domingo, 22 de fevereiro de 2009

Conto - Uma história de Carnaval


Matéria copiada do Blog CIDADANIA.COM, do Eduardo Guimarães, que está em Meus Favoritos e pode ser acessado no link logo abaixo de Minhas Notícias.

Este Blog só não está com suas últimas matérias automaticamente entrando em Minhas Notícias por problema puramente técnico, o que também ocorre com três outros excelentes blogs.

NOTA:

Tenho grande admiração e respeito pelo Eduardo Guimarães e seu Blog, mas uma Querida Amiga, Professora Aposentada, Culta e Inteligente ( já escrevi muito a respeito da diferença entre uma e outra coisa) residente na Cidade do Carmo/RJ é fã de CARTEIRINHA do Eduardo.

Então dedico esta publicação para LEDA RIBEIRO.

Um abraço para o dois.


Saraiva


Conto
Uma história de Carnaval


Não era necessariamente feio, mas tampouco era bonito. Comum é o adjetivo que melhor lhe descreveria a aparência. Magérrimo, estatura média e óculos. O cu-de-ferro (hoje, dizem "nerd") cuspido e escarrado. E esses não eram, nunca foram e continuam não sendo atributos físicos coincidentes com o gosto das garotas.
Seu problema com elas, porém, nem era ausência de cabelos longos e parafinados ou de uma camiseta "Hang Ten" cobrindo um torso vigoroso numa época em que todos os garotos de 14 anos eram “surfistas”. O que o mantinha um “boca virgem”, era a timidez.
Nos bailinhos dos idos de 1974, que se alternavam a cada fim de semana entre os imponentes prédios residenciais das alamedas dos Jardins paulistanos, lá pelo fim da noite, quando os casaizinhos começavam os “amassos”, ele se esgueirava para fora do salão para não ser visto sozinho.
Por isso não ia a bailinhos, ou melhor, evitava ir. Às vezes, porém, os amigos o intimavam a acompanhá-los. Queriam ajudá-lo. Compadeciam-se de seu sofrimento.
Mas o que ele mais detestava mesmo, era o Carnaval. Enquanto os garotos e as garotas se amarfanhavam no salão, ele procurava entabular conversa com os pais de alguém – naquele tempo, adolescentes iam a bailes de Carnaval acompanhados dos pais. E, na falta destes, ficava escorando alguma coluna até que, sentindo-se alvo de olhares de estranhamento dos foliões, ia embora.
*
Naquela manhã de fevereiro, seu melhor amigo, o Mexerica, um rapaz ruivo e cheio de sardas, muito popular com as garotas, irrompeu pela porta de seu quarto na primeira hora da manhã literalmente ordenando que se levantasse, porque sabia como fazer para ele deixar de ser “boca virgem”.
-- Sabe onde há um baile de Carnaval onde você não terá que mexer um dedo para dar uns amassos?
-- Sei, sim: nos seus sonhos. E me deixa dormir, vai...
-- Nada disso. Você vai viajar com a gente.
-- Com a gente quem, meu?!
-- Comigo e com a minha família, porra! Não tinha te falado que a gente ia passar o Carnaval em Rio Preto? “Vambora”, meu! Nós vamos ficar na casa da minha tia Lucélia.
-- Ah, e Rio Preto tem meninas ninfomaníacas que irão me agarrar, é?
-- Isso mesmo. Você só precisa ser de São Paulo. Vão te disputar no tapa, meu!
Ele resistiu bravamente, em seu conformismo com a inadequação que acreditava ter para os prazeres mundanos. Estaria mais seguro com seus livros e pincéis. Ao menos não humilharia a si mesmo em público.
Mexerica, porém, era uma daquelas pessoas que não aceita não como resposta, e lá foram eles, no carro da família do amigo, rumo a Rio Preto, o suposto Éden dos “bocas virgens”.
*
A casa de tia Lucélia era um sobrado amplo, com um jardim muito bem cuidado na frente e uma varanda agradabilíssima, com cadeiras de vime e um balanço de dois lugares. Viviam ali a tia e o tio do amigo dele com a prima do rapaz, Cláudia, e o irmão, que depois ficou sabendo que estava estudando nos Estados Unidos.
