Marina só embroma com seu
vocabulário peculiar quando fala para o povo. Aos que mandam na economia
suas declarações são, agora, cristalinas.
O linguajar da pré-candidata Marina Silva não usa xale. O chega prá lá
que deu em Ronaldo Caiado surgiu meio extemporâneo e truculento, mas foi
esperto. Quem se abalaria a defender o conhecido ícone do
reacionarismo? Ocorre que o senador expulso do noivado Rede-PSB é também
um dos representantes parlamentares do agronegócio e foi a este que
Marina enviou claro e duro recado. Contribuinte importante do PIB
brasileiro por intermédio da produção de alimentos para o mercado
interno, o agronegócio responde ainda por enorme fatia das exportações
do País.
Em meio a intenso conflito de interesses com o sistema financeiro,
disputa com este os valores da taxa de juros e as oscilações do câmbio.
A ambos falta a possibilidade de elevar a taxa de extração de
mais-valia, vedada pela legislação social existente e pela defesa do
valor real do salário mínimo. O lacrimejante empresariado industrial tem
sido subalterno nesta peleja, incapaz de aproveitar as oportunidades
de negócios constantemente criadas pelas políticas de governo,
aguardando, talvez, o cenário em que os investimentos venham a ter
risco zero. Foi nesta operação de divide e multiplica que a
pré-candidata Marina Silva meteu sua colher, revelando em que prato
comeria: o do sistema financeiro.
Menos pelas relações de amizade com familiares do Banco Itaú e muito
mais pelos assessores próximos, alguns autorizados, Marina só embroma
com seu vocabulário peculiar quando fala para o povo. Aos que mandam na
economia suas declarações são, agora, cristalinas. Foi só depois dessa
tomada de posição, enfiada sem aviso prévio goela abaixo de Eduardo
Campos, que o levou pelas mãos para um encontro com banqueiros em São
Paulo. Declarações posteriores igualando os governos de Fernando
Henrique Cardoso aos de Luiz Inácio Lula da Silva nada tem de
surpreendentes. São avanços naturais no quintal de Aécio Neves, tendo
tomado conta, desde já, do de Eduardo Campos. Novas e intensas emoções
aguardam o mundo político.
Não dou muito valor aos quase vinte milhões de votos que Marina Silva
obteve em 2010. Inesperados, sim, mas sem capacidade de me convencer de
que representavam um eleitorado cativo, como o de José Serra, antes
que resultado de variáveis conjunturais. Ao contingente anti-petista
por convicção, mas ao qual o candidato José Serra não apetecia, como
não apetece, somaram-se os desgarrados da esquerda que encontraram na
então verde Marina uma saída honrosa, deixando-os em paz com a
lembrança da própria consciência. Mais os votos verdes, claro, mas não é
para ser esquecido que volume significativo do eleitorado verde
encontra-se nas áreas urbanas do Sudeste.
Afirmações contra-factuais são imunes a falsificação e não muito bem
vistas. Mas suspeito que se o Rede existisse como partido independente,
sua eventual candidata Marina Silva, agora madura, e há muito em
circulação, dificilmente chegaria à dezena de milhões de votos em 2014.
Exceto, vamos ao ponto, se viesse a receber a benção do sistema
financeiro, tal como se encaminha para receber agora. Essa é a
principal incógnita da equação eleitoral no momento presente.
Wanderley Guilherme dos Santos
No Carta Maior
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