Seu império ascendente nos países lusófonos é a prova de que tudo o que é ruim sempre pode piorar.
Se, como quer aquele pastor de cabelo lambido, a África é amaldiçoada,
já se sabe qual é o seu maior flagelo hoje: as igrejas pentecostais –
especialmente a Igreja Universal do bispo Macedo.
Em seu plano de expansão mundial, a chamada IURD encontrou um terreno
fértil na África lusófona. Em Angola e Moçambique (onde foi apelidada
“igreja dos ladrões), os cultos lotam estádios para 50 mil pessoas,
sempre com gente do governo. No dia 31 de dezembro do ano passado, 16
pessoas morreram e 120 ficaram feridas num tumulto em Luanda durante uma
certa “Vigília da Virada – Dia do Fim”, uma picaretagem que prometia
acabar com “todos os problemas que estão na sua vida: doença, miséria,
desemprego, feitiçaria, inveja e olho grande”. Depois de dois meses
impedida de operar por causa de “propaganda enganosa”, a IURD reabriu em
1º de abril. Acredita-se que as boas relações com o governo foram
fundamentais para que a suspensão caísse.
De acordo com o jornalista e ativista Rafael Marques, o presidente
angolano José Eduardo dos Santos, do MPLA (no poder desde 1975), teria
conexões com a igreja. Marques afirma que a Universal angaria votos para
o MPLA e ajuda a lavar dinheiro.
Segundo o site religioso The Revealer, “em Moçambique, tal como em
outros lugares, o credo da Universal tem levado à bancarrota alguns dos
seus crentes. Os fiéis têm deixado chaves de carros, títulos de
propriedade e salários no altar, na esperança de alcançar um milagre
prometido, apenas para abandonar a Igreja meses ou anos depois
sentindo-se enganados”.
Os pastores, muitos deles importados do Brasil, fazem aquele circo
clássico de exorcismos, “milagres”, ataques a deuses africanos e à
“feitiçaria”. Pagando o dízimo, fica tudo em casa. Se aqui a Universal
dispõe de poder político, lá não é diferente. Num evento no final de
2011, com mais de 500 mil espectadores, estavam o então primeiro
ministro moçambicano, Aires Ali, o ministro da Justiça e o ministro dos
Desportos e Cultura.
Edir Macedo não se manifestou publicamente sobre a tragédia em Luanda.
Mas apareceu há dias na revista Bloomberg numa extensa reportagem sobre
seu império. “Do ponto de vista de minha fé em Jesus Cristo, eu sou o
homem mais rico do mundo”, disse cinicamente, por email, ao repórter
Alex Cuadros. Sua fortuna é estimada em 1,2 bilhão de dólares. Tudo
graças à teologia da prosperidade, a aberração que foi definida pelo
próprio Macedo de maneira sucinta: “O Deus desse mundo é o dinheiro”.
Ele mesmo continua: “Uma oferta é um investimento. Aquele que dá tudo,
recebe tudo de Deus. É inevitável. É toma lá, dá cá”.
Lá como cá, a IURD é dona, em Moçambique, do canal de TV mais popular,
de um jornal que está entre os mais lidos e de emissoras de rádio. No
final dos anos 90, um jornalista chamado Carlos Cardoso escreveu uma
série de artigos argumentando que as práticas financeiras da Universal
se assemelhavam mais às de uma empresa do que às de uma igreja e por
isso ela deveria recolher impostos. Não deu em nada, naturalmente.
Pobre África, tão longe de Deus, tão perto do bispo Macedo.
No DCM
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