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Desde sempre os coxinhas detestam a democracia e a igualdade de direitos e oportunidades. |
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É sempre assim: a
direita tem memória curta. Por conveniência e cinismo, é claro. Raramente vence
as eleições presidenciais por intermédio do voto. É histórico. E, no decorrer
do tempo, apela para a farsa, a manipulação, a mentira, até conseguir causar
uma enorme confusão na sociedade, e, inapelavelmente, partir para a violência,
o crime político e a ilegalidade constitucional, na forma de golpe, porque o
que interessa ao reacionário é desestabilizar a democracia brasileira, que se
alicerça no estado democrático de direito garantido pela Constituição de 1988.
Processo similar
de desestabilização política aconteceu antes do golpe civil-militar de 1º de
abril de 1964 — o Dia da Mentira ou do Mentiroso. E não é que, após 50 anos, ou seja, um tempo de
meio século, os herdeiros e viúvas da ditadura, as vivandeiras de quartéis e os
novatos de direita, conhecidos também como coxinhas ou rola-bostas, resolvem
marcar para o próximo dia 22 de março, em São Paulo (sempre São Paulo!), a
reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, acontecida em 1964?
Seria cômica se
não fosse trágica e perigosa, porque uma marcha com tal conteúdo tétrico ou
sombrio realmente tem de ser denunciada e explicada, primeiramente para Deus,
que, certamente, não aprova golpes e o que advém deles, como exílios, torturas
e mortes, e depois explicar àquelas pessoas que, porventura, não sabem ou não compreendem como pode acabar
uma marcha de conotação política reacionária, conservadora e realizada por
grupos que tem profunda rejeição pela democracia e também pela igualdade de
oportunidades e de direitos para todos os brasileiros, independente de raça,
credo, sexo, ideologia, naturalidade e classe social.
A
marcha dos
radicais histéricos, dos apopléticos e dos bate-paus de direita, todos
aqueles que se sentem bem com as
injustiças sociais perpetradas durante séculos por uma das “elites” mais
perversas da humanidade e responsável por quase quatro séculos de
escravidão. Os "intervencionistas" (metáfora para golpistas) que
desejam a volta para o passado de ditadura, que assombra as instituições
democráticas e causa repulsa aos brasileiros que acreditam na
democracia, forma
de governo imperfeita, mas que permite a autodeterminação política dos
povos
por meio de eleições diretas e do respeito ao jogo democrático.
Contudo, essa
gente não tem jeito, recusa-se a aprender, mesmo aqueles que nasceram após o
golpe de estado, mas que, por índole e instinto possuem uma incrível capacidade
para reagir contra tudo aquilo que possa inserir a maioria da sociedade em um
processo de bem-estar social. Desrespeitam as instituições republicanas e se
insurgem contra os governos populares liderados no passado por Getúlio, Juscelino,
Jango e Lula, bem como atualmente fazem uma oposição desleal, de essência
golpista, que visa, sobretudo, violar as leis e, por conseguinte, preparar o
terreno pré-eleitoral para favorecer os candidatos conservadores, os
fundamentalistas de direita e do mercado, que não suportariam ficar mais quatro
anos fora do poder federal, pois a direita sabe que, por intermédio do voto,
não vai ser autorizada pelo povo para sentar na cadeira da Presidência da
República. Ponto!
Os reacionários
querem, na verdade, que a roda da história gire para trás. São essencialmente
revoltados e ferozes, mesmo os que vivem bem e ganharam muito dinheiro com os
governos trabalhistas de Lula e Dilma. São pessoas que têm suas necessidades
supridas. São raivosos, exasperados, exaltados e tratam com intolerância os que
pensam diferente deles, porque portadores de todo tipo de preconceito, “valores”
e “princípios” que aprenderam no decorrer de suas vidas, por meio de grupos
sociais dos quais fazem parte, e, evidentemente, através de seus familiares e
antepassados.
Por sua vez, todas
as pessoas, entidades e governos que eles consideram que possam mexer com seus
mundinhos egoístas, tacanhos e, ridiculamente, sectários eles atacam sem dó e
piedade. E por quê? Porque o reacionário não quer dividir, democratizar e muito
menos permitir que a casta a qual ele pertença ou almeja pertencer possa um dia
ter de conviver com as classes sociais que essa gente de caráter demoníaco considera
inferior e, consequentemente, sem direito a ter direitos, bem como melhorar um
pouco de vida.
