
Ainda outro dia, no Jornal da Record News, comentei com
Heródoto Barbeiro que a mídia nativa mostrava-se indecisa entre qual
candidato da oposição apoiar contra Dilma. Os fatos e o noticiário dos
últimos dias não deixam mais dúvidas: a maioria dos principais veículos
de comunicação do país, tanto quanto o alto empresariado, que não por
acaso caminham sempre juntos, decidiu abertamente apoiar o candidato
tucano Aécio Neves, deixando Eduardo Campos comendo poeira na estrada.
Faltando exatos cinco meses para o dia da eleição, o tempo político
começa a correr mais depressa e as pesquisas passam a ter um papel
decisivo nesta hora. Vários episódios da semana passada contribuíram
para favorecer a definição a favor de Aécio e isto ficou claro no
encontro dos maiores empresários do país em Comandatuba, na Bahia, em
que o tucano foi aclamado pela plateia e o candidato do PSB passou em
branco. A presença da candidata a vice Marina Silva a seu lado, que pode
agregar votos de sonháticos e evangélicos, certamente não ajudou
Eduardo neste ambiente.
A imprensa recorreu ao "palmômetro", como os programas de auditório,
para destacar a vitória do senador e ex-governador mineiro na pajelança
anti-Dilma dos possíveis financiadores de campanhas. Ao mesmo tempo, as
últimas pesquisas divulgadas, mostrando a queda da presidente Dilma e o
crescimento mais forte de Aécio fora das margens de erro, enquanto
Eduardo subia pouco, para finalmente chegar aos dois dígitos, não
deixaram dúvidas sobre qual candidato o establishment vai apoiar, ou
melhor, já está apoiando, na quarta tentativa de não deixar o PT ficar
com o governo central.
Afastado o fantasma do "volta Lula", que tanto atemorizava estes
setores, e definido pelo PT que Dilma será candidata à reeleição até o
fim, alguns veículos passaram a trabalhar ostensivamente em favor de
Aécio no noticiário de todas as mídias, até dando sugestões para a sua
campanha, como já fazem colunistas e blogueiros do Instituto Millenium.
Da mesma forma, a imprensa estrangeira, tendo à frente o "Financial
Times", faz campanha aberta para desconstruir a imagem do governo Dilma,
mostrando claramente de que lado está o grande capital.
Fora o apoio do pessoal do dinheiro e da mídia grande, há outras
condições objetivas que favorecem Aécio Neves neste momento: tem mais
estrutura partidária, mais tempo de televisão, mais palanques estaduais,
o PSDB está no governo em Minas e São Paulo, os maiores colégios
eleitorais do país e, em consequência, tem mais condições do que Eduardo
Campos para formar um arco de alianças, algo que, até agora, os dois
não conseguiram.
Definido seu candidato, a grande imprensa foi desencavar até um
manifesto do PSB de Eduardo Campos, lançado em 1947, em que o partido
defende a socialização dos meios de produção e limites à empresa
privada. Se ainda faltava algum motivo pela opção por Aécio, não há
mais. O candidato da "nova política" pode até desconhecer este documento
e dizer que o mundo mudou, mas o estrago está feito na manchete da
"Folha".
No fim de semana, o ex-governador de Pernambuco tentou se diferenciar do
tucano, ao afirmar que "temos projetos, base política e social que são
distintos", depois de ouvir Aécio, em Comandatuba, dizer que não
consegue "ver o Eduardo como adversário, pois somos companheiros do
mesmo sonho", já de olho no segundo turno.
É aí que reside o desafio dos apoiadores e do próprio candidato tucano:
como inflar sua candidatura sem desidratar demais a de Eduardo, que é
fundamental para levar a eleição ao segundo turno, cada vez mais
provável de acontecer, segundo as pesquisas.
Em tempo 1: Eduardo Campos declarou nesta
segunda-feira, em Belo Horizonte, que até a convenção do PSB, em junho,
será alterado o texto do manifesto do partido citado no texto acima.
Em tempo 2: Sobre as últimas pesquisas, antes de mais
um encontro com empresários e de receber o título de cidadão honorário
de Belo Horizonte, o candidato do PSB comentou: "Estou completamente
tranquilo, porque as pesquisas a esta altura em 2010 davam José Serra
presidente". Apesar do noticiário negativo sobre a sua candidatura,
Eduardo botou fé no seu taco: "Não tenho a menor dúvida de que iremos
para o segundo turno e vamos ganhar as eleições".
Em tempo 3: por falar em empresas privadas que
financiam campanhas eleitorais, tão cortejadas pelos candidatos, o
ministro Gilmar Mendes ainda não devolveu o processo que proíbe esta
prática. Há mais de um mês, quando o placar já estava 6 a 1 a favor da
proposta de proibição de financiamentos privados de campanha, Mendes
pediu vista do processo, alegando que precisava "avaliar melhor o caso".
Espera-se que o julgamento termine a tempo desta nova regra, criada
para combater a influência do poder econômico, entrar em vigor já na
eleição de outubro. Só depende dele, pois a decisão já foi tomada pela
maioria dos ministros do STF.
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