: assumiu publicamente a defesa da
PEC e enviou nota ao Senado argumentando que a medida seria “uma forma
de garantir a permanência e estimular o crescimento profissional na
carreira” (http://tinyurl.com/mf2t6jl).
O Estadão foi o primeiro a dar a notícia,
no dia 21. À noite, Barbosa procurou outros veículos desmentindo a
autoria da nota enviada ao Senado ou o aval à proposta do CNJ (http://tinyurl.com/m5ueezb).
Ontem, o site do CNJ publicou uma nota de Barbosa, eximindo-se da responsabilidade sobre a PEC.
O ministro ressalta que não participou da
redação do documento, não estava presente na 187ª Sessão Ordinária do
CNJ no momento da aprovação da nota técnica, tampouco assinou ofício de
encaminhamento do material ao Congresso Nacional.
A manipulação política do CNJ
Não colou a tentativa de Barbosa de tirar
o corpo do episódio. É conhecido no CNJ – e no meio jurídico de
Brasília – a parceria estreita entre ele e o corregedor Francisco
Falcão.
É apenas o último capítulo de um jogo político que vem comprometendo a imagem e os ventos de esperança trazidos pelo CNJ.
Para evitar surpresas como ocorreu no STF – no curto período em que
Ricardo Lewandowski assumiu interinamente a presidência -, Barbosa
montou aliança com Falcão. Em sua ausência, era Falcão quem assumia a
presidência do órgão, embora a Constituição fosse clara que, na ausência
do presidente do CNJ (e do STF) o cargo deveria ser ocupado pelo
vice-presidente – no caso Ricardo Lewandowski.Muitas das sessões presididas por Falcão, aliás, poderão ser anuladas.
Com o tempo, um terceiro elemento veio se somar ao grupo, o conselheiro Gilberto Valente, promotor do Pará indicado para o cargo pelo ex-Procurador Geral da República Roberto Gurgel.
Com o controle da máquina do CNJ, da presidência e da corregedoria, ocorreram vários abusos contra desafetos. Os presos da AP 470 não foram os únicos a experimentar o espírito de vingança de Barbosa.
Por exemplo, o presidente do STJ
(Superior Tribunal de Justiça) Félix Fischer é desafeto de Falcão e se
candidatará ao cargo de Corregdor Geral quando este assumir a
presidência do STJ. De repente, Fischer é alvejado por uma denúncia
anônima feita diretamente a Joaquim Barbosa, de suposto uso de passagens
aéreas para levar a esposa em viagens internacionais. O caso torna-se
um escândalo público e o conselheiro Gilberto Martins é incumbido de
investigar, na condição de corregedor interino (http://tinyurl.com/qg6cjx3) .
Passa a exigir, então, o detalhamento de todas as viagens oferecidas pelo STJ a ministros, mulheres de ministros e assessores (http://tinyurl.com/l6ezw3k).
A investigação é arquivada por falta de fundamentos mas, àquela altura,
o nome de Fischer já estava lançado na lista de escândalos.
A contrapartida de Falcão foi abrir uma
série de sindicâncias contra desembargadores do Pará, provavelmente
adversários de Gilberto Martins.
Nesse jogo de sombras e manobras, Barbosa foi se enredando em alianças e abandonando uma a uma suas bandeiras moralizadoras.
Sua principal agenda era combater o “filhotismo”, os escritórios de advocacias formado por filhos de ministros.
Deixou de lado porque Falcão, ao mesmo
tempo em que fazia nome investindo-se na função de justiceiro contra as
mazelas do judiciário, tem um filho – o advogado Djaci Falcão Neto – que
atua ostensivamente junto ao STJ (mesmo quando seu pai era Ministro) e
junto ao CNJ (http://tinyurl.com/ku5kdl5),
inclusive representando tribunais estaduais. Além de ser advogado da
TelexFree, organização criminosa que conseguiu excepcional blindagem no
país, a partir da falta de ação do Ministro da Justiça.
Por aí se entende a razão de Falcão ter
engavetado parte do inquérito sobre o Tribunal de Justiça da Bahia que
envolvia os contratos com o IDEP (Instituto Brasiliense de Direito
Público), de Gilmar Mendes.
E, por essas estratégias do baixo mundo
da política do Judiciário, compreende-se porque Barbosa e Falcão
crucificaram o adversário Fischer, mas mantiveram engavetado processo
disciplinar aberto contra o todo-poderoso comandante da magistratura
fluminense, Luiz Sveiter, protegido da Rede Globo.
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