Ela |
Um problema dos debates no SBT é que você fica sempre esperando que, a
qualquer momento, Silvio Santos vá sair da coxia gritando “quem quer dinheiro, oeeee??”
Silvio não apareceu, mas Suplicy passou o tempo antes do programa
jogando conversa fora com os jornalistas. Me contou que pretende
organizar uma maratona com os demais candidatos ao Senado e garantiu que
está fazendo 4 mil metros em 40 minutos. Eu acredito. Atrasado, Serra
chegou só no segundo bloco.
O DCM acompanhou o encontro no SBT. O clima tenso entre os “três irmãos
siameses”, segundo o achado de Luciana Genro, era patente. Dilma já
partiu para o ataque a Marina de cara; Aécio, num erro estratégico que
não vem de hoje, foi para cima de Dilma e não de Marina, que lhe rouba
votos num ritmo malufista. Marina bateu em ambos, mas paira acima
deles.
Como nas outras ocasiões, os nomes sem chance proporcionam os melhores
momentos. Eduardo Jorge em sua utopia hippie e falta de noção, Luciana
Genro em modo irônico, o semi picareta Levy “Ponto Fora da Curva”
Fidelix. E o Pastor Everaldo ainda sem fazer sentido.
A participação dos jornalistas foi decisiva. Se no debate da Band os
caquéticos Boris Casoy e José Paulo de Andrade transportaram os
telespectadores para a Guerra Fria, no SBT as perguntas foram incisivas e
atuais. Levy nunca mais olhará Kennedy Alencar da mesma maneira.
Na falta da Hebe, que deus a tenha, o que fica do debate é que o Brasil
parece ter ganhado desde já sua imperatriz, sua santa padroeira, seu
farol, sua fada madrinha, sua redentora. Se Marina Silva sempre teve
uma postura professoral, na tarde do dia primeiro de setembro ela
caprichou.
Compreensivelmente, elegeu Dilma seu alvo preferencial. Insistiu ao
menos duas vezes na tese de que Dilma não admite as próprias falhas. “A
candidata não consegue fazer uma coisa que é essencial para quem
pretende fazer um segundo mandato, que é reconhecer os erros. Porque se
não reconhece os erros, não tem com repará-los”, ensinou, magnânima.
Fez questão de se alinhar a FHC e Lula, como se fizesse parte de outra
linhagem, bem diferente da daqueles manés ao seu lado. O lugar de Dilma
era, na verdade, seu por direito divino. Sua “nova política” é a dos
“bons”. Ela tem a receita para salvar o país, especialmente da
usurpadora de vermelho.
Acima do bem e do mal, Marina dá aulas para Dilma e Aécio. Não há, na
verdade, nada que lhe permita posar de grande realizadora. É preciso
lembrar que Marina ficou em terceiro lugar em seu estado de origem, o
Acre, em 2010. Por quê? De acordo com a própria, “é difícil ser profeta
em sua própria terra”.
Em matéria de não assumir equívocos, a inefável Marina não tem qualquer
razão para se colocar num pedestal tão inatingível. Ela afirma que a
mudança no programa de governo com relação ao casamento gay — que não
resistiu a quatro tuítes cafajestes de Silas Malafaia — se deve a um
erro da “coordenação”.
De quem na coordenação? Essa pessoa, ou essas pessoas, foram demitidas?
Ninguém sabe. O programa foi divulgado sem a sua aprovação, portanto?
Você, certamente, não leu porque não é obrigado. Mas esta não deveria
ser a obrigação dela?
Os dois principais contendores de MS levam uma enorme desvantagem, que é
a de terem governado. Lidaram — com maior ou menor êxito em diversas
áreas — com questões da vida real nos últimos anos. Marina pertence ao
mundo das possibilidades e explora essa condição com arrogância e
irresponsabilidade.
É um adversário difícil porque combatê-la significa lutar contra o que
ela simboliza. Qual a obra de MS? Passou pelo PT — saiu. Passou pelo PV
— saiu (com uma cláusula que a desobrigava de encampar bandeiras que
se contrapunham a suas crenças religiosas). Tentou fundar a Rede — não
conseguiu. Está de passagem pelo PSB.
Está acima de todos. A virtuosa Marina não é apenas uma política
melhor. É uma pessoa moralmente mais equipada, honesta, transparente e
muito mais íntegra. Apenas pertence ao mundo da fantasia, mais ou menos
como o Silvio Santos.
Kiko Nogueira
No DCM
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