Não apenas pela má qualidade, mas sobretudo pela insinceridade política.
Não existe, no Brasil, nem o processo plural que se estabeleceu na
Europa do pós-guerra – no qual, curante muito tempo, os jornais tinham
uma identidade político-partidária clara e assumida – nem a prática
norte-americana de que os veículos assumem diante dos leitores suas
opções eleitorais entre democratas e republicanos.
Aqui, sobrevive a lenda de uma imparcialidade que jamais existiu e, no
fundo, é a pior das parcialidades, aquela em que você dissimula e
encobre do leitor a orientação que rege a linha editorial.
E como a imprensa brasileira é, salvo exceções raríssimas e diminutas,
toda ela de direita, comporta-se – até admito que, alguns, de forma
inciente – como um partido único, o pouco que se encontra de
contraditório entre eles é obscuro e dissimulado como é, dentro de um
partido, a luta entre tendências.
Parece que é isso o que vem ocorrendo entre Folha e Estadão, neste momento. Embora de forma errática, algumas vezes.
A Folha vai, cada vez mais, assumindo uma opção por José Serra e, quem diria, o vetusto Estadão
– com todas as dificuldades que lhe vêm de um candidato que não sabe
criar fatos políticos ou assumir uma postura afirmativa – mantendo ainda
Aécio como seu escolhido para o embate de 2014.
A Folha, mais ousada, já chegou a evidenciar isso com a “escalação” de Reinaldo Azevedo
para ocupar parte do espaço mais nobre entre os seus colunistas. E
ele, com grande esforço, está contendo o ódio que normalmente lhe
espuma para cumprir a missão de provar que a direita precisa de um nome
para chamar de seu, pois Aécio, Campos e Marina não têm densidade para
tomar as rédeas do processo e defender “o lar”.
Hoje, numa longa entrevista,
ela exibe um Serra pronto para o combate com o Governo, dando apenas
lateralmente seus golpes sobre os “adversários” do campo conservador.
Sente-se em condições, até, em usar da hipocrisia de dizer que
trabalhará por Aécio, caso este venha a ser o candidato.
Quem quiser tirar dúvidas sobre essa disposição, pergunte a Geraldo
Alckmin o que foi ter Serra como “cabo eleitoral” na eleição que perdeu
para Kassab.
Já o Estadão, neste momento, sinaliza proteger Aécio das investidas de Serra.
Busca os “serristas” – como aliás também faz Aécio – para dizerem que é
apenas intriga aquilo que é óbvio: Serra ter feito Roberto Freire
bailar o PPS diante de Eduardo Campos e Marina Silva. Sugere-se, assim, é
claro, que Aécio não é capaz de reter sequer um “companheiro de
viagem” para a disputa eleitoral: além do PPS, foi-se o DEM – parte com
Kassab, parte com Campos – e o PTB já se manifesta disposto a formar
com o governo.
Sobra para Aécio – e por enquanto – o Solidariedade de Paulinho da Força, sobre o qual também Serra tem cordéis poderosos.
E esse é – além da modéstia que exibe nas pesquisas – o principal ponto
fraco do mineiro: a dificuldade de formar arranjos partidários que não
apenas lhe viabilizem tempo de televisão mas, sobretudo, costurem as
alianças regionais de forma a não permitir que a “embolada”
Campos-Marina possa sustentar-se à sua frente.
Serra vai insistir nisso, em se mostrar capaz de reunir o rebanho, como
dizem os gaúchos, porque é boi sinuelo, capaz de conduzir, experiente e
provado.
Folha e Estadão serão palco desta disputa.
Afinal, se a mídia é o partido da direita no Brasil, não há lugar onde a disputa partidária seja mais decisiva.
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