A prima do amigo dele os esperava à porta da casa. Era uma beleza de menina. Ele ficou perturbado. Ela tinha olhos azuis oceânicos que quase ofuscavam o resto de seu belo rosto e até seu corpinho perfeito. E quando ele conheceu a tia Lucélia, pôde entender por que a filha era tão bonita. Era uma versão mais madura da Claudinha, mas muito mais bonita. Os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo loiro, mas num corpo de mulher feita que insinuava que os atributos da filha só teriam a ganhar com o passar dos anos.
*
As horas passaram voando, por mais que ele quisesse parar o tempo. E agora não apenas pelo medo de ter que passar a noite num baile de Carnaval tentando mostrar às pessoas que estava se divertindo conversando com adultos. É que a prima de seu amigo, durante a tarde, tinha lhe dado uma atenção que não se lembrava da última vez em que alguma garota tinha dado. Não seria difícil se apaixonar à primeira vista por Cláudia nem que fosse experiente com as “mulheres” como seu amigo Mexerica. Sendo tão só, tão tímido e tão “feio”, a atenção dela exerceu um efeito devastador sobre ele.
Tia Lucélia, porém, bateu à porta do quarto dos garotos para apressá-los, dizendo que a irmã e o cunhado estavam impacientes porque os deixariam no baile e iriam com o carro a outro baile só de adultos. Que se apressassem. E que não se animassem muito, porque ela e o tio do Mexerica é que “tomariam conta” deles.
*
O salão cheio, as garotas pintadas, com suas fantasias sumárias de índias, de odaliscas e outras de caráter indefinido, o ritmo carnavalesco ensurdecedor, as gargalhadas, tudo aquilo o oprimia. Sentia-se um peixe fora d’água.
Tia Lucélia notou. Aproximou-se dele, enquanto adentravam o baile carnavalesco, e perguntou-lhe o que tinha, mas ele fez que não ouviu.
Já no salão, depois de a mãe de Cláudia chamá-la de lado, a garota veio até ele perguntar se não queria ir com ela “lá no meião”. A ela ele não negaria nada. Assentiu, meneando a cabeça afirmativamente.
No meio dos foliões, ela lhe pediu que a enlaçasse pela cintura para “tomarem o trenzinho” em que casais abraçados circulavam pelo salão aos pulinhos. Quando seus dedos mal tocaram a pele quente e macia da menina, a excitação foi tanta que ele pensou que teria um orgasmo ali mesmo.
Mais tarde, no intervalo do baile, na mesa com tia Lucélia e tio Wagner, ele tomou coragem e pediu à mocinha que fossem até o terraço. Ela já havia aceitado, mas não chegaram a ir. O pior aconteceu.
Era um garoto alto, forte, daquele tipo que ele não era, o tipo do qual as garotas gostavam. E Cláudia, de cara feia, antes de cumprimentar o rapaz já foi dizendo que pensou que ele não vinha mais...
Era o namorado dela.
*
Tio Wagner era um homem de ótima aparência. Com a tia Lucélia, fazia um par que ele considerou muito bonito. Sentiu inveja do tio do amigo. Mais até do que do namorado de Cláudia, pois a mãe dela era talvez a mulher mais bonita que ele já vira.
*
Enquanto Cláudia e o namorado dirigiam-se ao terraço, logo depois de a garota ter se desculpado explicando que precisava conversar com o rapaz, tio Wagner levantou-se e com tia Lucélia travou um diálogo evidentemente ríspido, ainda que não se escutasse o que diziam. Mas o gestual dizia tudo.
O rápido e ríspido diálogo travou-se com tio Wagner em pé e tia Lucélia, sentada. Em seguida, o marido a deixou e tomou o rumo da saída do baile.
Ele se aproximou de tia Lucélia para socorrer-se de alguma companhia em meio à folia de que os “normais” desfrutavam. E, desta vez, não seria torturante ficar conversando com um adulto em meio a um baile de adolescentes, porque aquela mulher era um evento a contemplar.
A tia do amigo parecia muito triste e nervosa. Ele perguntou se estava bem e ela disse que sim, que não se preocupasse com ela e que fosse se divertir.
