Texto de Marcos Coimbra
Reprodução do Blog do Noblat
A Praça Deserta
Onde isso fica mais visível é na internet.
Mas nada sugere que sejam muitos. A temperatura da opinião pública anda baixa.
Por que deveria ser diferente? Havia alguma razão para crer que o julgamento desses 38 acusados fosse acender os sentimentos populares?
Para ela, há coisas mais interessantes acontecendo – algumas boas, outras más.
Foi o que tentaram (aliás, vêm tentando desde 2005). Mas não deu certo.
Reprodução do Blog do Noblat
A Praça Deserta
Completamos hoje os primeiros dez dias do julgamento do mensalão. Confirma-se, até agora, o que se imaginava a respeito.
Nada mais
simbólico do que está acontecendo que as fotografias da Praça dos Três
Poderes. Nelas, veem-se as grades colocadas para conter os
manifestantes. Mas a praça está deserta.
Ninguém que
conhecesse um mínimo da opinião pública brasileira acreditaria que ela
se interessasse pelo julgamento. Pelo que se constata, não se interessou
mesmo.
Não havia razão para supor que se tornasse, para as pessoas, um assunto significativo na mídia. Não se tornou.
Onde isso fica mais visível é na internet.
Ao contrário
dos jornais e revistas, que apenas oferecem a informação que seus
responsáveis consideram relevante, os sites e blogs da internet fornecem
um retorno instantâneo daquilo que interessa aos leitores. Percebe-se
rapidamente o que os motiva e o que os deixa indiferentes.
Nos
principais portais de informação, em nenhum dos últimos dias as notícias
sobre o julgamento estiveram entre as mais acessadas. Pelo contrário.
Em função
desse desinteresse, seus editores deslocaram a cobertura para lugares
cada vez menores e menos proeminentes. Passou a disputar espaço com
fofocas, receitas de bolo e a previsão do tempo.
É possível
que, em alguns círculos, seja comum ver gente conversando acaloradamente
sobre o andamento do processo. Não se pode excluir que existam
espectadores que não desgrudam os olhos da TV Justiça e dos canais pagos
que permanecem em vigília.
Mas nada sugere que sejam muitos. A temperatura da opinião pública anda baixa.
Por que deveria ser diferente? Havia alguma razão para crer que o julgamento desses 38 acusados fosse acender os sentimentos populares?
Por mais que
as oposições – especialmente os veículos da indústria de comunicação
alinhados com elas - tenham tentado devolver relevância ao assunto, não
tiveram sucesso. Pelo menos, por enquanto.
A convocação
para que o povo enchesse as ruas foi recebida com indiferença. A um
protesto no Rio de Janeiro, compareceram 15 pessoas. Nenhum outro foi
marcado.
Apesar das
manchetes quase diárias nos jornais, do tempo na televisão, das capas de
revista, a população acompanha o julgamento com a atenção que costuma
dedicar a questões que considera secundárias.
Para ela, há coisas mais interessantes acontecendo – algumas boas, outras más.
A aprovação
das cotas sociais e raciais nas universidades federais mexe mais com a
vida do cidadão comum que a acusação contra fulano ou a defesa de
sicrano. As paralisações de servidores públicos afetam objetivamente
milhões de pessoas, mais que especular sobre o que pensa aquele ou
aqueloutro ministro.
Só havia um modo da aposta que fizeram dar certo: se conseguissem trazer Lula e o PT para o banco dos réus.
Foi o que tentaram (aliás, vêm tentando desde 2005). Mas não deu certo.
Achar que o
conseguiriam é, ao mesmo tempo, ignorância e presunção. De não saber o
que são o ex-presidente e seu partido aos olhos da maioria da população e
imaginar-se capazes de influenciar o país.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Do 007BONDeblog.
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