O ser e o nada
O retorno de Roberto D’Ávila à TV trouxe uma interessante
entrevista, do ponto de vista do entrevistador, com Joaquim Barbosa. Por
Nirlando Beirão
por Nirlando Beirão
Roberto D’Ávila tem aquele jeito de moço fino, bonzinho e elegante, mas
pode ser maquiavelicamente cruel. Em seu retorno à tevê, a bordo do
Globo News, o suave D’Ávila elegeu uma notável vítima. Na estreia,
sábado de madrugada (com incansáveis repetições), anunciou que iria
levar ao ar o lado humano do ministro Joaquim Barbosa, presidente do
STF. Os telespectadores continuam procurando por ele. O apresentador
esperou sete meses pelo sim de Joaquim Barbosa. O que mostra a férrea
premeditação de sua malvadeza.
Foi uma interessantíssima entrevista, do ponto de vista do
entrevistador. Para o entrevistado, um desastre. Mostrou que, por trás
da toga punitiva, existe um vazio abissal. Barbosa é um nada
estrepitoso. Duvido que um único dos torcedores partidários do ministro
não tenha chegado ao fim daquela hora inteira de platitudes sem saborear
insuportável decepção. Barbosa não produziu uma escassa ideia. Ele não
tem nada a dizer além dos autos de sua particular Inquisição. Foi
constrangedor.
D’Ávila, com luvas de pelica, jogava a isca e Barbosa, encouraçado em
sua arrogância, nem sequer percebia. D’Ávila indicava, na delicadeza das
perguntas, saída lisonjeira para a resposta. “O senhor lê muito, não é?
Balzac?” Barbosa estufou o ego: “É, Balzac”. E mais não disse. “O que o
senhor escuta?” “Tudo.” “Beatles ou Rolling Stones?” “Os dois.”
O único momento em que Barbosa demonstrou alguma emoção foi ao falar de
racismo. Daquele jeito. O rancor pauta a vida dele. Deve ter sido mesmo
muito humilhado. Sugeriu até que Lula nomeou-o para o STF de olho na
cota, não em reconhecimento por seu currículo, brilhante, cosmopolita.
Fica difícil assim: deixar de nomear um negro teria sido racismo. Nomear
também é?
Um comentário:
Penso da mesma forma. Esperei a entrevista ansiosamente, pois sou advogada, e sempre quis ouví-lo de forma mais informal. Mas me decepcionei. Barbosa critica, critica e critica. Soluções? Não as dá. Arrogante, misterioso, aparentemente recalcado. Uma pena, esperava mais. Não que ele deva ser a pessoa mais simpática do mundo, pelo contrário, deve ser quem realmente é. O problema é que pensávamos que suas atitudes dentro do STF eram provenientes de um amor pela justiça, de um senso crítico apurado e de extrema coragem. Porém, ao escutar sua entrevista, percebe-se que não passa de uma revolta íntima, de um mau-humor constante, de um certo mistério que ninguém conhece.
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