Nove
em cada dez estudantes de jornalismo sonham em sair da faculdade e ir
trabalhar na Globo. Mesmo aqueles que não admitem isso publicamente
pensam assim. Mas depois de ver o resultado do trabalho desses garotos:
Deborah Reis, Guilherme Henrique, Janaína Luisa e Nalim Garzesi, começo
a pensar que, pelo menos na classe deles, esta hipótese estatística
está furada.
Eles se debruçaram sobre a história de um colega que decidiu jogar tudo para o alto e recomeçar (alguém acha que isso é fácil?). O resultado é uma reportagem completa, que virá impressa como se fosse uma edição especial da revista Brasileiros, muito bem diagramada, cheia de boas imagens, bem a exemplo da publicação, que circula nas bancas mais completas da cidade.
Fiquem com o texto:
Luiz
Carlos Azenha nasceu em 23 de novembro de 1958 e cresceu na cidade de
Bauru, no interior paulista. Estudioso, sempre gostou de ler jornais ao
lado do pai, um comerciante comunista conhecido como 'seo Azenha'. O
hoje conhecido jornalista cresceu em plena época de ditadura militar no
Brasil e lembra-se bem de quando ajudava o pai a esconder livros sobre
comunismo no quintal de casa. Durante a infância, viu muitas vezes seu
maior herói sendo perseguido e preso por policiais. "Meu pai era
militante do Partido Comunista Brasileiro. Ele tinha uma vida
clandestina em Bauru. De vez em quando, desaparecia, geralmente quando
era preso. Minha infância teve muita tensão no ar, porque ele sumia sem
dar explicações. Havia uma sensação de perigo e isso nos deixava
extremamente ansiosos. Eu carrego isso até hoje", conta Azenha.
Apesar da ausência do pai
em alguns momentos, Azenha foi um garoto feliz e brincava muito na
rua, junto com o irmão. Sempre jogou futebol na frente de casa e também
praticava tênis em uma quadra perto de onde morava. Porém, por causa
da influência de seu pai nas leituras e do período da ditadura,
escolheu muito cedo a profissão que seguiria por toda a vida. Sua
primeira experiência com o jornalismo foi no jornal Abelhinha, que
circulava no Instituto de Educação Ernesto Monte, colégio em que cursou
o ensino médio. O nome do jornal era uma referência ao apelido do
jornalista, que quando criança era chamado de "Abelhinha". Sérgio
Tibiriçá Amaral, um colega de infância, conta como foi a produção do
jornal escolar. "Eu conheci o Azenha no colégio, nós estudávamos
juntos. O Azenha teve um jornalzinho, que se chamava Abelhinha, e uma
das entrevistas que ele fez nessa época foi com o Osíris Silva - que
também estudou no Ernesto Monte e era então presidente da EMBRAER. Na
realidade, ele criou a EMBRAER. Foi uma das primeiras entrevistas do
Abelhinha", conta Sérgio.
Ainda
com 14 anos, Azenha começou a trabalhar em um tradicional veículo
impresso de Bauru, o Jornal da Cidade. Nesse início de carreira, Azenha
fazia de tudo um pouco, até transmissões internacionais de fotos por
sinal de rádio, e teve como parceiro um colega de infância, Luiz
Malavolta, que relembra como era a atmosfera do trabalho jornalístico
naquela época. "A profissão acabara de ser regulamentada, faltava mão
de obra e o jornal havia instalado um aparelho novo, o offset. A gente
foi trabalhar nesse jornal, éramos uma espécie de estagiários, não
tínhamos nem vínculo trabalhista. A gente era muito menino".
A
infância de Azenha, embora marcada pela ditadura, também foi muito
feliz. Sérgio conta um episódio da época: "Nós seguimos caminhos
diferentes, ele foi para o Jornal da Cidade e eu para o Diário de
Bauru, mas ele fez cada coisa... Uma vez, ele pregou uma peça no
Malavolta, o Luiz Malavolta. Ele, eu e mais um ligamos pra casa de um
cara lá. A tarde inteira ligamos e falamos: 'Alô, é da casa do
Batatinha?'. Depois, o Azenha deixou um bilhete para o Malavolta:
'Senhor Malavolta, tem uma reportagem urgente, liga para o Batatinha'. O
Malavolta não tinha telefone na casa dele, naquele tempo não havia
muitos telefones. Então, ele foi ao jornal, ligou às 11 horas da noite
para o cara e falou: 'Alô, é da casa do Batatinha?'. E aí falaram:
'Batatinha é a p*** que o pariu'."
Algum tempo depois, com
17 anos, o jornalista ganhou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e,
com esforço de sua família para pagar a passagem, foi para Nova York,
onde permaneceu estudando por um ano. A primeira experiência no
exterior foi muito importante para a carreira do jornalista, que
futuramente seria chamado para voltar aos Estados Unidos, já que esse
período possibilitou-lhe adquirir um inglês fluente - o que não era
comum na época - e uma profunda vivência no cotidiano naquele país. Ao
voltar para o Brasil, fez seis meses de cursinho e saiu do jornal de
Bauru. Juntou todas as economias que tinha acumulado ao longo dos anos e
foi para São Paulo, iniciar seu curso de Jornalismo na Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em 1978.
