Crescimento de Dilma ajuda lembrar que, antes da tragédia do Cessna, ela tinha chances de vencer até no primeiro turno
Antes do jatinho sem dono cair |
É bom não desprezar a importância das estratégicas de marketing numa
campanha eleitoral dirigida a uma massa de mais de 100 milhões de
eleitores.
Convém colocar os pés na realidade, porém.
Há duas semanas que os índices de intenção de voto de Dilma Rousseff
estão em alta. Sobem em todos os institutos, em todos os ítens, em todas
comparações. Conforme os dados mais recentes, Dilma lidera a campanha
no primeiro turno e alcançou um empate técnico com Marina Silva em
pesquisas para o segundo turno. Se você olhar a curva, pode até enxergar
mais crescimento de Dilma pela frente. Se olhar para trás, irá lembrar
que há exatamente um mês Dilma era candidata — matematicamente — a
vencer a eleição no primeiro turno. O que mudou mesmo?
O que mudou foi a morte de Eduardo Campos, até então um concorrente
secundário. Marina chegou com 21 pontos, o mesmo número que possuía em
2010, deslocou Aécio Neves e tornou-se a primeira desafiante real. Os
números de ontem mostram que os benefícios emocionais das primeiras
semanas começam a esgotar-se. O eleitor olha para a concorrente com
atenção e quer saber o que ela representa como candidata. Marina foi
adotada pela herdeira de um dos grandes bancos privados do país e
assumiu uma proposta que o cidadão comum pode não entender —
independência do Banco Central — mas compreende o que significa: deixa o
controle da política econômica nas mãos do mercado, sem respeitar
autoridades eleitas pelo povo. Sua assessoria econômica produz cenas
frequentes de opera-bufa. Em sucessivas demonstrações de fraqueza, a
candidata corrige o programa de governo depois de quatro tuítes, o que é
deprimente. Depois anuncia que irá formar um comitê para recrutar
“homens de bem” para formar sua equipe, o que é ridículo. Seu programa
de governo não trazia uma linha sobre o pré-sal, o que surpreendeu até
os adversários, pois demonstra uma dificuldade imensa para pensar
seriamente o futuro do país.
Para infelicidade de quem anunciou a morte do PT em tantas
oportunidades, a campanha de 2014 mostra o oposto e se move em torno do
universo político nascido em torno de Luiz Inácio Lula da Silva. A soma
das intenções de voto de petistas e ex-petistas — Dilma, Marina, Luciana
Genro e Eduardo Jorge — se aproxima de 75% do total do eleitorado, o
que é até comum em ditaduras, mas configura um recorde sob regimes
democráticos. Estamos falando de um movimento político das maiorias, que
nasceu ligado a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, a
denúncia da má distribuição de renda, ao alargamento da democracia,
questões que permanecem atuais até hoje porque refletem uma realidade de
classe. A força de Dilma reside no fato de que, neste terreno, onde
caminha a maioria dos brasileiros, seu governo tem o que mostrar — o que
explica a dificuldade dos adversários para enfrentar um debate
racional.
Não se trata de achar que o governo é bom ou ótimo, ruim ou péssimo. Mas
de perguntar se o país não irá ficar pior se Dilma não for reeleita.
Essa é a pergunta da campanha. A reação de aliados reticentes e
distanciados, que nas últimas semanas se reagruparam em apoio ao
governo, demonstra aonde está a força de gravidade e explica a retomada
de Dilma nas pesquisas.
Incapaz de questionar o governo onde importa para as pessoas que vivem
do próprio trabalho, a oposição dá um valor exagerado, com traços de
comportamento obsessivo-compulsivo, a operações especulativas da Bolsa
de Valores, que por si só não sinalizam grande coisa na economia.
A dificuldade de Aécio Neves reside aí. Ele está excluído da campanha
porque foi excluído da vida real da maioria dos brasileiros. O PSDB pode
reivindicar os méritos de ter derrubado a inflação em 1994, mas não
participou das transformações de fundo que vieram depois, e que criaram
um país onde a periferia social não se encontra no poder, mas faz-se
ouvir como nunca antes em 500 anos de história. E isso é realmente novo,
por mais que muita gente já esteja habituado.
Aécio não tem o lastro popular de Marina — comprometido agora com o
apoio até de parentes do assassino de Chico Mendes — e também não tem
discurso. Fez campanha como garoto mimado, lembrando sempre quem foi seu
avô mas sem ter o que dizer para netos menos afortunados. Continua com
muitos amigos na mídia, capazes de escrever que caiu em terceiro lugar
em Minas Gerais por um “descuido” na própria estratégia de campanha. Mas
sua última esperança é um lance de sorte, um evento extrapolítico.
Neste ambiente inteiramente desfavorável, os adversários do governo
imaginam que será possível confundir o eleitorado, na reta final, com a
produção de um escândalo político midiático em torno da delação premiada
de Paulo Roberto da Costa. Não se trata de um debate ético, nem de uma
discussão produtiva — quando seria mais conveniente discutir reforma
política e financiamento de campanhas — mas de uma iniciativa seletiva, a
mesma que produziu a AP 470 e escondeu o mensalão PSDB-MG e o
propinoduto tucano do metrô paulista. Incapaz de vencer um partido nas
urnas, seus adversários contam com ajuda externa para a carta da
criminalização.
Ainda assim, os números traduzem uma situação clara: no debate político
de 2014, a oposição está sendo vencida pela quarta vez consecutiva.
Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do
livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e
Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também
escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
2 comentários:
Muito boa matéria. Gosto de ler Paulo Moreira Leite. Admirável, sua visão é abrangente, ele detecta minucias e as vai incorporando ao texto. É elucidativo.
Dilma está retornando ao lugar de onde nunca saiu.
Aqueles 21% que deram a Marina, como supostamente retornando a 2010... blefe!
Pedra não dá leite.
Vamos celebrar, pelo visto, #Dilma no Primeiro turno.
Carmen, obrigado pelo seu comentário. Também gosto muito de ler Paulo Moreira Leite.
Concordo com você e depois da pesquisa do Vox Populi estou convencido que já ganhamos a eleição.
Não sei se você mora no Rio, mas na 2ª feira, o LULA e os principais sindicatos vão fazer uma passeata da Cinelândia até a Petrobras em defesa do Pré-sal e às 19,00 LULA e DILMA vão estar no teatro Casa Grande com apoio de intelectuais e artistas.
Bom fim de semana para você.
Abraços,
Saraiva
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