Dilma e Nelson só erraram na raça do cachorro: vira-latas costumam
ser fiéis, não traem o caráter nem mudam de time em troca de um osso.
Ronaldo Fenômeno, maior artilheiro de todas as Copas e empresário bem
sucedido, pode ser acusado de tudo, menos de ser um idiota, como o
chamou o escritor Paulo Coelho, que estava a seu lado, entre outras
autoridades e celebridades, quando o Brasil foi escolhido para sediar a
Copa do Mundo de 2014.
Ao contrário, o ex-jogador do Corinthians e da seleção sempre foi muito
esperto nos negócios e não rasga dinheiro, um exímio surfista em busca
de uma boa onda, sem dar muita bola para compromissos e princípios
éticos, um verdadeiro fenômeno empresarial.
Quando aceitou ser membro do Comitê Organizador Local, em 2007, uma das
tarefas de Ronaldo era exatamente a de defender a Copa no Brasil e
responder críticas à organização do evento. Só que, logo em seguida, ele
sumiu do noticiário, mudou-se para Londres, onde foi cuidar dos seus
negócios, e esqueceu a tarefa que havia assumido. Até aí, seria apenas
mais um cartola omisso e leniente, preocupado mais em faturar como
garoto propaganda do que em servir ao futebol brasileiro que lhe deu
fama e fortuna.
Depois de embolsar uma bela grana com comerciais alusivos à Copa do
Mundo, eis que ele ressurge em grande estilo no Brasil, ganhando
novamente as manchetes ao papaguear as críticas da grande mídia à
organização, na qual o COL tem um papel importante. Ronaldo foi além e
desceu o pau no atraso das obras dos estádios e da mobilidade urbana.
Como se não tivesse nada com isso, apenas um turista inglês de passagem
pelo Brasil, falou mal dos aeroportos e de todo o resto, dizendo que
sentia vergonha de tudo.
Vergonha de Ronaldo sentimos nós ao constatar que não fez nada de graça,
nem isso: na verdade, estava fazendo política rasteira para desgastar o
governo e iniciar uma campanha a favor do candidato que apoia, o tucano
Aécio Neves, seu amigo, como fez questão de registrar em seu Facebook,
chamando-o de futuro presidente.
Com a maior cara de pau, logo deu início à sua nova tarefa de cabo
eleitoral: "Sempre tivemos uma amizade muito forte e agora vou apoiá-lo.
É meu amigo, confio nele e acho que é uma ótima opção para mudar o
nosso país". Foi mais longe: afirmou que, como empresário, diz que
desistiu de investir no Brasil no próximo ano por estar inseguro. "Essa
insegurança que estamos vivendo, essa instabilidade, a revolta do
povo... O governo deveria tranquilizar o povo, o setor empresarial".
Até outro dia, ele aparecia em alegres fotos ao lado de Lula e Dilma. De
repente, ao voltar de uma longa vilegiatura no exterior, entre um
comercial e outro, virou uma espécie de Álvaro Dias do futebol, só vendo
defeitos em tudo e dizendo o que deveria ser feito.
Ora, o cidadão Ronaldo tem o direito de escolher os amigos e apoiar os
candidatos que bem entender, mas poderia pelo menos ser um pouco mais
sutil na sua radical guinada de lado, certamente porque ouviu dizer lá
fora que Dilma estava mal nas pesquisas e Aécio era a bola da vez.
Sem esperar pela pronta resposta, acabaria tomando um tranco da
presidente Dilma, ainda no final de semana. "Tenho orgulho das nossas
realizações, não temos do que nos envergonhar e não temos o complexo de
vira-latas, tão bem caracterizado por Nelson Rodrigues se referindo aos
eternos pessimistas de sempre".
Dilma e Nelson só erraram na raça do cachorro: vira-latas costumam ser
fiéis, não traem o caráter nem mudam de time em troca de um osso.
A campanha presidencial este ano está tão imprevisível que tudo pode
acontecer. Como Aécio Neves não consegue encontrar um vice para chamar
de seu, por que não aproveitar o repentino embalo político de Ronaldo e
dar a camisa logo para ele?
Se com sua ficha extracampo Ronaldo vai agregar ou tirar votos do
tucano, é outro problema. E se o nome dele for aprovado nas pesquisas
internas do PSDB? Fica a sugestão. A campanha eleitoral ficaria pelo
menos mais divertida e festiva.
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