Porém, a faculdade foi um período muito difícil para Azenha, que
precisava trabalhar para se sustentar. Sendo assim, um ano e meio após
ingressar na ECA, voltou para sua cidade natal. "Eu fazia um semestre
e, depois, fazia dois. Eu fiz um crédito na faculdade e levei muitos
anos para terminar, quase sete anos", explica o jornalista.
Em 1980, com 22 anos,
Azenha iniciou sua carreira televisiva na TV Bauru, afiliada da Rede
Globo. Ele conta como foi essa transição: "A televisão caiu meio que do
céu. Bauru foi uma das primeiras cidades do Brasil a ter sua própria
emissora de TV. E, aí, quando surgiu a Globo, era aquela coisa do
interior, poxa, a Globo vai contratar e tal, e fomos todos".
Inicialmente, o jornalista não foi contratado como repórter, mas sim
para trabalhar na redação, como editor. Foi quando o chefe de
reportagem o chamou para fazer uma matéria de rua. Ele gostou da
experiência e, desde então, não parou mais.
Em 1984, a afiliada da
Globo em Bauru ganhava destaque por seu desempenho na programação e
pelo crescimento de audiência. Então, houve uma grande expansão para o
resto do interior paulista, principalmente São José do Rio Preto.
Azenha foi convidado por seu chefe para assumir o cargo de diretor
daquela nova sede e ganhar um salário de executivo. Mas, nesse período,
ele ainda não tinha concluído o que considerava prioridade em sua vida
- o curso de Jornalismo em São Paulo ainda se arrastava. Assim, Azenha
deixou a Rede Globo pela primeira vez para voltar a São Paulo. A
justificativa que deu para o chefe foi curiosa. "Sabe o que acontece,
se eu ficar aqui em Rio Preto, provavelmente vou casar com uma
fazendeira. Nada contra as fazendeiras, mas vou ficar aqui para o resto
da vida, e não é isso que eu quero. Eu quero viajar, quero sair
daqui".
Azenha fez as malas e
voltou a São Paulo para finalmente terminar a faculdade em 1985. Foi
quando por coincidência, coisa do destino, passou em frente ao Hospital
das Clínicas, tradicional hospital paulistano, e encontrou o
jornalista Heraldo Pereira, que conhecera quando trabalhava na Globo de
Bauru. Heraldo fazia um link ao vivo para informar sobre o estado de
saúde do presidente eleito em janeiro daquele ano, Tancredo Neves, que
estava internado em estado grave. Conversa vai, conversa vem, Azenha
ficou sabendo de uma vaga de repórter na TV Manchete, em São Paulo.
Como estava desempregado, decidiu tentar e conseguiu entrar na
emissora. Logo após sua chegada, fez uma cobertura que, para ele, foi
marcante, sobre as eleições municipais de São Paulo, quando Jânio
Quadros ganhou de Fernando Henrique Cardoso. "Transmiti uma coisa que
foi vexatória de certa forma, porque no dia da eleição do Fernando
Henrique... na verdade, a imprensa toda torcia pelo Fernando Henrique. O
DataFolha fez uma pesquisa dando a vitória a ele e eu estava na
redação da Folha transmitindo para a TV Manchete. Aí, vinha o resultado
da eleição dizendo que o Jânio estava ganhando. Mas a pesquisa do
DataFolha dava vitória do Fernando Henrique. Então, ficou aquele
impasse, aquele mico no ar", explica Azenha.
Naquele mesmo ano, ainda
na TV Manchete em São Paulo, Azenha foi surpreendido por seu chefe com
um convite para substituir o então correspondente internacional,
Antônio Augusto, da emissora em Nova York, que iria se casar e mudar
para a Califórnia. Nessa época, seu inglês era fluente graças à
passagem pelos EUA quando adolescente. Acostumado com a cultura
americana, Azenha aceita o convite e vai para Nova York no dia 7 de
dezembro. Inicia assim a sua jornada como correspondente internacional.
O jornalista foi muito bem-sucedido nos Estados Unidos. Lá, cobriu
diversas pautas políticas e econômicas, que entraram no jornal mais
importante da casa, exibido para todo o Brasil, garantindo ainda mais
audiência para a emissora.
Em 2001, Azenha recebe um convite
para voltar à Rede Globo, emissora em que já havia trabalhado na década
de 1980, e segue em Nova York como correspondente internacional. Assim,
foi um dos responsáveis pelas coberturas no exterior que entravam no
Jornal Nacional. Entre 2001 e 2005, Azenha realizou as mais diferentes
matérias. Em 2002, por exemplo, na cidade de Nova Délhi, na Índia, o
jornalista preparava uma série de reportagens intitulada "O mundo da
bola" para o JN, com enfoque voltado para a Copa do Mundo daquele ano,
realizada na Coreia do Sul/Japão. "Era uma matéria sobre a exploração de
crianças que costuram bolas", explica Azenha.
Na região de Jalandhar, norte da
cidade, Azenha seguiu os passos de um produtor local, sem imaginar o que
aconteceria a seguir. Na busca por imagens que comprovassem a
exploração, Azenha e Sherman Costa, cinegrafista, conhecem, enfim, uma
criança que era vítima de tal prática. A situação, no entanto, ganharia
um contorno diferente do esperado pelos jornalistas. "Quando estávamos
na casa de uma das crianças que costuravam, o pai dela chegou e se
revoltou", conta Azenha. Não demorou para que a revolta tomasse conta
dos habitantes locais, que não entenderam a proposta dos chamados
"ocidentais". Depois de tentar negociar, Azenha levou socos e pontapés
nas ruas indianas. "Eu, o Sherman e um produtor indiano da BBC fomos
literalmente espancados. Roubaram minha câmera. Foram dez minutos de
terror total. Para nossa sorte, um senhor da religião sikh, que deveria
ser autoridade no local, pegou a chave do carro e nos deixou ir
embora", conta.