O conservador, o
coxinha é aquele sujeito que considera normal a injustiça praticada por homens
e mulheres com poder econômico e político, que controlam o sistema acadêmico,
financeiro e de produção. Por isso, ele acha justo excluir, pois dessa forma,
conforme sua cabeça retrógrada e psicótica, vai sempre ter a oportunidade de
acumular riquezas e benefícios, sem se importar, de forma alguma, com o preço
da dor e da necessidade do restante da sociedade.
Exatamente dessa forma que o reaça funciona.
Conheço vários, homens e mulheres, muitos deles pessoalmente educados e até
parcimoniosos, mas quando se trata de falar sobre questões políticas e
econômicas quando tange à distribuição de renda e aos direitos de cidadania,
transformam-se rapidamente, seus olhos saem de suas órbitas, impacientes e
intolerantes se tornam e aquele sujeito de fala mansa e de expressão corporal
moderada sai da condição de Dr. Jekyll para a de Mr.
Hyde — o Médico e o Monstro. Acontece, incrivelmente, a metamorfose inesperada
— imponderada.
Em 1964, grupos
retrógrados e reacionários integrantes de partidos, da a ala da Igreja Católica
conservadora, instituições públicas e privadas, além da classe média
tradicional, realizaram a “marcha dos que querem tudo para eles e nada para os
outros”. Porque, se pararmos para pensar, a direita se importa mesmo é com o
acúmulo de dinheiro e de patrimônio. Ponto! Por isso que é tão fácil para ela se
mobilizar, porque sua essência não é social e muito menos voltada ao debate
sobre as questões de um país. A direita é prática e pragmática, porque só tem responsabilidade
com si e não com a sociedade.
À direita basta o
poder de compra do dinheiro, no que concerne a acumulá-lo, aumentá-lo e a
possuir bens materiais e patrimoniais. Por isto e por causa disto é muito
difícil vencê-la, pois o direitista se agrega com facilidade, além de ter
caráter bastante agressivo, porém, de pensamento simplório e filosoficamente
simples. Não é fácil enfrentar a direita, porque ela controla as empresas e as
terras, além de ser proprietária de um canhão midiático que propaga seus
interesses ao tempo que combate, sem trégua, todo político ou cidadão,
instituição e até mesmo empresa que, porventura, não leia por sua cartilha.
A Marcha da
Família com Deus pela Liberdade é uma excrescência histórica e que vai ser relembrada
e reeditada no dia 22, na Praça da República e seu trajeto termina na Catedral
da Sé. Termina apenas seu trajeto, mas, na memória de milhões de brasileiros,
tal itinerário da caminhada draconiana, vampiresca durou o tempo de 21 anos,
quando, enfim, foi inaugurada a Nova República, com a ascensão e morte de
Tancredo Neves e a Constituiinte, deputado Ulysses Guimarães.
A marcha de
direita e da direita é moralista e, como a do passado, se edifica em um
moralismo tirânico e sem sentido, e, o pior, em nome da democracia e, de forma
genérica, “contra a corrupção”. E deu no que deu: fechamento do Congresso
Nacional e extinção de partidos políticos, censura da imprensa, demissões,
aposentadorias forçadas, perseguições a empresários e servidores públicos que
não apoiaram o golpe de estado, prisões sem mandados, exílios, torturas e
assassinatos. Tudo em nome da família, de Deus
e, pasmem: da liberdade!
Estou acostumado a
ler mensagens que me enviam a afirmarem que os governos populares e
democráticos de Lula e Dilma são ditaduras. Um absurdo. Esse pessoal não sabe o
que é uma ditadura. Pelo menos parte dele, que nasceu após 1964 e, obviamente,
por ser nova não percebia com exatidão o que acontecia no Brasil. A outra parte
dessa gente sabe o que é uma ditadura e apenas diz que os governos do PT são
ditaduras por má-fé, porque, na verdade, algumas dessas pessoas são favoráveis
a um regime de força e digo até que têm perfis fascistas, até porque neste
mundo há gosto para tudo, inclusive ser um direitista mentiroso e que age com
má-fé intelectual e política.
