Marcelo Carneiro Cunha - Zagueiro
Estimadíssimos leitores, existe algo mais assustador para esse zagueiro
do que o futebol brasileiro entre o céu e a Terra, e esse algo se chama
Marina Silva, a Bispa do Brasil.
O mundo sempre foi um lugar complicado, mas ele sempre foi mais
complicado quando religião ocupou o lugar sagrado das coisas realmente
importantes para as pessoas – o futebol, por exemplo. A ideia de
religião como um grande e real problema começa com a invenção da
cristandade. Ali surgiu uma igreja que se acreditava católica, ou seja,
dona do mundo. Os pagãos eram apenas cristãos esperando para serem
salvos, e quem pagou o pato dessa ânsia evangelizadora foram, bom, todos
– dos povos da Europa e das estepes até os indígenas americanos, quando
os portugueses, espanhóis e toda a sua carolice aportaram por aqui.
A coisa ficou feia para valer quando inventaram o islamismo, a outra
religião tão absolutista quanto a cristã. A partir do momento em que o
Islã cresceu o suficiente para fazer fronteira com a cristandade, nunca,
mas nunca mesmo, o mundo conheceu a paz. Lembram das Cruzadas? Até
hoje os árabes lembram, o que dá uma ideia do quão espiritual a coisa
foi. Com o tempo, o mundo islâmico se viu amarrado pelos nós de sua
religião anti-tudo, e ali começou a perder a guerra para o Ocidente, o
que se mantém até agora. Na Batalha de Lepanto, em 1571, os turcos
perderam a sua última luta pelo que interessava, o Mediterrâneo, e a
partir dali, recuaram na direção do seu mundo cheio de areia.
Na mesma época, e para suprir a falta que uma outra religião inimiga
fazia, a Igreja Católica conseguiu se autodestruir, com o surgimento do
Protestantismo. Dali em diante, católicos e protestantes deixaram de
lado os islâmicos e passaram a massacrar uns aos outros, na maior e mais
longa guerra civil que o mundo já conheceu. Para não ficar pra trás, os
islâmicos também se dividiram em sunitas e shiitas, e a luta fratricida
continua até hoje.
Marina Silva acha que as religiões contribuem muito para com o mundo,
sinal de que ela leu muita bíblia e nenhuma História. Não consigo
imaginar em uma só contribuição que as religiões tenham trazido para a
gente, a não ser, talvez, a preservação da cultura da cerveja nos
mosteiros cristãos da Idade Média. Nenhuma. Nenhuminha. As religiões
permitiram ou incentivaram a escravidão e todas as discriminações,
incluindo a opressão aos gays que elas ainda praticam hoje.
O mundo apanhou tanto com esses conflitos que finalmente inventou a
separação entre Estado e igrejas, mais uma contribuição da Revolução
Francesa, junto com o sistema métrico decimal. Ali, o Ocidente inventou a
maior invenção já inventada – a república laica. Nela, todo mundo pode
ter a religião que bem entender, desde que respeite a do outro, e
inclusive a opção de quem não quer ter alguma. Além disso, o governante
governa para todos e de acordo com as leis humanas, e não as leis
religiosas. Foi assim, e somente assim, que começamos a ser felizes, ou
livres, a partir do século 19. No Brasil, a República já surgiu laica,
pra nossa sorte, embora sigam por aí os crucifixos em salas de
tribunais, por exemplo, o que fere completamente a ideia da coisa.
Marina é um perigo para o país porque ela é uma fundamentalista
evangélica. Ninguém sabe no que o Sarney acredita, a não ser na própria
imortalidade e que o Maranhão é dele por direito divino. Ninguém sabe do
Collor, a não ser que paga pau pra um esquisito como o Frei Damião.
Ninguém sabe o que acha o FHC, a não ser que ele não acredita em Deus e
já fumou maconha. Lula é um típico católico soft brasileiro, que é sem
ser, pratica sem dar bola. Dilma é tão religiosa quanto o cargo exige,
na ideia de que Paris vale uma missa. E é assim que tem que ser.
Marina é uma fundamentalista radical, que acredita que Deus faz todas as
coisas, inclusive a República, que é dele, não nossa. Ela acredita em
maluquices absolutas como o criacionismo, uma das teses mais
estapafúrdias já inventadas, mesmo levando em conta o nível de
estapafurdismo dos humanos. Ela é contra a ciência, a única coisa entre
nós e o abismo. Ela é contra a pesquisa das células-tronco, uma das
maiores promessas de cura para o incurável.
Eu não sinto simpatia alguma pelo modelo do PSDB simplesmente porque
vivo em São Paulo e o acho conservador demais e nacional de menos. Mas
em um segundo turno hipotético, com Aécio e sua fachada de playboy e
Marina, meu voto seria pelo mundo são do lado de cá, e jamais pela
loucura movida a divindades aplicadas. Se alguém duvida no que acontece
quando deixam a religião entrar no vestiário, lembrem do horror que era a
Seleção evangélica do Dunga, a de 2010.
Não funciona, nunca funcionou, e nos leva de volta à barbárie. Por isso,
caros leitores, brinquem, gritem, protestem, digam que são contra tudo
que está aí, mas na hora de votar, melhor fazê-lo em favor do mundo que
funciona e que começa com o século 20. Se ele tem problemas, e tem, pelo
menos ele é nosso, e não de uma suposta divindade qualquer, que se
importa tanto com a gente que de nós só quer o dízimo.
Se vocês acham ruim com a república laica, nem queiram saber como é sem
ela. Ou melhor, se informem como era, antes de fazer qualquer coisa que
estrague a única coisa que a gente criou e que realmente nos salva.
Façam isso, e tudo vai acabar bem, porque o Brasil precisa de
presidente, e não de salvador.
Um comentário:
Marina, esta sacanagem que
querem impor ao Brasil,
confunde Estado Laico, com Arcaico.
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