Do Blog do Mauro Santayana - 13/04/2013
Mauro Santayana
(JB) - Desde que a história do
poder começou a ser escrita, dela tem sido inseparável o registro da corrupção.
Contra a corrupção do poder, Savonarola, sugeriu um governo de santos. Platão
um governo de sábios austeros. Em uma de suas famosas cartas, algumas tidas
como apócrifas, ele fala da perversão do poder pelo hedonismo em Siracusa – ele
que fora mal sucedido conselheiro de dois de seus tiranos, Dione e Dionísio.
Pôde entender Platão que uma coisa são as idéias, outras, os homens.
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Savonarola é o modelo de todos os
combatentes da corrupção na História. Coube-lhe opor-se ao mais corrupto e
corruptor de todos os papas, Rodrigo Borgia, que ocupou o trono com o nome de
Alexandre VI. O frade dominicano desafiou o papado e soube esquivar-se da
astúcia do Pontífice, que lhe ofereceu tudo, até mesmo o chapéu cardinalício,
com o propósito de retirá-lo da Toscana,
onde se sentia seguro.
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O monge acabou sendo vencido pelas armas,
preso, julgado e condenado à morte. Naquele episódio, e em outros, Mamon, o
deus do papa, se sobrepôs ao Cristo de Savonarola.
Ainda agora se revela, pelo Wikileaks, que
o considerou natural a repressão no Chile de Pinochet, e exagerada a reação
mundial, provocada pelas forças de esquerda, contra o golpe.
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A morte de Mme. Thatcher convida a
uma viagem pela geografia da corrupção por excelência. Provavelmente não se
conheça, em toda a História, processo mais extenso e mais profundo de corrupção
da política pelo poder financeiro do que o eixo entre Washington, com Reagan,
Londres, com a dama de ferro, e o
Vaticano, com Wojtyla, no início dos 80. Convenhamos que os que os corromperam
souberam fazê-lo.
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Na conspiração, que se selou em encontro na
Biblioteca do Vaticano, Reagan e Wojtyla - em menos de uma hora - com a
presença de Alexander Haig, acertaram os movimentos coordenados para destruir o
sistema socialista, acabar com o estado de bem-estar social no resto do mundo e
globalizar o sistema econômico mundial.
Nenhum dos três seria capaz de engenhar o plano, que – tudo indica – lhes foi
entregue pelo Clube de Bilderbeg.
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É conveniente registrar que não tiveram muitas
dificuldades na União Soviética, cujos burocratas, seduzidos pelo “doce charme
da burguesia”, sonhavam com a vida faustosa dos executivos norte-americanos e
ingleses.
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E dificuldades ainda menores nos países em desenvolvimento, alguns
deles, como o Brasil, com recursos internos que lhes permitiam resistir à
desnacionalização de sua economia. Como se sabe, ocorreu o contrário, com a
embasbacada adesão dos dois Fernandos ao Consenso de Washington.
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O resultado do processo está aí, com o
desmoronamento da economia européia, o avanço da pobreza pelos países centrais,
e a corrupção, alimentada pelo sistema neoliberal, grassando pelo planeta
inteiro.
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Os
maiores bancos do mundo exercem diretamente o poder político em alguns países,
como o Goldman Sachs o exerceu na Itália, com Mario Monti, e Papademus, na
Grécia, até as eleições. Isso sem falar no Banco Central Europeu, sob o comando
de Mario Draghi, também do mesmo banco. No passado, os Estados intervinham no
sistema financeiro, para controlá-lo e proteger os cidadãos; hoje, os bancos
intervêm nos Estados, com o propósito de garantir seus lucros, o parasitismo
dos rentistas e as milionárias remunerações de seus “executivos”.
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Para fazer frente ao descalabro da economia,
causado pela ficção dos derivativos, os governos europeus cortam os gastos
sociais e levam famílias inteiras à miséria e ao desespero. Idosos são expulsos
de suas casas, por não terem como pagar as prestações ou os aluguéis, os
hospitais públicos reduzem o número de leitos, as indústrias recorrem à
falência, e os suicídios se sucedem. Há dias, sem dinheiro para honrar
compromissos de pequena monta, um casal de meia-idade, que possuía seu negócio
de fundo de quintal, se enforcou, em Civitanova, na Itália. O irmão da senhora,
atingido pela tragédia, também se matou, afogando-se no Adriático.
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Em Portugal – e ali sobram capitais
privados ociosos, que adquirem, sôfregos, ativos brasileiros – o desespero
atingiu limites extremos, e a União Européia, de joelhos diante dos banqueiros,
exige de Lisboa maiores cortes no orçamento social.
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No fim de um de seus mais belos
romances, Terra Fria, o escritor
português Ferreira de Castro dá à mulher a notícia da presença de um militante
revolucionário na cidade:
“Ele disse que chegará o dia em que haverá pão
para todos”.
E, com o pão, a dignidade – é a nossa
esperança.