Transgênicos e religião associam-se para desmentir de uma só vez duas negações atuais de Marina
O tiroteio verbal entre os candidatos à Presidência está estendido, por
balas perdidas de Marina Silva, aos que nos jornais e na internet tratem
de suas contradições atuais, pretensos desmentidos e outros
malabarismos. Quem se ocupa desses assuntos faz, a seu ver, "uma das
ondas de mentira, calúnia e difamação feitas pelo desespero dos nossos
[lá dela] adversários". Acusação exposta, agora, em Belo Horizonte.
O assunto pré-sal incluiu-se no centro da disputa eleitoral, o que vale
até como indicador de surpreendente atenção de parte do eleitorado por
tema assim sério. Daí que Marina procure fugir às restrições ao pré-sal
que se ligaram ao seu nome. Mas não é tão simples a solução de culpar
terceiros moralmente.
No dia 29 de agosto, formalizada já a substituição de Eduardo Campos, a
seleção dos pontos mais importantes do programa de governo de Marina era
divulgada com a inclusão desta proposta: "Redução da importância do
pré-sal na produção de combustíveis" ("O Globo"). No mesmo dia, entre
elogios a usineiros na feira de agronegócios em Sertãozinho (SP), disse
Marina: "Temos que sair da Idade do Petróleo. Não é por faltar petróleo,
é porque já estamos encontrando outras fontes de energia". Depois, ao
responder sobre a restrição ao pré-sal, repetiu: "Há outras fontes de
energia".
Marina Silva confirmou, portanto, a restrição presente
no programa. E nele incluída pela revisão, para a sua candidatura, do
programa do PSB e de Eduardo Campos. A propósito, o comentário feito
aqui do novo programa, logo em seguida, notou que Marina Silva dava
sinais de ignorar "o que é a Idade do Petróleo, que lhe parece
restringir-se à energia". E mencionava a clamorosa falta de percepção
para a liderança do petróleo como matéria-prima, em derivados da
produção industrial hoje essenciais à vida dita civilizada.
Palavras da própria Marina Silva comprovam que posição avessa às suas
restrições ao pré-sal, e ao petróleo mesmo, não é mentirosa, não contém
calúnia nem difamação. Ou, a haver, parte dela, ao acusar outros para se
desdizer.
A segunda mais importante negação desejada por Marina é o seu
condicionamento religioso. Frase sua, reiterada com diferentes formas:
"Minhas decisões políticas não são ditadas pela religião". Outra, esta
em resposta a Patrícia Poeta e William Bonner no dia 27 de agosto: "Há
uma lenda de que sou contra os transgênicos. Mas isso não é verdade".
Colunista do carioca "O Dia", Fernando Molica encontrou ao menos seis
discursos da senadora Marina Silva, apenas entre 1998 e 2002, contra os
transgênicos. Para contornar resistências, aliás, apresentou um projeto
destinado a impedir a utilização dos transgênicos, de início, durante
cinco anos. Depois, claro, seriam mais cinco, e outros mais.
Em continuidade, o "blog do Mário Magalhães", no UOL, foi buscar um dos
discursos de Marina Silva. Muito instrutivo: a senadora explica que
condena os transgênicos com base em "cinco referências bíblicas" e
"tendo em vista o lado espiritual". Argumentos que torna mais
substanciosos com a reprodução de um salmo em que é recomendado o
respeito à integridade das sementes.
Transgênicos e religião associam-se para desmentir de uma só vez duas
negações atuais de Marina. Mas não lhe falta também um modo peculiar, e
muito adequado para as circunstâncias, de se desmentir. Está na adoção,
como candidato a nada menos do que seu vice-presidente, do deputado
gaúcho Beto Albuquerque, notório combatente no Congresso a favor dos
transgênicos. E detentor de apoio eleitoral e financeiro da indústria de
armas, contra a qual Marina Silva já se manifestou.
Fernando Henrique gostaria, ao que disse, de ver Marina Silva e Aécio
Neves no mesmo governo. Pelo que as pesquisas sugerem, desejo para
esquecer --como tantos outros esquecimentos inesquecíveis.
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