Em 2004, Azenha vai ao Haiti para
acompanhar a seleção brasileira de futebol em um amistoso promovido pela
Organização das Nações Unidas (ONU). O evento serviria para ajudar o
país, devastado por anos de guerra civil. A reportagem, voltada para o
futebol, ganhou novamente contornos sociológicos e humanitários logo nas
primeiras impressões, segundo Azenha. "Nem na África fiquei tão
impressionado com o cenário visto. Corpos aparecem jogados na rua toda
manhã. As favelas brasileiras parecem bairros de classe média quando
comparadas aos bairros de Porto Príncipe". Esse lado emotivo que Azenha
às vezes esconde é exposto por seus colegas. "A princípio ele passa a
impressão de ser uma pessoa fechada e dura, mas não é. Ele é
extremamente generoso no olhar para os entrevistados, principalmente. Eu
vejo como ele trata as pessoas, é sempre muito correto, muito aberto.
Isso é uma característica muito marcante dele, que o faz ser um bom
profissional e um amigo também", declara Márcia Cunha, colega de
trabalho.
Em meio a uma missão de paz, todas
as sensações se tornam ainda mais afloradas. O cenário no Haiti traduz
uma situação que não deve ser entendida apenas pela ótica da razão, mas
pelo sentimento de um povo que vive uma catástrofe por dia, sobretudo
em um país que sempre foi assolado por disputas entre militares e
guerrilheiros civis. Em um panorama deteriorado pela guerra, o esporte
pode ser uma salvaguarda, segundo Azenha. "Aquele jogo entre as seleções
ficou na memória como símbolo dos bons tempos. No período em que
fiquei no Haiti, sorri com as crianças, fiquei triste com a miséria
daquele lugar e com a falta de perspectiva das pessoas que vivem ali", o
jornalista relembra.
Um ano antes de voltar ao Brasil, em
2005, para a cobertura que culminaria em sua saída das Organizações
Globo, Azenha, ainda como correspondente internacional da emissora, vai
ao Iraque acompanhar as missões de paz promovidas pela ONU no país,
invadido pelas tropas militares norte-americanas após o atentado de 11
de setembro ao World Trade Center, em Nova York. Estava mais uma vez ao
lado do cinegrafista Sherman Costa. Azenha descreve a ocasião. "Visitei
o país semanas antes da ocupação americana. Os inspetores da ONU ainda
estavam lá, procurando armas de destruição em massa. Armas que nunca
foram encontradas". Em uma das últimas matérias internacionais antes de
voltar ao seu país natal, mais uma vez se depara com um cenário pouco
convidativo. "Durante a viagem, contei ao motorista muçulmano que a
guerra chegaria em uma semana. Dias depois, a Operação Choque e Espanto,
promovida pelo governo norte-americano, se confirmou", conta Azenha.
Em 2006, Azenha deixa os EUA e
retorna ao Brasil como repórter especial da Rede Globo. A principal
tarefa: cobrir as eleições presidenciais daquele ano, que tinham como
candidatos principais Luiz Inácio Lula da Silva, que buscava a
reeleição, e Geraldo Alckmin, do PSDB, representante da oposição. A
partir desse momento, a passagem de Luiz Carlos Azenha pela emissora
estaria com os dias contados. "Nessa cobertura eu vi como funcionava a
cobertura política da Rede Globo. Fiquei chocado com o que vi", conta o
jornalista. Coberturas tendenciosas e matérias que omitiam informações
importantes eram constantes naquele momento. "A Veja fazia uma denúncia
no sábado. Imediatamente, a Globo fazia uma reportagem sobre essa
denúncia, sem investigar, checar ou apurar qualquer tipo de informação.
Uma das matérias afirmava que o irmão do Lula tinha feito negócio com o
Governo", acrescenta Azenha. No meio desse cenário conflituoso,
abalado com tudo o que estava presenciando, o jornalista sofre uma
grande perda em sua vida: a morte do pai. Azenha passa por momentos
difíceis e se vê na obrigação de relembrar um passado feliz e ao mesmo
tempo doloroso. Nesse momento de dor, conta com a amizade e o apoio de
um amigo, Rodrigo Vianna, com quem divide até hoje o ambiente de
trabalho. "Eu estava na redação quando ele recebeu a notícia de que o
pai tinha morrido. Ele, uma pessoa provocativa e turrona, estava muito
mexido, porque ia ter de lidar com as coisas do pai. Aí, eu vi que ele
tinha um lado emotivo. Ele chegou pra mim e disse: não está fácil,
agora que eu estou vendo o quanto meu pai foi importante pra mim",
relembra Rodrigo.
A vida segue e o jornalista, agora
sem o apoio do pai, encontra-se ainda mais indignado com tudo o que
acontecia nas matérias sobre a disputa presidencial. Marco Aurélio
Mello, outro amigo, editor de economia do Jornal Nacional naquele ano,
destaca que algumas viagens a Brasília aumentaram o nível de
desconfiança vivido por certas pessoas na redação de São Paulo.
