domingo, 3 de novembro de 2013

Folha e Estadão: o duelo tucano, também nos jornais


Os jornais brasileiros são difíceis de ler.

Não apenas pela má qualidade, mas sobretudo pela insinceridade política.

Não existe, no Brasil, nem o processo plural que se estabeleceu na Europa do pós-guerra – no qual, curante muito tempo, os jornais tinham uma identidade político-partidária clara e assumida – nem a prática norte-americana de que os veículos assumem diante dos leitores suas opções eleitorais entre democratas e republicanos.

Aqui, sobrevive a lenda de uma imparcialidade que jamais existiu e, no fundo, é a pior das parcialidades, aquela em que você dissimula e encobre do leitor a orientação que rege a linha editorial.

E como a imprensa brasileira é, salvo exceções raríssimas e diminutas, toda ela de direita, comporta-se – até admito que, alguns, de forma inciente – como um partido único, o pouco que se encontra de contraditório entre eles é obscuro e dissimulado como é, dentro de um partido, a luta entre tendências.

Parece que é isso o que vem ocorrendo entre Folha e Estadão, neste momento. Embora de forma errática, algumas vezes.

A Folha vai, cada vez mais, assumindo uma opção por José Serra e, quem diria, o vetusto Estadão – com todas as dificuldades que lhe vêm de um candidato que não sabe criar fatos políticos ou assumir uma postura afirmativa – mantendo ainda Aécio como seu escolhido para o embate de 2014.

A Folha, mais ousada, já chegou a evidenciar isso com a “escalação” de Reinaldo Azevedo para ocupar parte do espaço mais nobre entre os seus colunistas. E ele, com grande esforço, está contendo o ódio que normalmente lhe espuma para cumprir a missão de provar que a direita precisa de um nome para chamar de seu, pois Aécio, Campos e Marina não têm densidade para tomar as rédeas do processo e defender “o lar”.

Hoje, numa longa entrevista, ela exibe um Serra pronto para o combate com o Governo, dando apenas lateralmente seus golpes sobre os “adversários” do campo conservador. Sente-se em condições, até, em usar da hipocrisia de dizer que trabalhará por Aécio, caso este venha a ser o candidato.

Quem quiser tirar dúvidas sobre essa disposição, pergunte a Geraldo Alckmin o que foi ter Serra como “cabo eleitoral” na eleição que perdeu para Kassab.

Já o Estadão, neste momento, sinaliza proteger Aécio das investidas de Serra.

Busca os “serristas” – como aliás também faz Aécio – para dizerem que é apenas intriga aquilo que é óbvio: Serra ter feito Roberto Freire bailar o PPS diante de Eduardo Campos e Marina Silva. Sugere-se, assim, é claro, que Aécio não é capaz de reter sequer um “companheiro de viagem” para a disputa eleitoral: além do PPS, foi-se o DEM – parte com Kassab, parte com Campos – e o PTB já se manifesta disposto a formar com o governo.

Sobra para Aécio – e por enquanto – o Solidariedade de Paulinho da Força, sobre o qual também Serra tem cordéis poderosos.

E esse é – além da modéstia que exibe nas pesquisas – o principal ponto fraco do mineiro: a dificuldade de formar arranjos partidários que não apenas lhe viabilizem tempo de televisão mas, sobretudo, costurem as alianças regionais de forma a não permitir que a “embolada” Campos-Marina possa sustentar-se à sua frente.

Serra vai insistir nisso, em se mostrar capaz de reunir o rebanho, como dizem os gaúchos, porque é boi sinuelo, capaz de conduzir, experiente e provado.

Folha e Estadão serão palco desta disputa.

Afinal, se a mídia é o partido da direita no Brasil, não há lugar onde a disputa partidária seja mais decisiva.

Fernando Brito
No Tijolaço

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