juiz Luiz Roberto Cappio Guedes Pereira |
Com o afastamento do juiz Luiz Roberto Cappio Guedes Pereira começa a
ser desmontada uma das maiores farsas jornalísticas da história: o caso
da suposta quadrilha criminosa que traficaria crianças para adoção em
Monte Santo, Bahia, divulgado nos programas Fantástico e Jornal
Nacional.
Cappio foi o juiz que abriu investigações a respeito de uma suposta
organização criminosa para venda de crianças, que atuaria na comarca de
Monte Santo, município de Euclides da Cunha, sertão da Bahia.
Foi personagem da Globo durante vários dias, denunciando seu antecessor e
criminalizando as senhoras que assumiram legalmente a guarda provisória
das crianças. Montou uma farsa com o repórter da Globo na região.
Com sua suspensão pelo Tribunal de Justiça da Bahia, a farsa começa a ser devendada.
Luis NassifNo Advivo
Justiça aprova afastamento de juiz que apontou adoção irregular na BA
MP-BA solicitou o pedido, acatado por unanimidade por desembargadores.
Luiz Roberto Cappio considera decisão 'inadimissível' e fala sobre 'guerra'.
Tatiana Maria DouradoDo G1 BA
O Tribunal de Justiça da Bahia aprovou por unanimidade o afastamento
cautelar, por 90 dias, do juiz Luiz Roberto Cappio, que determinou o
retorno a Monte Santo das cinco crianças adotadas por famílias
paulistas, além do pagamento de indenização às vítimas. A ação foi
julgada no Pleno do Tribunal na manhã desta quarta-feira (17), em
Salvador. A solicitação foi feita pelo Ministério Público da Bahia.
O juiz revisou os processos de adoções na cidade do interior baiano e
apontou irregulariades, o que motivou as decisões favoráveis à família
baiana. As crianças foram retiradas da cidade no mês de junho de 2011,
por ordem do juiz Vitor Bizerra. À CPI do Tráfico de Pessoas, Vitor
Bizerra alegou que, para a concessão, se baseou em relatórios do
Conselho Tutelar e do Ministério Público do estado.
Após a decisão, em conversa com o G1, Cappio afirmou que o afastamento
simboliza o início de uma "guerra" e avaliou que os desembargadores do
TJ-BA foram conduzidos ao erro pela argumentação do MP-BA. "Não se
afasta um magistrado dessa forma. Obviamente, não vou deixar de me
defender. As pessoas que estão por trás disso vão ter que responder
civilmente e criminalmente. É absurso e inadimissível", diz o juiz, que,
até então, atuava na comarca de Euclides da Cunha, após ter sido
deslocado de Monte Santo.
O procurador-geral adjunto do MP-BA, Rômulo Moreira, preferiu não dar
entrevista, mas justificou à assessoria de imprensa o pedido de
afastamento com os argumentos de que houve uma "indisposição" do juiz
com os três promotores da comarca de Monte Santo, com os serventuários
da Justiça e com o delegado de polícia. Além disso, defendeu para a
Justiça a "baixa produtividade" do magistrado.
O corregedor do TJ-BA, Antônio Pessoa Cardoso, relator do processo
administrativo, confirmou que a medida cautelar foi tomada com base nos
problemas de relacionamento do juiz e no número de sentenças proferidas
na Vara Crime de Euclides da Cunha. O magistrado pode entrar com
recurso.
"Ele é titular de Euclides da Cunha e, por um período, ficou em Monte
Santo. Lá, teve esse problema de adoção que levantou a mídia toda para
apreciar o fato. O juiz, de uma hora para outra, se tornou uma peça de
conhecimento de toda mídia. Mas, no ano de 2012, não tinha nenhuma
sentença proferida pelo juiz [em Euclides]. Nos anos de 2011 e de 2010, a
produtividade foi ridícula, duas a três sentenças durante o ano todo.
Para você ter uma ideia, o juiz costuma proferir em torno de mil
sentenças. Assim, não tem como movimentar a comarca", relata. Além
disso, afirma que, durante confusões, Cappio teria chamado os colegas de
"burros" e "incompetentes".
Cappio acredita que a decisão do TJ-BA foi baseada em provas forjadas do
MP-BA, entre elas, versões deturpadas da discussão que travou com um
promotor, que, segundo ele, é suspeito de envolvimento com o tráfico de
pessoas. "Muito me desagrada essa postura solidária a todos os
suspeitos. Foi uma discussão, evidentemente, sem ofendê-lo. Eu falei com
muita veemência o que eu pensava. Eles distorceram todos esses fatos e
apresentaram isso ao Pleno do Tribunal, que foi induzido ao erro. Faz
parte do jogo. Eu confio na seriedade do TJ. É algo absolutamente
contornável com muito equilíbrio e confiança. Até já esperava que isso
pudesse acontecer, eu estou lidando com uma quadrilha, uma organização
criminosa", afirmou.
Para ele, Monte Santo e Euclides da Cunha, onde mora atualmente, fazem
parte de uma rota de tráfico de pessoas, entre elas, crianças. Diante
disso, ele alerta a necessidade do governo brasileiro interferir de
forma mais incisiva na questão. "Tenho certeza absoluta, não só eu, como
autoridades federais, membros da CPI. Essas cidades estão no roteiro do
tráfico de pessoas, de adoções irregulares, e o judiciário é usado para
fins ilícitos. Estamos falando de vidas de crianças indefesas que estão
sendo coisificadas, não são tratadas como sujeitos. É preciso
acompanhar mais de perto. Bastou um juiz enfrentar com destemor esses
agentes públicos para ser afastado cautelarmente, o que dá veracidade ao
que eu acabo de afirmar. Isso é inadimissível", avalia.
Segundo ele, após as denúncias de irregularidade, tem acumulado mais de
20 representações contra a sua atuação. Por três meses, Cappio foi
contemplado com uma escolta policial federal por determinação do Supremo
Tribunal Federal (STF), conforme conta. "Hoje estou sem escolta,
afastado cautelamente, praticamente sem defesa. Tudo o que me resta é
fazer pública essa vergonha", lamenta ele, que não tem apoio, até agora,
de nenhuma entidade de magistrados.
CPI do Tráfico de Pessoas
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos
Deputados que apura os casos de tráfico de pessoas no país, Arnaldo
Jordy (PPS-PA), está convicto que Monte Santo e Euclides da Cunha são
rotas do crime. "Há uma rede criminosa de tráfico de crianças para fins
de adoção ilegal. O que estamos ultimando é a extensão dessa rede e os
personagens", diz, em entrevista ao G1.
O parlamentar afirma que há indícios de benevolência de membros do
judiciário no processo. "A capa legal dessa rota do crime organizado
conta com a cumplicidade da estrutura da organização judiciária da
Bahia. Tem uma postura estranha envolvendo cartórios, fóruns, pessoas",
comenta.
A atuação dos juizes na adoção irregular na Bahia é investigada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
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