"Destacaram-me para ser editor do Azenha em 2005. Quando o PT caiu no
escândalo do mensalão, a Globo transformou aquele acontecimento em algo
desproporcional, levando em consideração outros escândalos que
aconteciam simultaneamente", conta Marco Aurélio. De acordo com Vianna,
que também se insurgiu contra as imposições da emissora, os chefes da
Globo passaram um abaixo-assinado para todos os jornalistas. O documento
dizia que os funcionários que o assinassem estavam de acordo e
concordavam com tudo o que estavam sendo feito durante a cobertura
eleitoral de 2006. "Eu me recusei a assinar. O Azenha me ligou e disse
que também não tinha assinado. Era um absurdo", comenta Rodrigo.
Os dois jornalistas reclamavam da
preferência da emissora pelo candidato Geraldo Alckmin. Azenha se deixa
então levar pela consciência política, forjada ainda em Bauru sob
influência de seu pai, comunista na época da ditadura, e começa a
perceber aquilo que considerava uma união de forças para atingir o então
presidente Lula. "Ninguém me contou. Eu presenciei. Eles sempre
divulgavam matérias contra o Governo do Lula, contra o PT, mas se havia
alguma notícia sobre um escândalo do PSDB, eles não falavam no Governo
do Fernando Henrique nem citavam o partido, só falavam que era no
Governo anterior. Justamente para não falar do PSBD no ar. Era claro que
eles tinham um lado", explica Azenha.
Na época, indignados com a situação,
o então editor de economia e outros profissionais responsáveis pelo
setor no Jornal Nacional reportaram o erro aos diretores de jornalismo.
"Houve uma reunião com Carlos Schroeder para reclamar da parcialidade
na cobertura", explica Mello. Para tentar amenizar a revolta dos
funcionários, o chefe da Globo decidiu então que Azenha faria uma
reportagem repercutindo a capa da revista Isto É, que denunciava ter
havido superfaturamento na aquisição de ambulâncias da rede pública
estadual de saúde em São Paulo. O escândalo foi descoberto no Governo
Lula, mas teve início no Governo Fernando Henrique. O superfaturamento
ocorreu efetivamente durante o mandato de José Serra como governador de
São Paulo. "Antes, eu já tinha feito uma denúncia sobre o PT e, nessa
matéria, tive todos os recursos de que precisei. Agora, na denúncia das
ambulâncias, eu não tive recurso nenhum. Achei muito estranho, mas
conseguimos reunir informações suficientes. Porém, a matéria nunca foi
ao ar. Aí, a ficha caiu de vez", conta Azenha.
Para o jornalista, não há problema
em um veículo defender um partido politico, desde que isso seja assumido
e não se tente enganar a população. "Se a Globo disser que defende o
PSDB, ótimo. Deixa-se claro para o público. Mas como TV é uma concessão
pública, eles não fazem isso", explica. Grande parte dos veículos,
sejam eles impressos, televisivos ou até mesmo virtuais, não assume uma
postura política clara, pois, de forma geral, são empresas
capitalistas. Há um interesse político e principalmente econômico, já
que o Estado é um grande provedor de verbas publicitárias. O jornalista
e sociólogo Laurindo Leal Filho explica por que a emissora não deixa
explícita sua postura política. "Grande parte dos recursos da Globo vem
do Governo Federal", diz Laurindo.
Em 2007, insatisfeito com tudo o que
presenciou na maior emissora brasileira e cansado de tanta
manipulação, Azenha liga para seu chefe, Carlos Schroeder, pede a
rescisão de seu contrato e deixa a Rede Globo pela segunda vez. "Ele
fez uma maluquice. Abriu mão do contrato dele, foi para Washington,
ficou sem ganhar dinheiro e sem trabalhar", lembra Mello. Na época,
Azenha fez um acordo com a emissora. Como encerrou seu trabalho antes
do previsto em contrato, teve de ficar quase dois anos fora da
televisão, e não poderia ingressar em nenhuma outra emissora para não
pagar a multa rescisória.
Conforme acordado, o jornalista
ficou distante de sua profissão. Porém, nesse meio tempo, Azenha não
ficou parado. Foi para Washington, nos Estados Unidos, para estudar
sobre internet e descansar um pouco, depois de tantos anos de trabalho.
Além disso, manteve por alguns meses uma coluna no portal Terra. Já no
final de 2008, logo após sua volta para o Brasil, foi convidado para
trabalhar na principal concorrente da Globo, a Rede Record. Após o fim
do período acordado de afastamento, volta à televisão e estreia no
Jornal da Record com matérias especiais. "Em outubro, cheguei à TV
Record. Aceitei o projeto por causa da liberdade dada pela emissora. Ela
não opina sobre meu blog, isso é muito importante. Eles não mexem no
meu texto, prática muito comum na Rede Globo. Aqui, é como se o
profissional tivesse oxigênio, fator fundamental para todo jornalista.
Eles me contrataram sabendo da minha história e isso faz toda a
diferença", explica Azenha.
Feliz com sua chegada, Azenha logo
reencontraria antigos amigos de trabalho, como Rodrigo Vianna, Marco
Aurélio Mello e Luiz Malavolta, e ganha liberdade para a criação de
diferentes pautas, o que o fez sentir-se ainda mais à vontade. "Você não
poder colocar sua voz no seu trabalho é uma frustração muito grande.
