Marina e a tragédia de Collor que se repete como farsa
Aqueles de minha geração que viram “Muito além do jardim”, com o inigualável Peter Sellers, não terão se surpreendido com o fenômeno Marina Silva das últimas semanas. A média da opinião pública está sempre preparada para ouvir e aplaudir o que ela própria pensa. Um fenômeno político capaz de dizer que “vai governar com os melhores”, e não com os partidos, é capaz de declarar solenemente que primeiro vem a primavera, depois o verão, depois o outono e, finalmente, o inverno. Do que resultam longos, longos aplausos!
Marcadores:
Eleições 2014,
Grupo Abril,
J. Carlos de Assis,
Marina Silva,
Organizações Globo,
PIG
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
Aqueles de minha geração que viram “Muito além do jardim”, com o inigualável Peter Sellers, não terão se surpreendido com o fenômeno Marina Silva das últimas semanas. A média da opinião pública está sempre preparada para ouvir e aplaudir o que ela própria pensa. Um fenômeno político capaz de dizer que “vai governar com os melhores”, e não com os partidos, é capaz de declarar solenemente que primeiro vem a primavera, depois o verão, depois o outono e, finalmente, o inverno. Do que resultam longos, longos aplausos!
Esse fenômeno burlesco não teria existido caso uma classe dominante
essencialmente estúpida não se mobilizasse junto com a grande mídia para
tentar liquidar o governo do PT, mesmo diante do fato óbvio de que
Dilma é a última das petistas dos governos PT. É que a classe dominante,
ela mesma influenciada pela mídia, não consegue explicar a si mesma a
raiva que tem de Dilma. Foi largamente beneficiada por investimentos,
desonerações fiscais, PPPs, terceirizações, tripés macroeconômicos, tudo
ao gosto tucano e sob a cartilha neoliberal.
Por que a elite dominante ficou contra Dilma? Sim, isso só se explica
pela influência raivosa do partido midiático, verbalizada por
ventríloquos como Jabor. Aparentemente as verbas publicitárias para o
sistema Globo, embora ainda continuem gordas, minguaram nos governos de
Lula e de Dilma. Além disso, vigia à distância, embora infelizmente
repudiada no curto prazo, a ameaça de um certo estatuto regulatório para
a mídia, na tentativa de controlar os monopólios no setor, inclusive
na feitura gráfica de material educacional. Isso levanta a indignação
do sistema Globo e da Abril, e o medo do segundo mandato de Dilma, que
poderia ficar mais solta em relação à rede de dominação do poder
econômico.
Os mais especulativos entre os nossos cidadãos podem coçar a barba e se
lembrar da advertência de Platão. Quando falava nos riscos da
democracia, o velho pensador sabia do que estava falando. O risco da
democracia é a anarquia. A monarquia absoluta e aquilo que conhecemos
hoje como ditaduras correm o risco da corrupção e da degeneração. Daí, o
governo dos sábios. É o que Marina tenta encarnar com seu governo dos
“melhores”. Se ganhar, veremos sua experimentação. Platão, que tentou o
governo dos sábios em Siracusa, saiu de lá escorchado a pontapés.
Veremos o que acontecerá com Marina!
Em “Muito além do jardim” um jardineiro idiota, apropriado pela força
midiática, prepara-se para concorrer à Presidência da República
embalado involuntariamente pelos poderosos que sabiam poder manipulá-lo
por trás da cena. Não se sabe o fim da história, porque as deliberações
“políticas” acabam no momento do enterro do presidente. No nosso caso,
parece que o jogo que começou num enterro ainda está em curso. As
elites dominantes que tiraram o gênio da garrafa se assustaram com o
resultado. O objetivo era bombar Aécio, não uma militante ambientalista
que acredita que o problema do Brasil é ter acelerado a exploração do
pré-sal, estar integrado no Mercosul e que quer uma revisão e uma
moratória no licenciamento ambiental.
É rigorosamente impossível saber como terminará esse processo que
oscila entre a tragédia e a pantomima. Temos a experiência de Collor,
uma promessa “política” traduzida na forma de um discurso de lugar comum
e banalidades prosaicas, com frases de efeito, sem conteúdo, que
ganhou o gosto do povo. Conhecemos o resultado, mas temos visto também
que isso não basta para evitar um novo experimento extravagante. Marx
escreveu que a história muitas vezes acontece como tragédia, e se repete
como farsa. Tivemos, com Collor, uma tragédia. Veremos o que
acontecerá em frente, se a ameaça Marina se concretizar.
J. Carlos de Assis -
Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, professor
de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre
Economia Política Brasileira.
No GGN
No GGN
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário