Dilma é, tão-somente, caloura na política. Jogá-la em um debate com raposas como Aécio Neves ou Marina Silva chega a ser covardia. A inexperiência e o quadro político adverso dificultam ainda mais a vida de quem não está habituado com a cara-de-pau que a política exige.
Políticos, antes de tudo, têm que ser frios. Ser cara-de-pau ajuda muito. Permite a estratégia de Marina Silva, por exemplo, que não diz nada e consegue ser entendida devido às expressões faciais, que anunciam que está dizendo alguma coisa sem que diga absolutamente nada.
A inexperiência em debates e o momento político difícil constituem-se em enorme problema para Dilma; ela sempre começa os debates nervosa. Desta vez, no debate do SBT/UOL, inclusive, reconheceu o nervosismo ao errar nomes daqueles aos quais perguntaria.
Dilma sempre começa os debates gaguejando. Faz pausas intermináveis durante as frases, dando a impressão de que esqueceu o que iria dizer. Mas ela tem um botão anti-pânico e os marqueteiros precisam encontrar uma forma de acioná-lo para que ela se saia bem na oratória tanto em comícios quanto em debates.
Aliás, quem conhece um pouco melhor a história recente de Dilma se lembra da sova que ela deu no demo Agripino Maia no Congresso ao responder a ele sobre por que disse, em uma entrevista, que mentia “muito” aos torturadores da ditadura militar, ponderando que mentir sob tortura é quase uma obrigação.
Dilma, quando indignada, se supera. Não foi diferente no debate do SBT/UOL.
Marina, por exemplo, após fazer uma interpretação escandalosamente pessimista da situação do país, pergunta a Dilma: “O que deu errado em seu governo?”. Dilma, visivelmente indignada, faz aquele ar de impaciência – que chega a ser engraçado – e dispara: “O que deu errado é que tiramos 30 milhões de brasileiros da miséria”.
Bingo! Só os trejeitos da presidente, ao indignar-se, já deixam o adversário constrangido. É a linguagem corporal instintiva.
Mas não é só. Zangada, Dilma não gagueja. As palavras fluem, ganham naturalidade. É outra pessoa, quando provocada.
Com Aécio Neves foi a mesma coisa. Ele disse que o governo federal não manda dinheiro para seu Estado – Minas Gerais, não o Rio de Janeiro, como muitos podem pensar – e Dilma, indignada com a mais do que comprovável mentira, fez o mesmo ar de impaciência e disse que ele, além de ter “memória fraca”, é “desinformado”.
É mais como ela disse do que o que ela disse. Foi engraçado e soou verdadeiro. Zangada, Dilma passa a quem a vê que aquilo é indignação diante de uma mentira.
De resto, foi divertido. Levy Fidelix xingando a mídia e fazendo um discurso inflamado e panfletário como qualquer estudante universitário devido a seu partido ter sido chamado de “legenda de aluguel” pelo jornalista Kennedy Alencar, foi impagável.
Eduardo Jorge dizendo que não tinha nada que ver com a briga dos dois, foi antológico.
O “pastor” Everaldo citando várias vezes “estrupo”, apesar de patético também foi engraçado.
Não dá para esperar mais do que isso em debates nesses moldes, com tantos debatedores. Não será aprofundado tema algum. Nesses debates, a mise-em-scène vale mais do que as palavras. Ninguém presta atenção no que é dito, mas em COMO é dito.
Não se pode afirmar, mas é mais provável que o debate desta segunda-feira não tenha sido vencido por ninguém. Na verdade, entre o primeiro pelotão, talvez Dilma tenha marcado alguns pontos devido às respostas atravessadas a Marina e a Aécio.
Dar respostas atravessadas dificilmente é uma boa tática. A menos que seja na situação particular em que Dilma as deu nesse debate, ou seja, após sofrer o bombardeio de quase todos os candidatos e de ter sido agredida por aqueles aos quais respondeu.
Se os marqueteiros encontrarem uma fórmula para que Dilma já chegue zangada aos debates e comícios, não vai ter para ninguém. E se o que as lendas tucano-midiáticas dizem for mais do que isso, não será preciso muito para zangar a presidente. Tomara que seja verdade.
Do Blog da Cidadania.
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