Se a sua intenção este ano é votar em uma "nova forma de fazer política", leia este texto antes de encarar a urna eletrônica
Lino Bocchini
No CartaCapital
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Marina Silva,
PSB
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
Neca Setúbal, herdeira do Itaú e coordenadora do programa de governo de Marina Silva, a candidata e seu vice, Beto Albuquerque Léo Cabral |
É comum eleitores justificarem o voto em Marina Silva para presidente
nas Eleições 2014 afirmando que ela representaria uma “nova forma de
fazer política”. Abaixo, sete razões pelas quais essa afirmação não faz
sentido:
1. Marina Silva virou candidata fazendo uma aliança de ocasião. Marina
abandonou o PT para ser candidata a presidente pelo PV.
Desentendeu-se também com o novo partido e saiu para fundar a Rede — e
ser novamente candidata a presidente. Não conseguiu apoio
suficiente e, no último dia do prazo legal, com a ameaça de ficar
de fora da eleição, filiou-se ao PSB. Os dois lados assumem que a
aliança é puramente eleitoral e será desfeita assim que a Rede for
criada. Ou seja: sua candidatura nasce de uma necessidade clara
(ser candidata), sem base alguma em propostas ou ideologia. Velha
política em estado puro.
2. A chapa de Marina Silva está coligada com o que de mais atrasado existe na política.
Em São Paulo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin, e é
inclusive o partido de seu candidato a vice, Márcio França. No
Paraná, apoia o também tucano Beto Richa, famoso por censurar blogs
e pesquisas. A estratégia de “preservá-la” de tais palanques nada mais
é do que isso, uma estratégia. Seu vice, seu partido, seus
apoiadores próximos, seus financiadores e sua equipe estão a
serviço de tais candidatos. Seu vice, Beto Albuquerque, aliás, é historicamente ligado ao agronegócio. Tudo normal, necessário até. Mas não é “nova política”.
3. As escolhas econômicas de Marina Silva são ainda mais conservadoras que as de Aécio Neves. A campanha de Marina é a que defende de forma mais contundente a independência do Banco Central.
Na prática, isso significa deixar na mão do mercado a função de
regular a si próprio. Nesse modelo, a política econômica fica nas
mãos dos banqueiros, e não com o governo eleito pela população. Nem
Aécio Neves é tão contundente em seu neoliberalismo. Os mentores
de sua política econômica (futuros ministros?) são dois nomes
ligados a Fernando Henrique: Eduardo Giannetti da Fonseca e
André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES e um dos líderes da
política de privatizações de FHC. Algum problema? Para quem gosta,
nenhum. Não é, contudo, “uma nova forma de se fazer política”.
4. O plano de governo de Marina Silva é feito por megaempresários bilionários. Sua
coordenadora de programa de governo e principal arrecadadora de
fundos é Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do
Itaú. Outro parceiro antigo é Guilherme Leal. O sócio da Natura
foi seu candidato a vice e um grande doador financeiro individual
em 2010. A proximidade ainda mais explícita no debate da Band desta terça-feira.
Para defendê-los, Marina chegou a comparar Neca, herdeira do
maior banco do Brasil, com um lucro líquido de mais de R$ 9,3 bilhões
no primeiro semestre, ao líder seringueiro Chico Mendes, que
morreu pobre, assassinado com tiros de escopeta nos fundos de sua
casa em Xapuri (AC) em dezembro de 1988. Devemos ter ojeriza dos
muito ricos? Claro que não. Deixar o programa de governo a cargo
de bilionários, contudo, não é exatamente algo inovador.
5. Marina Silva tem posições conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. O
discurso ensaiado vem se sofisticando, mas é grande a coleção de
vídeos e entrevistas da ex-senadora nas quais ela se alinha aos
mais fundamentalistas dogmas evangélicos. Devota da Assembleia de Deus,
Marina já colocou-se diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei,
contra a pesquisa com células-tronco e contra qualquer
flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua
posição é a mais conservadora dentre os três principais postulantes à
Presidência.
6. Marina Silva usa o marketing político convencional. Como
qualquer candidato convencional, Marina tem uma estrutura robusta e
profissionalizada de marketing. É defendida por uma assessoria de
imprensa forte, age guiada por pesquisas qualitativas, ouve
marqueteiros, publicitários e consultores de imagem. A grande
diferença é que Marina usa sua equipe de marketing justamente para
passar a imagem de não ter uma equipe de marketing.
7. Marina Silva mente ao negar a política. A cada vez que
nega qualquer um dos pontos descritos acima, a candidata falta com a
verdade. Ou, de forma mais clara: ela mente. E faz isso diariamente,
como boa parte dos políticos dos quais diz ser diferente.
Há algum mal no uso de elementos da política tradicional? Nenhum.
Dentro do atual sistema político, é assim que as coisas funcionam. E é
bom para a democracia que pessoas com ideias diferentes conversem e
cheguem a acordos sobre determinados pontos. Isso só vai mudar com uma
reforma política para valer, algo que ainda não se sabe quando, como e
se de fato será feita no Brasil.
Aécio tem objetivos claros. Quer resgatar as bandeiras históricas do
PSDB, fala em enxugamento do Estado, moralização da máquina pública,
melhora da economia e o fim do que considera um assistencialismo com a
população mais pobre. Dilma também faz política calcada em propósitos
claros: manter e aprofundar o conjunto de medidas do governo petista
que estão reduzindo a desigualdade social no País.
Se você, entretanto, não gosta da plataforma de Dilma ou da de Aécio e
quer fortalecer “uma nova forma de fazer política”, esqueça Marina e
ouça Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) com mais atenção.
De Marina Silva, espere tudo menos a tal “nova forma de fazer
política”. Até agora a sua principal e quase que única proposta é negar
o que faz diariamente: política.
Lino Bocchini
No CartaCapital
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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