Para mim, foi muito bom reencontrar minha voz", acrescenta Azenha. De
que a Globo e a Record são concorrentes ferrenhas, ninguém duvida. As
duas emissoras já vinham trocando reportagens com acusações mútuas havia
algum tempo. A rede carioca tinha acusado o bispo Edir Macedo, dono da
Record, de desviar dinheiro dos fiéis da sua Igreja para a emissora.
Mas com Azenha e Rodrigo Vianna na equipe, as matérias contra a
emissora da família Marinho se intensificaram.
Em julho de 2012, a Record fez uma
denúncia contra o então presidente da Confederação Brasileira de
Futebol, Ricardo Teixeira. Na matéria, era sugerido que o cartola da CBF
tinha sido subornado, junto com João Havelange, seu ex-sogro, pela
Rede Globo, para garantir à emissora os direitos de transmissão da Copa
do Mundo. A denúncia mostrava que o valor recebido chegava a quarenta e
cinco milhões de reais. Um documento provava que, logo após a
negociação, Teixeira tinha comprado uma fazenda milionária no Rio de
Janeiro e aumentado seu patrimônio. Logo após a matéria, exibida no
Jornal da Record, Teixeira renuncia ao cargo. "Essa é uma matéria de que
eu me orgulho muito. É satisfatório quando você consegue fazer uma
coisa inédita", Azenha afirma.
Também marcou muito a carreira do
jornalista na Record uma série de reportagens especiais sobre o período
da ditadura militar e suas vítimas, exibida em junho de 2013. "A Globo
cresceu em função da ditadura. Ela foi escolhida pelos militantes para
ser uma parceira. Ela contou com vários benefícios do Governo. Quando
os manifestantes dizem na rua que a Globo é um filhote da ditadura, é
verdade. Ela só dava informações que interessavam ao governo e seus
sócios", argumenta Azenha. Porém, essa declaração do jornalista gera
muita polêmica, pois, mesmo sabendo de toda a história da emissora
carioca, ele trabalhou nela durante muitos anos. Para André Lux,
blogueiro também afinado com o jornalismo alternativo na web, as
declarações de Azenha contra a Globo são fruto "de puro rancor".
Laurindo Leal Filho acredita que a Record dá esse espaço para Azenha
porque está em busca de audiência. "A matéria sobre a ditadura foi uma
questão mercadológica. Eles querem bater de frente com a Globo, querem
ganhar audiência. A Record usa a estratégia de copiar a forma da Globo,
por ter aceitação imediata do público, mas em conteúdo abre um espaço
maior", explica Laurindo.
O filho do comerciante de Bauru
produziu essa série especial com uma emoção a mais, pois ele próprio
também foi uma das vítimas da ditadura. Assim, pôde relembrar um pouco
de sua infância difícil. Na produção da série, Azenha trabalhou com uma
amiga que conheceu na redação, mas com quem tem uma amizade fora dela
também, a editora Márcia Cunha. "Quando o Azenha chegou aqui, a primeira
matéria dele fui eu quem editou. Era uma série sobre profissões
perigosas, e a gente se deu superbem. Muitas vezes, é difícil trabalhar
com ele, mas não no sentido de ser inviável ou de ser desagradável. Ele
é muito inquieto, não se conforma com a notícia, com o que é dado de
cara. Ele sempre desconfia do que pode estar por trás da notícia. A
gente fica muito tempo na redação discutindo um tema, é um mergulho no
assunto. É uma parceria legal".
O tema da série sobre a ditadura
surgiu a partir de um seminário realizado na Comissão da Verdade
Nacional, que acontecia em São Paulo. Azenha teve acesso aos depoimentos
dos filhos de pessoas que foram torturadas no período militar. Para
Márcia, foi um trabalho bem marcante, pois havia histórias muito fortes
de sofrimento. "O Azenha sugeriu essa pauta na redação e me chamou para
fazer parte do projeto. Fazer essa revisão histórica, poder colocar na
televisão uma matéria tão grande sobre um tema muito árido... Poucas
emissoras abertas dariam espaço para isso. A gente pôde falar
abertamente sobre tudo e tivemos liberdade total. O resultado deixou a
gente bem feliz", acrescenta Márcia. Azenha concorda que há liberdade na
Record, mas admite que a emissora também tem seus limites. "A gente
não faz tudo o que quer no lugar que trabalha. Aqui na Record também há
restrições."
Em julho de 2013, Azenha trabalhou
em mais uma denúncia contra a Rede Globo. A notícia surgiu na internet,
quando Miguel do Rosário, blogueiro conhecido no chamado meio
alternativo, publicou em seu site documentos que mostravam uma dívida da
emissora carioca com a Receita Federal. A Globo foi multada pela
Receita por sonegar cento e oitenta e três milhões de reais de impostos
durante a compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.
De acordo com os documentos apresentados, a Globo criou uma conta nas
Ilhas Virgens Britânicas, livre de impostos fiscais, para burlar a lei.
Em 2006, juntando a multa e os juros, a dívida já somava mais de
seiscentos milhões de reais. Além disso, a emissora também era
investigada por uma possível ligação com uma funcionária da Receita
Federal, chamada Cristina Maris Meinick Ribeiro, que teria sumido com o
processo de investigação. A mulher foi condenada pela Justiça Federal
do Rio de Janeiro e ficou presa apenas alguns dias, pois conseguiu um
habeas corpus.
