Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
As edições de sexta-feira (19/9) dos jornais sofrem da entressafra de novidades. Mesmo com a divulgação de mais uma pesquisa de intenção de voto, desta vez realizada pelo Datafolha para a Folha de S.Paulo e a Rede Globo, o fato é que a imprensa se tornou dependente da agenda dos candidatos
Estamos muito perto de nos deparar com reportagens
relatando quantos pães de queijo tal personagem deglutiu ao longo do
dia, quantos cafezinhos tomou tal protagonista, quantos beliscões
recebeu aquele outro. O fato é que a imprensa enche o tempo e o espaço
com futilidades porque não tem o menor interesse em discutir realmente o
processo democrático.
O sistema representativo, estruturado sobre um emaranhado de partidos de baixa densidade ideológica, estimula a formulação de estratégias eleitorais sem compromisso com a realidade. Mesmo candidatos com biografias respeitáveis aceitam se submeter aos ditames de seus chefes de campanha, e se dispõem a ser tratados como um produto à venda.
Caberia à imprensa, numa circunstância ideal, exigir manifestações mais consistentes, questionar o uso indiscriminado e distorcido de estatísticas, cobrar alguma verossimilhança em promessas e diagnósticos. Mas o que se vê é a comitiva de candidatos e apaniguados transitando por lugares públicos e repórteres disputando com cabos eleitorais uma visão mais próxima dos eventos. O resultado é a coleção de irrelevâncias que serão transmitidas às redações e selecionadas pelos editores segundo o viés de cada publicação.
O que se observa, então, é uma cobertura superficial da disputa eleitoral. Mesmo quando há informações relevantes a serem transmitidas, pesa sobre tudo essa espécie de letargia que impede o aprofundamento dos debates sobre questões nas quais os candidatos deveriam marcar suas posições e estabelecer compromissos.
Nas ocasiões em que os fatos impõem a obrigação de encarar os grandes desafios nacionais, a imprensa tergiversa, coloca o viés ideológico por cima e reduz tudo à marquetagem de campanha.
Material de propaganda
Veja-se, por exemplo, o material sobre a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), com os números de 2013, divulgados na quinta-feira (18/9) pelo IBGE. Pode-se fazer vários tipos de leitura dos dados. O quadro geral mostra uma melhoria constante da qualidade de vida, com indicadores positivos em curva consistente de evolução desde 2001. No entanto, os jornais se esforçam para destacar os elementos negativos que aparecem em alguns gráficos, e com eles compõem suas manchetes. Além disso, faz-se um recorte malicioso dos períodos abrangidos pela pesquisa, para compor com ele uma mensagem pessimista.
Observe-se, por exemplo, o título elaborado pela Folha de S.Paulo para a primeira página: “Sob Dilma, queda da desigualdade trava no país”. No interior do jornal, se passar pela barreira dos cabeçalhos negativos, o leitor vai encontrar uma realidade muito diferente, com o registro de mais crianças na pré-escola, a queda do analfabetismo, o aumento da renda média do trabalho.
O mesmo texto foi distribuído pelo IBGE (ver aqui) para todos os órgãos da imprensa, e os dados estatísticos podem ser acessados por qualquer cidadão no site do órgão (ver aqui), mas se o leitor ficar com o que lhe oferecem os jornais, vai acreditar que o Brasil está andando para trás.
Compare-se, por exemplo, o que diz o Estado de S. Paulo em sua manchete e o que se pode ler no relatório da pesquisa. Diz o jornal paulista: “Desemprego cresce e desigualdade para de cair”. Nos gráficos, vê-se que o trabalho com carteira assinada subiu 3,6% em relação ao ano anterior, o trabalho sem carteira assinada teve rendimento 10,2% superior e o trabalho de crianças e adolescentes caiu em 12,3%.