Sem sombra de
dúvida é uma evidência que essas pessoas que vão marchar em nome da família, de
Deus e pela liberdade, de forma totalmente equivocada e perversa, querem mesmo
é que se repita no Brasil o golpe civil-militar de 1964. Muitos dos
organizadores dessa marcha ou simplesmente os que a apoiam falam em “intervenção
militar”, e, na maior desfaçatez, tentam explicar o inexplicável, justificar o injustificável
e defender o indefensável de que a intervenção de militares não é golpe.
Se essas pessoas
golpistas e direitistas tivessem que pintar suas caras de paus com verniz,
certamente faltaria o produto no comércio, porque são milhares e milhares de
pessoas e por isso não daria tempo para a indústria fabricar verniz para
atender tal demanda. Todavia, milhões de brasileiros votam na esquerda, mesmo
se a maioria nem saiba o que significa ser de direita ou de esquerda. Porém, o
cidadão médio ou pobre deste País sabe que sua vida mudou e para melhor, bem
como tem a compreensão que os responsáveis pelas melhorias foram os governos
populares de Lula e Dilma Rousseff. Ponto!
O reacionário,
além de cúmplice, é submisso às ditaduras e odeia a pessoa que não se submete
ou discorda ou questiona o regime de força e, por seu turno, antidemocrático.
São os coxinhas, os novatos, por instinto, e os veteranos, por nostalgia, que
emergem do pântano de um passado recente que deixou como herança a violência, a
censura e a perseguição àqueles que ousaram discordar de uma ditadura corrupta,
sanguinária, que controlava, inclusive, o Poder Judiciário — o Supremo Tribunal
Federal, que apenas ratificava o que os generais decidiam.
Entretanto, com o
passar do tempo e a consolidação da democracia brasileira, a direita partidária
perdeu espaço e foi derrotada três vezes em eleições presidenciais. É de mais para
os reacionários; e por causa disto partidos conservadores e de oposição, a
exemplo do PSDB, do DEM e do PPS, dentre outros, têm contado com o apoio
incondicional da imprensa de negócios privados controlada por meia dúzia de
magnatas bilionários, que tentam pautar a vida brasileira, bem como influenciar
nas eleições presidenciais desde quando Lula foi derrotado por Collor em 1989,
além de, evidentemente, terem apoiado e se beneficiado do golpe de 1964.
Porém, o que mais
chama a atenção dos “marchadores” do dia 22 de março, em São Paulo (Sempre São
Paulo!), é a irresistível vontade dessa gente de reescrever a história, a
vocação cretina, manipulada e dissimulada para revisionismo barato, pois “acreditam”
que a ditadura civil-militar foi um processo “democrático” cujo propósito era
salvar a democracia dos comunistas e sindicalistas comedores de criancinhas
quando a verdade é que o golpe ilegal, inconstitucional e criminoso foi um
movimento orquestrado pela direita empresarial e militar brasileira apoiada
pela CIA do governo de John Fitzgerald Kennedy.
Calaram o
Brasil à força. Mataram, roubaram e censuram a divulgação dos crimes.
Arrebentaram com a ordem constitucional e para isso rasgaram a Constituição por
intermédio de atos discricionários como o foram os atos institucionais e a Lei
de Segurança Nacional imposta a todos os brasileiros para que se calassem, não
se movessem e não reagissem a um regime pária e que não tinha a autorização da
grande maioria do povo brasileiro para vicejar e existir. Tanto que acabou derrotado e
desmoralizado por si próprio, em 1984, com as Diretas Já! e a vitória de
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, no ano seguinte.
A Marcha da
Família com Deus e pela Liberdade é uma farsa e uma chacota sem graça
organizada por pessoas que não conseguem viver dentro da legalidade democrática
e muito menos conviver com a diferença e a pluralidade social e cultural. São
pequenos mussolinis travestidos de democratas, mas que pedem pela intervenção
militar. A marcha é a tentativa de um estupro na democracia, realizado por
pessoas de má-fé política, alienados e analfabetos políticos e por direitistas
que sabem o que querem: a volta da ditadura e o fim do estado democrático de
direito garantido pela Constituição de 1988. A marcha dos reacionários prega o
golpe e ressuscita as vivandeiras de quartéis. É isso aí.
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