Até o momento, a emissora não
mostrou o DARF, documento que comprova o pagamento à Receita. Logo após a
publicação da denúncia, a repercussão foi imediata. Um grupo de
blogueiros, incluindo Azenha, divulgou a notícia pela blogosfera.
Acuada, a Rede Globo emitiu uma nota em seu site, G1, defendendo-se da
acusação: "Ao contrário do que vem sendo divulgado por alguns sites, as
Organizações Globo não têm qualquer dívida em aberto com a Receita
Federal ou outros entes arrecadadores de tributos. Quanto à publicação
de documentos confidenciais, protegidos por sigilo legal, acreditamos
que o assunto será apurado pelos órgãos competentes". O jornalista,
sempre disposto a trazer as notícias da internet para a TV, sugeriu essa
notícia como pauta para a Rede Record, que, no mesmo mês, divulgou
duas matérias que mostravam à população a dívida da Globo.
Mesmo com os momentos de conflito na
emissora carioca, não é possível apagar toda a história que Azenha
construiu lá dentro. O jornalista coloca na balança tudo o que viveu e
conclui: "Minha passagem pela Globo teve dois lados. Eu também fiz
coisas fascinantes lá. Foi um aprendizado muito grande. Mas a fase final
foi uma constatação surpreendente, eu não esperava. Mas a repercussão
foi uma coisa boa, se isso não tivesse acontecido, eu não teria me
libertado". Cleyton Torres, jornalista e integrante do Observatório da
Imprensa, acredita no potencial do repórter e na sua importância para a
televisão brasileira. "Azenha tem histórico, tem uma bagagem de
conhecimento respeitável e, por isso, conseguiu conquistar seu espaço",
explica Cleyton. O jornalista, professor da ECA e especialista em
ética, Eugênio Bucci, conclui: "Sempre fui fã e sempre gostei muito do
trabalho do Azenha. Ele é um profissional de bagagem, que conhece os
padrões, conhece os critérios e sabe o que faz."
VioMundo
O que você não vê na mídia
Nem nos manuais de redação
Azenha sempre foi apaixonado pela
internet. Em 2003, trabalhando em Nova York como correspondente
internacional da Globo, resolveu criar o seu próprio blog. No início, a
intenção era modesta: apenas abrir um espaço para discutir política,
além de contar suas experiências e os bastidores do seu trabalho. "Eu
comecei a ficar extremamente insatisfeito porque as minhas matérias
internacionais tinham apenas 60 segundos no Jornal Nacional. No blog, eu
poderia escrever tudo o que não tinha saído na televisão", explica
Azenha.
Em 2006, o site tomou um novo rumo. O
jornalista, já em São Paulo, mas ainda trabalhando na Globo, começou a
publicar denúncias políticas. No segundo semestre do mesmo ano,
aproximando-se as eleições que Lula e Geraldo Alckmin disputavam para
chegar à Presidência do Brasil, surgiu uma denúncia de que o PT havia
comprado um dossiê contra o candidato tucano. Perto do dia da votação,
fotos do dinheiro usado na compra do dossiê vazaram na internet. Azenha
teve acesso a uma gravação exclusiva e sigilosa. "Era uma conversa
entre o delegado Edmilson Bruno, da Polícia Federal, e um grupo de
jornalistas. Esse delegado vazou as fotos do dinheiro. Mas ele só
divulgou em cima da hora, o que dava a entender que havia sido comprado
para arranjar um escândalo perto das eleições. Essa gravação mostrava o
delegado falando, editando com os jornalistas. Ele falava: 'Nessa
imagem coloquem Photoshop. Eu vou dizer para todo mundo que foi uma
faxineira que pegou as fotos do computador'", conta o jornalista.
Com uma denúncia tão grave nas mãos,
Azenha resolveu divulgar em seu blog a gravação (à qual, por sinal, a
Globo também teve acesso, mas preferiu não divulgar). Logo após a
publicação no VioMundo, Azenha recebeu uma ligação de seu chefe, Carlos
Schroeder, perguntando por que ele havia colocado aquela matéria no
blog, já que era repórter da Globo. "Eu coloquei no meu blog porque era
uma informação relevante. A Globo foi uma das emissoras que divulgou o
escândalo, mas não veiculou a conversa dos bastidores. Com isso, eu já
fiquei estremecido. Mas o meu blog bombou. Foi um salto de audiência",
explica Azenha.
Desde então, o blog tornou-se
referência para a chamada blogosfera progressista, mídia que não para de
crescer e tem como objetivo criar um contraponto à mídia tradicional,
como explica Cleyton Torres, jornalista e integrante do Observatório da
Imprensa: "Os blogs são fundamentais para a fomentação de novas
ideias, críticas e opiniões. Eles dão às pessoas a possibilidade de
enxergar das maneiras mais diversas o outro lado da moeda; cabe a essas
pessoas, posteriormente, aderirem à visão que julgam conciliar com
seus valores". A jornalista e blogueira Sônia Amorim afirma que "um
blog progressista deve estar antenado com atitudes avançadas, cidadãs e
democráticas". André Lux, jornalista e blogueiro, completa: "Trata-se
de lutar pelos excluídos, por justiça social, por igualdade de
direitos, pela igualdade racial, pela igualdade de direitos entre
homens e mulheres, pela democracia. É ser contra o neoliberalismo e os
atores políticos e sociais que o defendem".
