Do Tijolaço - 10 de setembro de 2013 | 17:19
Por: Fernando Brito
Algumas poucas pessoas estranham a posição que assumi, defendendo a manutenção do leilão do campo de Libra, o maior do pré-sal brasileiro – até agora, é claro, porque as descobertas do pré-sal não acabaram e vão surpreender muita gente.
Existem pessoas contrárias, algumas por razões respeitáveis, outras por ingenuidade e ainda algumas por nítido interesse em “deixar as coisas esfriarem”, para evitar que uma oportunidade tão grande de lucros fique comprometida por um “momento político ruim” para as petroleiras estrangeiras.
A primeira pergunta que se faz é: adiar o leilão para fazê-lo quando?
Daqui a alguns meses, em pleno processo eleitoral? Daqui a um ano e meio, quando existe a possibilidade – felizmente, cada vez menor – de termos um governo menos cioso de nossas reservas petrolíferas, que afrouxe as regras criadas por Lula e Dilma para a exploração do óleo com soberania e benefícios sociais e entregue nossa maior riqueza?
Em três meses, ou seis, ou doze, ou 20, as jazidas de petróleo de Libra, que os dados roubados podem ter tornado do conhecimento dos EUA e de suas empresas terão mudado de lugar? As condições geológicas, composição das camadas de rocha, sua espessura, a presença de fraturas no solo, irão se alterar?
Óbvio que não.
Tudo que havia para saber e foi sabido pelos espiões vai permanecer exatamente igual.
Tudo, menos um fato político evidente: as multinacionais americanas estão em posição absolutamente defensiva. Não têm a menor condição política de serem agressivas para vencer, têm muito poucas explicações para correr do leilão, como que atestando que iriam a ele como criminosas detentoras de informações furtadas e, flagradas, desistiram do “crime”.
A esta altura é provável que os mesmos emissários do governo americano que lhe passaram dados da Petrobras já tenham ordenado que “não se arrisquem a vencer” e complicar a crise diplomática já suficientemente grave.
Se a Petrobras, a despeito das dificuldades que lhe criou a ANP – aí sim, há um foco de oposição à hegemonia da Petrobras sobre o pré-sal – já estava pronta para disputar e vencer este leilão, para o qual se prepara há dois anos, obsessivamente, mais ainda está agora, quando o Governo brasileiro está politicamente calçado para tomar, como afirmou Dilma Rousseff em nota oficial, “todas as medidas para proteger o país, o governo e suas empresas”.
Haveria um outro tipo de adiamento possível: transferir o leilão para....nunca! E outorgar, por decreto, a exploração exclusivamente à Petrobras. Há esta faculdade legal, embora qualquer um saiba que isso vai ser questionado judicialmente até as calendas gregas.
Seria, inclusive para mim, que defendo o monopólio integral do petróleo, uma maravilha. Mas representaria outro risco que, honestamente, não creio que o Brasil possa correr.
Nem vou falar, outra vez, das necessidades de capital imensas que isso traria à Petrobras que, sem Libra, já sustenta um plano de investimentos de mais de US$ 280 bilhões nos próximos quatro anos.
Ter esta opção significaria deixar o petróleo de Libra disponível para, amanhã, dar-lhe um outro destino. E abrir caminho para revogar toda as regras de proteção ao Brasil estipuladas na lei que Lula e Dilma fizeram aprovar, a duras penas e com a obstrução do PSDB, DEM e outros “situacionistas-oposicionistas”.
Temos o jogo ganho, neste momento, para uma afirmação político-empresarial da Petrobras em escala impensável há apenas uma semana.
Adiar significa conceder uma “prorrogação” aos inimigos da Petrobras e do Brasil, para saírem da situação de descrédito e desmoralização em que se encontram.
Não apenas para Libra que, com a vitória da Petrobras, consolidará a aplicação da nova lei em todas as outorgas de áreas petrolíferas já descobertas, mas para a imensa área que a prudência técnica ainda não permitiu ser anunciada também como parte do pré-sal brasileiro.
Com a espionagem, a pirataria do petróleo está exposta nua e concretamente ante os olhos do povo brasileiro. A hora é de aproveitar essa evidência e avançar.
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