Os olhos de Lucélia. Aqueles olhos sobrenaturais estavam úmidos e já começavam a borrar a maquiagem.
Ele respondeu que não, que preferia ficar ali com ela, que não quis, de início, aceitar-lhe a companhia, que ele era jovem e não tinha que ficar pajeando uma “coroa”.
-- Não, não ficarei pajeando não, dona Lucélia. Quero mesmo ficar com a senhora...
-- Tá, então, mas só se me chamar de Lucélia.
-- A senhora... Você é quem sabe, Lucélia.
-- Você é tímido, não?
-- Sou. Dá pra perceber desse jeito?
-- Dá, sim. Eu tive um namorado como você. Quem me dera ter me casado com ele...
*
A noite passou tão depressa que ele nem sentiu. Amaldiçoou o tempo, que só passava rápido quando ele não queria.
Logo, estavam em casa e todos foram dormir sem mais delongas, que o dia clarearia logo. Ele, porém, não conseguia dormir. Levantou-se de cueca mesmo e foi à varanda da casa fumar enquanto o sono não o convidava. O tio Wagner ainda não tinha chegado.
*
Ele se perdia na contemplação do luar esplendoroso naquele céu tão límpido do interior, tão límpido que chegava a ser ofensivo. Aquele luar que na cidade grande era mais do que improvável, era impossível.
De repente, ouviu, atrás de si, a porta de vidro deslizar sobre os caixilhos. Voltou-se assustado, já se dando conta de que estava de cueca. Era tia Lucélia.
Ficou paralisado, sem saber o que dizer, cobrindo-se com as mãos.
-- Que bobagem, menino... Eu tenho um filho. Relaxe.
-- Ah, por favor, desculpe, eu não queria incomodar ninguém...
-- Você está sem sono, né? Vem aqui sentar comigo no balanço. Vamos conversar que também não tenho sono.
Lucélia vestia um peignoir de seda prateado. Ao sentar-se, as pernas ficaram expostas até a altura das coxas. Ele ficou boquiaberto com a beleza daquelas pernas torneadas. Ficou ali em pé, imóvel. Ela sorriu, dando tapinhas no lugar ao seu lado no balanço branco de metal.
Depois de hesitar até o ponto em que se sentiu um bobo, sentou-se ao lado da bela tia Lucélia. Ela segurou-lhe o queixo e, aproximando-se dele até que seus corpos se tocassem, sussurrou-lhe no ouvido:
-- Meu marido é um canalha que me trai o tempo todo e você é um bom garoto, sensível, inteligente, e um dia fará uma mulher muito feliz. Hoje, porém, é a minha vez. Serei feliz dando a você um presente.
Enquanto sussurrava no ouvido dele, conduziu sua mão ao seio direito. Naquele dia, ele não perdeu apenas a timidez, mas a virgindade. E não só a da boca.

***

Ombudsman da Folha sofre

22 de fevereiro de 2009

Por Carlos Eduardo Lins da Silva

Já me referi aqui ao escopo do trabalho do ombudsman, que não abarca as opiniões publicadas pelo jornal, em editoriais, colunas ou artigos.
O ombudsman se atém aos aspectos técnicos, factuais, comprováveis, verificáveis. Opinião é como religião, time de futebol, convicção ideológica: cada um tem a sua e nenhuma é melhor que outra.
Mas, talvez porque, como ensinava Spencer, a opinião é determinada em última análise pelos sentimentos, não pelo intelecto, ela mobiliza manifestação de muitos leitores.
Esta semana, duas motivaram pelo menos 115 mensagens. Sem entrar no seu mérito opinativo, vou tratar de ambas.
Um post de blog do Folha Online trazia no título as palavras vadias e vagabundas acima de foto em que apareciam Marta Suplicy e Dilma Rousseff. Pareceu-me uma insinuação de mau gosto e insultuosa.
Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no "Painel do Leitor". Resposta da Redação a duas delas na sexta foge do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores. Escrito por Eduardo Guimarães às 03h14[(16) Opiniões - clique aqui para opinar] [envie esta mensagem]

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