Porém, ao mesmo tempo em que os
jornalistas têm mais espaço para expor suas opiniões na internet, também
acabam enfrentando outros dilemas, como as questões envolvendo a honra
e a imagem de uma determinada pessoa. Azenha conhece bem esse
problema. Em março de 2013, o jornalista foi condenado a pagar uma
indenização de trinta mil reais por danos morais a Ali Kamel, diretor
de jornalismo na Rede Globo. Kamel alegou que sofreu perseguições
pessoais de Azenha, veiculadas no site VioMundo, e que seu nome foi
citado mais de 28 vezes no blog desde 2008, destacando que as
publicações foram difamatórias e causaram danos à sua vida pessoal. "Na
época eu fiquei muito revoltado, gastei uma grana com advogado", conta
Azenha.
A atuação de Azenha no episódio
divide opiniões. Miguel do Rosário, do blog Cafezinho, acredita que as
críticas de Azenha foram somente políticas e que o blog é uma ferramenta
pessoal, no qual ele pode publicar sua opinião sobre fatos atuais e
pessoas públicas, sendo Kamel uma delas. Já para André Lux, a liberdade
de expressão ultrapassou o seu limite e as críticas não foram tão
políticas assim. "Os textos dele e dos outros ex-globais contra o Kamel
foram de uma estupidez sem tamanho. Poderiam ter feito mil críticas ao
trabalho dele, mas partiram para o lado pessoal, com brincadeiras de
mau gosto, e aí abriram uma brecha para que ele os interpelasse na
justiça", explica. Alvaro Benevenuto, também jornalista e pesquisador de
redes sociais, acredita que Azenha "assumiu o risco de ofender alguém,
mesmo sendo pessoa pública. É uma questão ética do jornalismo".
Cleyton Torres explica que "a
liberdade nos blogs, tão almejada por alguns profissionais, acaba sendo
confundida com quebra de leis, difamação e injúria. A linha tênue entre
o pessoal e o público é muito delicada". Alvaro acrescenta: "O limite
está na ética pessoal e profissional, nas regras básicas da convivência
em sociedade e nos instrumentos de regulação da vida nacional". Para
Eugênio Bucci, as discussões nos blogs e as diferentes posições
políticas fazem com que a democracia exerça seu papel e se fortaleça. "O
fundamental é que, na sociedade, todas as pessoas tenham voz", explica
Bucci. Cleyton ainda acrescenta: "O que é ofensivo para um pode não
soar ofensivo para outro. Por ser o blog um canal independente e com
tom político, aqueles contrários às suas opiniões podem enxergar uma
brecha em suas colocações, o que geraria processos. O fato de ser
processado algumas vezes pode significar que ele está saindo da linha
ou, no mais, que está atingindo as pessoas certas".
Azenha não foi o único a ser
processado por Ali Kamel. A onda de críticas contra ele, que afetava
diretamente a imagem de empresários, políticos e governos, fez com que
mais ações judiciais fossem movidas contra os blogueiros progressistas.
Rodrigo Vianna, repórter, e Marco Aurélio Mello, editor de texto,
ex-funcionários da Rede Globo, também foram processados e condenados a
pagar indenizações a Kamel. Paulo Henrique Amorim, apresentador do
Domingo Espetacular, programa semanal da Record, também não ficou de
fora e foi condenado. As indenizações variam entre dez e cinquenta mil
reais. Porém, há outros jornalistas na blogosfera que não podem arcar
com os processos e advogados. Por isso, em abril de 2013, foi criado
pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé,
instituição cujo objetivo é democratizar a comunicação na rede, um fundo
financeiro para auxiliar no custo dos processos de quem não tem verba
suficiente.
Independentemente de postura
política, os blogs acrescentam e muito na construção da notícia e da
verdade. O grupo de blogueiros progressistas também conta com a presença
de Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Paulo H. Amorim, jornalistas
da Rede Record. Porém, há quem diga que este grupo, privilegiado por
poder fazer um intercâmbio de informações da internet para a televisão, é
fechado e não aceita opiniões. André Lux afirma que "alguns blogueiros
que têm mais destaque e leitores formaram uma espécie de 'clubinho'
fechado, por meio do qual tentam manipular e dirigir o resto da
blogosfera. Cheguei à conclusão de que isso era um absurdo, porque o
caráter principal dos blogs é justamente a independência e a
pulverização. Assim, tentativas de guiar ou liderá-los me parece algo
que vai contra seu princípio básico. "Quando expressei essa minha
opinião a alguns desse grupo de 'medalhões', passaram a me hostilizar em
seus blogs". Sônia Amorim concorda com André e ainda acrescenta: "Eles
vêm do jornalismo, são macacos velhos, veteranos. E ainda por cima
dispõem de toda a estrutura de uma Rede Record por trás, fora os
salários. No meu entendimento, eles tentaram se apropriar da blogosfera
política, passaram a organizar eventos, encontros... Isso traz
vantagens financeiras, lucros, patrocínios, não? Azenha e Paulo H.
Amorim, sobretudo, são 'cobras criadas' do jornalismo. Não os considero
blogueiros, mas jornalistas que mantêm blogs".
Já Altamiro Borges, presidente do
Centro de Estudos Barão de Itararé, acredita que os chamados medalhões
ajudaram muito no crescimento e no movimento da blogosfera.
"Desculpem-me os blogueiros, mas se não fossem essas figuras, que têm
tanta visibilidade, o movimento da blogosfera teria muitas dificuldade.
