segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Marina Silva para presidente do Irã


Estimados leitores, eu adoro o século 21, em particular porque esse é o tempo em que a internet passou a botar pra quebrar, no mais amplo e completo sentido.

Ela passou a quebrar a forma de a gente formar opinião, se esse for o nosso objetivo – formar opinião, quero dizer. Agora, aqui, nesse instante, eu vou poder anexar um vídeo e todos vocês vão poder assistir e formar a sua opinião, não pelo que vão ler escrito por mim, mas pelo que é dito no vídeo.
Quem fala no vídeo igualmente não pode vir negar e dizer que eu isso ou eu aquilo, ou que vocês isso ou aquilo, porque o que está dito está dito e falado, e não há o que se dizer a respeito, uma vez que para isso serve o vídeo.

E o vídeo mostra Marina Criacionista Silva defendendo algo descabeçado como válido, em nome da sua fé pentecostal.

Antes de mais nada, aqui vai o vídeo.


Marina é pentecostal, de uma das muitas seitas cristãs que andam por aí. O Brasil tem na sua Constituição que todo mundo pode ter a religião que quiser, ou nenhuma, o que me parece ótimo. O Brasil também é uma república laica, o que significa que todo mundo pode ter a sua religião, desde que não tente impor o que acredita aos demais não-crentes. Mais: o Estado não pode seguir fé alguma, porque o Estado representa a todos, e a única forma de respeitar as diferentes crenças é não permitir que nenhuma delas possa fazer o que deseja, que é exatamente o que não podem.
No Brasil, até hoje, nunca a religião foi um fator relevante na escolha dos governantes porque todos eles eram agnósticos ou católicos soft, a forma de religião que se satisfaz com alguns rituais e não está aí para incomodar ninguém.

Marina Criacionista Silva representa uma ameaça a algo essencial, que é a neutralidade do governante perante a religião, ou a capacidade de mantê-la contida no seu espaço individual, e jamais permitir que a sua eventual crença se espalhe para o espaço de responsabilidade e poder que ele, como governante, recebe de nós.
Ao darmos o poder para um governante normal, damos a ele a permissão para ir até ali e parar, e esses governantes o fazem porque jamais pensaram em romper com os limites entre fé e Estado. Marina não nos oferece essa garantia porque não pode, porque ela acredita em algo tão fundamentalista que não consegue lidar com essa divisão essencial e que é parte do contrato não escrito que todos assinamos, governados e governantes, e que nos salva. O contrato diz que religião não vai ser assunto, não vai fazer parte da pauta, e somente por isso eles podem sentar nas cadeiras para as quais os elegemos, em especial na mais importante de todas.

Marina Criacionista acredita no criacionismo, uma tese maluca e que diz que o mundo foi criado como está hoje, prontinho, há uns seis mil anos. Sim, estimados leitores, seis mil. Não seis bilhões, o que já seria uma ofensa, mas seis mil, o que constitui um desatino.
Marina se escapa das perguntas respondendo à la Maluf, não respondendo. Ela diz que acredita que Deus criou o universo, o que parece razoável para um crente. Mas sabem o que ela não faz? Ela não diz quando Deus realizou essa façanha. Se perguntarem, vão levar um susto.

Da mesma forma ela tenta escapar da questão do casamento gay, dizendo que casamento lembra demais “votos”, algo religioso. Mas estamos falando de casamento civil, que é simplesmente um direito constitucional, e sim, é diferente de união. que pode ser mais complicado e oferecer menos, quando a Constituição manda todos serem iguais diante da lei. Um presidente pode ir contra a Constituição por conta da sua religião?

Sabem o que mais ela faz, e vocês podem ver no vídeo? Ela fala em “evolucionismo”. Eles fazem isso, os criacionistas, tentando igualar a crendice que defendem a uma teoria científica, a da Evolução. Incapazes de responder a Darwin, eles tentam insinuar uma igualdade inexistente porque um pensa, os outros não.
Marina critica os que não admitem colocar a fé na mesma ordem da ciência e pede tolerância, tudo que a fé jamais deu a quem quer que fosse, até ser colocada nos eixos pelo Iluminismo. Marina esquece, ou não sabe, que ciência e fé não são, nunca serão, não podem ser a mesma coisa, sabem por quê? Porque uma exige comprovação, a outra não. Ciência não é opinião, não é desejo, não é preferência, não é revelação. É comprovação objetiva, passível de medição. O que eu penso da ciência não faz a menor diferença, eu não opto por acreditar nela ou não. Fé? Bom, ela somente existe porque alguém resolve acreditar nela.

Pode haver duas coisas mais distintas?
Escolas não são igrejas. Escolas são locais de aquisição de conhecimento, do que se sabe, não do que se acredita. As crianças não têm que decidir entre seguir fé ou ciência. Na aula de religião, a escola religiosa ensina o que quiser. Na aula de Biologia, não, não pode, porque criacionismo não é Biologia, é fé. E é exatamente isso que Marina acha natural, que as escolas promovam a escuridão do desconhecimento. Uma presidente pode sequer considerar algo assim?

Ao admitir que se sequer debata, e ainda por cima se ensine algo tão profundamente ofensivo a qualquer ser humano no século 21, Marina se desqualifica para o que pretende fazer: ser um governante eleito de uma república moderna e laica.

Ela pode governar o Irã, mas não o Brasil. Que assim seja, e todos seremos mais felizes, inclusive o Irã.

Fica a dica.

Marcelo Carneiro da Cunha
No Terra Magazine

2 comentários:

Renato Gomes de Abreu disse...

Meu amigo agindo assim você vai fazer a Dilma perder voto, lembre-se nem todos pensamos iguais. Abraços.

Renato Gomes de Abreu disse...

Meu nobre amigo.
Agindo assim tenha certeza que você vai contribuir para a nossa candidata Dilma perca votos, lembre-se nem todos pensamos iguais. Abraços