A crítica ao esforço do governo brasileiro para monitorar a ação de
espiões norte-americanos e de outros países em nosso país é um típico
exemplo de mentalidade colonizada.
Dizer que é uma medida equivalente ao esquema de espionagem da NSA no país é puro absurdo.
A descoberta de que a NSA grampeava nossas autoridades, a começar pela
presidente Dilma Rousseff, revelou um país que mantém uma diplomacia
imperial.
É uma atitude preocupante, numa época em que se assiste a uma retomada
de uma política intervencionista por parte de Washington, com apoio e
sustentação a golpes de Estado contra governos eleitos, como ocorreu em
Honduras e no Paraguai.
Neste caso, Washington não demonstrou lealdade ao agir com os
brasileiros e precisava ser denunciado por isso. Não por essa razão,
países em outra posição na diplomacia internacional, como a Alemanha,
aliaram-se ao Brasil diante do mesmo problema. A ação da NSA deixou
claro que a Casa Branca pratica uma diplomacia de hegemonia e domínio.
Pode até ser útil para os interesses que dominam o governo americano mas
não oferece benefícios aos países atingidos.
No outro caso, temos medidas – parciais, limitadas, atabalhoadas, muitas
vezes pouco eficazes – do governo brasileiro para defender a soberania
de um país, ameaçada por uma ação de força por parte uma potência
externa. Todo esforço para proteger o território brasileiro neste caso
não só é inteiramente legítimo, como deveria ser estimulado e ampliado.
Apenas uma visão moderninha em excesso, de quem desconhece um dado
básico do fim dos impérios coloniais – a emergência dos interesses
nacionais –, poderia imaginar que estamos diante de medidas equivalentes
e igualmente condenáveis.
Implica em acreditar numa utopia juvenil segundo a qual com a abertura
intensa do comercio internacional ocorrida nas últimas décadas o planeta
teria entrado numa etapa madura de respeito e igualdade entre as
nações.
A consequência dessa visão é aquele tipo de pós-modernidade de quem não
se reconhece como brasileiro e procura ser neutro em conflitos
internacionais.
É como se fosse feio ter nacionalidade e provinciano exibir prioridade
nas questões em que o próprio país está envolvido. O passo seguinte,
claro, é pensar o mundo de forma politicamente polivalente, como se
todos os interesses fossem neutros e equivalentes.
Na realidade, este pensamento é parte de uma visão que considera
conveniente a um país como o Brasil abrir mão de direitos e
prerrogativas como nação na esperança de obter uma integração vantajosa
com Washington. Essa visão deu base, por exemplo, a uma política externa
que no passado levou o país a apoiar a proposta da ALCA, o esforço do
governo dos Estados Unidos para criar uma zona de livre comercio no
continente – sob sua hegemonia.
Em anos recentes, este ponto de vista raras vezes encontrou porta-vozes
tão claros como André Lara Rezende, um dos principais conselheiros de
Marina Silva, para quem “a questão do Estado-Nação ficou ultrapassada,”
conforme ele admitiu no livro O que os Economistas pensam sobre
Sustentabilidade (página 37).
Isso está errado, meus amigos. Se até a postura do craque Diego Costa,
ora brasileiro, ora espanhol, causou estranheza em muita gente, não
custa lembrar que ali estávamos falando de futebol e Copa do Mundo,
certo?
Fingir que na vida real não existem conflitos e diferenças entre países
diferentes, e que é legítimo a um governo assumir prioridades de seu
país, é o caminho mais curto para se aliar a política do mais forte. O
nome disso é raciocínio colonizado.
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