Existiria, mas com muito mais dificuldade", explica Altamiro.
Desde setembro de 2007, Azenha conta
com a colaboração da também jornalista Conceição Lemes para a produção
de notícias no blog. Conceição explica como começou a trabalhar com
Azenha: "Eu era leitora e comentava de vez em quando no VioMundo. O
Azenha e eu começamos a trocar mensagens sobre um determinado assunto
nos comentários. Então, ele me convidou para fazer uma reportagem sobre a
febre amarela. Inicialmente, as minhas contribuições eram esporádicas.
Mas, aos poucos, foram ficando cada vez mais assíduas".
Devido ao seu trabalho de repórter
especial na Rede Record, às constantes palestras de que participa e aos
projetos de livro que toca paralelamente, muitas vezes Azenha acaba se
ausentando de São Paulo e até mesmo da internet. Sendo assim, quando o
jornalista não consegue publicar, Conceição administra toda a produção.
"Faço de tudo no site: modero os comentários dos leitores, seleciono
matérias, posto-as, sugiro pautas, faço reportagens etc. Azenha e eu
somos editores. Na prática, somos pau para toda obra. Nós dois tocamos o
VioMundo", explica a jornalista. O blog recebe colaboração pontual dos
internautas. Todos os leitores do site podem produzir uma matéria e
sugeri-la para publicação. Mas Azenha explica que "a tendência é o blog
ter cada vez mais conteúdo próprio e produção interna".
Atualmente, o VioMundo, que conta
com mais de cem mil leitores diários, se mantém graças ao salário que
Azenha recebe na emissora em que trabalha. O site também recebe
contribuição voluntária de seus fiéis leitores. "Eu assumi um
compromisso com os meus leitores. Todo o dinheiro que for doado voltará
para a produção do blog, que é uma mídia colaborativa. Quero que a
pessoa tenha a satisfação de ler ali o que ela não encontra em nenhum
outro lugar", confirma Azenha. O jornalista não aceita publicidade
pública em seu site, posição que gera discordância por parte de Altamiro
Borges. "Ele acha que isso pode criar um tipo de vínculo. Eu discordo
dele. Não tem cabimento o governo federal dar verba para Globo, Veja,
Folha, Estadão, sendo que é dinheiro meu também, uma vez que eu pago
imposto. Portanto, isso é um direito meu também, eu não acho justo".
Conceição, braço direito de Azenha
no VioMundo, explica: "Fazemos campanha com os leitores para financiar o
site, já que nós não aceitamos recursos de governos e não queremos
depender de corporações. Aos poucos, o dinheiro que estamos arrecadando
com as assinaturas dos leitores já nos permite encomendar algumas
reportagens".
Azenha garante que seu site é
apartidário, que ele apenas expõe sua opinião política. "Meu blog é de
esquerda, defende ideias de esquerda. Quando o PT segue políticas que
são de esquerda, a gente defende. Quando o PT tem ideias de direita, a
gente critica. A esquerda é aquela que defende o interesse público. Eu
sempre tive ideologia de esquerda e meu blog é assim", comenta Azenha.
Como repórter da Record, ele garante
que a emissora não interfere em seu blog: "Ninguém pega no meu pé em
relação à minha posição política e ninguém interfere no meu blog".
Porém, não são todos que acreditam no discurso de esquerda. O jornal
Luta Operária, em uma publicação no dia 7 de junho de 2011, expôs sua
opinião sobre a posição política dos "medalhões": "Os 'blogueiros'
'chapa branca' limitam-se a atacar uma já decadente mídia golpista (a
qual denominaram PIG) e não o pacto oligárquico iniciado no governo Lula
com a dinastia Sarney no Maranhão e outros estados, além de
preservarem a Rede Record, do bispo Edir Macedo, onde, diga-se de
passagem, alguns estão empregados. Os blogueiros governistas tratam de
proteger Dilma e "escondem" consciente e criminosamente Sarney (e
outros falsos intelectuais corrompidos) das críticas, semeando ilusões
pequeno-burguesas na administração petista".
Para o jornalista e sociólogo
Laurindo Leal Filho, o governo precisa estimular formas alternativas de
mídia, descentralizando o poder que se concentra em algumas famílias
pelo Brasil. "Em um país em que oito ou nove famílias concentram a
comunicação e estabelecem o pensamento único, cabe ao governo estimular e
fortalecer a imprensa e o jornalismo alternativo, que estão nas
emissoras públicas e nos blogs, por exemplo. A sobrevivência desses
meios deve acontecer, também, por meio do financiamento público".
Altamiro acrescenta dizendo que essa
nova mídia precisa de uma regulamentação: "Para garantir a verdadeira
liberdade de expressão, democratizar a blogosfera".
Com planos para o futuro, Azenha
almeja ter sua própria rede de televisão no blog. "Acho que vai demorar
um pouco ainda. Primeiro, por causa de dinheiro; segundo, porque no
Brasil somente quarenta por cento da população tem internet de qualidade
em casa. Então, é um sonho de médio prazo. Preciso levantar capital.
Seria uma outra pegada, mais à esquerda, mais fora do eixo tradicional,
continuando com críticas e denúncias", conclui o jornalista. Ele diz
que, quando tiver a oportunidade de se sustentar somente com o dinheiro
da blogosfera, deixará a televisão.
No DoLaDoDeLá
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