Neca Setubal -
Quem se deixa levar pela polarização entre uma suposta “nova política” e
a velha política, deixa escapar o essencial dos dilemas da eleição
presidencial deste ano.
O neoberalismo promoveu o capital financeiro, sob sua forma especulativa
— isto é, não a que financia a produção, o consumo, a pesquisa, mas a
predatória, que vive da compra
e venda de papeis, nao produz nem bens, nem empregos — como setor
hegemônico da economia, em escala mundial e em cada pais. Ao promover a
desregulamentação, ao invés de se dar uma retomada da expansão
econômica, houve uma gigantesca transferência de capitais da esfera
produtiva da especulativa. Porque, como dizia Marx, o capital não está
feito para produzir, mas para acumular. Se ele encontra melhores
condições — maior retorno, menos tributação, liquidez total —, ele se
concentra na esfera financeira.

No Brasil isso ocorreu no governo FHC, em que o sistema bancário sucedeu
a indústria automobilística, como setor hegemônico da economia. Hoje o
Brasil tem sua economia travada pela ação predatória e anti-social do
sistema financeiro, que prefere colocar seus capitais na Bolsa de
Valores e nos paraísos fiscais, ao invés dos investimentos produtivos
que o pais necessita.
O grande capital se nega a acompanhar o imenso processo de
democratização econômica e social promovido pelos governos Lula e Dilma.
Prefere seguir produzindo para o consumo de luxo da alta esfera do
mercado ao invés de reciclar seus investimentos para atender as demandas
das camadas emergentes da população, que constituem um novo mercado de
consumo popular em enorme expansão.
Essa é a contradição fundamental que o Brasil vive hoje. Os capitais não
se dirigem para onde o projeto de democratização social, de combate à
desigualdade, à miséria e à pobreza, requer, preferindo sabotar esse
projeto e permanecer na esfera especulativa.
O programa da Marina não poderia ser mais explícito em consolidar essa
opção, ao propor a independência do Banco Central e ao ter no seu
comando político e economistas vinculados às teses neoliberais do livre
comercio e à própria herdeira de um dos maiores bancos brasileiros. Sua
eventual vitória
significaria o fortalecimento da hegemonia do capital financeiro sobre a
economia, atentando fortemente contra o processo de distribuição de
renda do governo atual.

Esse o dilema que se coloca na campanha atual: a favor do capital
especulativo — com aumento da taxa de juros e consolidação das suas
posições — ou a favor da sua forte tributação e da baixa significativa
da taxa de juros. O que está em jogo é o projeto de inclusão social e de
democratização do país, a resolução a favor desse projeto, com a
reciclagem dos grandes investimentos para a esfera produtiva ou
dominação consolidada do capital especulativo sobre o pais. De forma
direta: se por trás da próxima presidente estará o Lula ou a Neca
Setubal.
Emir Sader
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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