Há indicadores apontando para um refluxo em alguns padrões que marcam a desigualdade social, mas estabelecer uma relação entre esse fenômeno e um período específico de governo é pura má-fé, uma vez que as causas são muito complexas. Embora os dados sejam claros, o editor usa uma lente que destaca uns e esconde outros.
Para que serve a interpretação distorcida de uma pesquisa como essa? Serve para alimentar campanhas eleitorais.
O sistema representativo, estruturado sobre um emaranhado de partidos de baixa densidade ideológica, estimula a formulação de estratégias eleitorais sem compromisso com a realidade. Mesmo candidatos com biografias respeitáveis aceitam se submeter aos ditames de seus chefes de campanha, e se dispõem a ser tratados como um produto à venda.
Caberia à imprensa, numa circunstância ideal, exigir manifestações mais consistentes, questionar o uso indiscriminado e distorcido de estatísticas, cobrar alguma verossimilhança em promessas e diagnósticos. Mas o que se vê é a comitiva de candidatos e apaniguados transitando por lugares públicos e repórteres disputando com cabos eleitorais uma visão mais próxima dos eventos. O resultado é a coleção de irrelevâncias que serão transmitidas às redações e selecionadas pelos editores segundo o viés de cada publicação.
O que se observa, então, é uma cobertura superficial da disputa eleitoral. Mesmo quando há informações relevantes a serem transmitidas, pesa sobre tudo essa espécie de letargia que impede o aprofundamento dos debates sobre questões nas quais os candidatos deveriam marcar suas posições e estabelecer compromissos.
Nas ocasiões em que os fatos impõem a obrigação de encarar os grandes desafios nacionais, a imprensa tergiversa, coloca o viés ideológico por cima e reduz tudo à marquetagem de campanha.
Material de propaganda
Veja-se, por exemplo, o material sobre a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), com os números de 2013, divulgados na quinta-feira (18/9) pelo IBGE. Pode-se fazer vários tipos de leitura dos dados. O quadro geral mostra uma melhoria constante da qualidade de vida, com indicadores positivos em curva consistente de evolução desde 2001. No entanto, os jornais se esforçam para destacar os elementos negativos que aparecem em alguns gráficos, e com eles compõem suas manchetes. Além disso, faz-se um recorte malicioso dos períodos abrangidos pela pesquisa, para compor com ele uma mensagem pessimista.
Observe-se, por exemplo, o título elaborado pela Folha de S.Paulo para a primeira página: “Sob Dilma, queda da desigualdade trava no país”. No interior do jornal, se passar pela barreira dos cabeçalhos negativos, o leitor vai encontrar uma realidade muito diferente, com o registro de mais crianças na pré-escola, a queda do analfabetismo, o aumento da renda média do trabalho.
O mesmo texto foi distribuído pelo IBGE (ver aqui) para todos os órgãos da imprensa, e os dados estatísticos podem ser acessados por qualquer cidadão no site do órgão (ver aqui), mas se o leitor ficar com o que lhe oferecem os jornais, vai acreditar que o Brasil está andando para trás.
Compare-se, por exemplo, o que diz o Estado de S. Paulo em sua manchete e o que se pode ler no relatório da pesquisa. Diz o jornal paulista: “Desemprego cresce e desigualdade para de cair”. Nos gráficos, vê-se que o trabalho com carteira assinada subiu 3,6% em relação ao ano anterior, o trabalho sem carteira assinada teve rendimento 10,2% superior e o trabalho de crianças e adolescentes caiu em 12,3%.
Há indicadores apontando para um refluxo em alguns padrões que marcam a desigualdade social, mas estabelecer uma relação entre esse fenômeno e um período específico de governo é pura má-fé, uma vez que as causas são muito complexas. Embora os dados sejam claros, o editor usa uma lente que destaca uns e esconde outros.
Para que serve a interpretação distorcida de uma pesquisa como essa? Serve para alimentar campanhas eleitorais.
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Miro
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POLÍTICA
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