Atenção
Postado em 09/09/2014 - 00:15
Atualizado em 11/09/2014 - 08:34
Luís Nassif
Uma entrevista-bomba de Eduardo Giannetti
Postado em 09/09/2014 - 00:15
Atualizado em 11/09/2014 - 08:34
A entrevista de Eduardo Giannetti — o economista de Marina Silva — ao jornal Valor Econômico (clique aqui)
é literalmente uma bomba. Giannetti — que é um filósofo — avançou
radicalmente além das chinelas e, em nome de Marina Silva, apresentou
um conjunto de propostas econômicas desconjuntadas e imprudentes.
Ele vai despejando medidas, parecendo atender às demandas de cada grupo
aliado, sem conseguir desenhar o cenário resultante. É como se cada
medida se bastasse a si própria, sem consequências para o todo.
Comporta-se como o jogador de xadrez novato que só consegue analisar a jogada em curso
, sem discernimento sobre seus desdobramentos.

* * *
Por exemplo, tem-se um problema: as interferências de Dilma nos preços
administrados criaram uma inflação represada que impede a convergência
das expectativas de mercado. Ninguém sabe para onde irá a inflação
quando os preços forem liberados.
Dilma propõe — para o pós-eleições, é claro — um reajuste gradual das tarifas no tempo, para evitar um choque inflacionário.
Giannetti defende um choque tarifário — a correção imediata dos preços
administrados. Se tem um problema — diz o valente — temos que
enfrentá-lo.
De fato, tirará do horizonte uma variável indefinida. Mas a converterá uma expectativa de inflaçao em uma inflação concreta.
Quais os efeitos de um aumento súbito da inflação nas expectativas
empresariais? Giannetti não saberia avaliar, mas sabe de uma coisa:
choques semelhantes foram aplicados no início do governo FHC e Lula,
sendo bem sucedidos.
O excelente entrevistador educadamente lembra Gianetti que, nos exemplos
citados, o grande peso da inflação era dado pelo câmbio (que sofreu
grandes desvalorizações nos dois casos) e não havia o quadro de emprego e
renda que se tem hoje.
Confrontado com a informação, qual a reação do bravo Giannetti? Admite
que "a situação em certos aspectos era diferente da atual, de fato" — o
emprego do "certos aspectos" passa a ideia de conhecimento de todos os
aspectos, sem a necessidade dele enumerá-los. E como tratar a situação
diversa que se tem hoje? Da mesma forma. Limita-se a acreditar "sem a
menor dúvida", como ele diz, "de que há um custo de fazer o ajuste hoje,
mas ele certamente é menor do que o custo de não fazê-lo".
* * *
Todas suas afirmações são reforçadas por demonstrações de fé e
confiança, "sem a menor dúvida", "certamente". Não desenvolve
raciocínios sobre os problemas apresentados, não estima desdobramentos.
Mas "certamente" ele tem certeza de que o caminho que escolher é o
melhor.
Suas teorias poderiam ser taxadas de "autoengano" promovido pelo excesso de fé e pouco uso da razão.
* * *
Mas não fica nisso.
Não bastasse o alinhamento tarifário, ele defende a bandeira de que não
haverá mais aumento da carga tributária — conforme a expectativa de
vários ambientes em que foi vender seu peixe — mas propõe também a volta
da CIDE (o imposto sobre combustíveis) — conforme a expectativa dos
produtores de álcool com quem esteve recentemente. Ou seja, propõe dois
choques para a gasolina: o realinhamento tarifário e a volta da CIDE.
Mas a volta da CIDE significa um aumento da carga tributária, observa o
entrevistador astuto. Sim — admite Giannetti, que provavelmente não
tinha atinado com essa obviedade. Mas responde com outra obviedade:
cortaremos em outros despesas.
Quais delas?
* * *
O que se tem até agora são dois choques tarifários disparando a
inflação. A peça seguinte é um Banco Central independente, levando a
Selic onde for necessária, mas sendo auxiliado por um choque fiscal,
para dar coerência ao pacote.
E onde vai cortar? No crédito subsidiado, diz o filósofo do autoengano,
em um momento em que Dilma Rousseff martela diariamente na sua campanha
eleitoral sobre o significado de acabar com o crédito subsidiado. Hoje
em dia, há crédito subsidiado para a indústria, agricultura e programas
sociais.
Giannetti é adepto da tese de que a indústria chora por vício, não por
necessidade. "Acho que a indústria deve se preparar para uma operação
desmame. Ela está acostumada a chorar e ser atendida".
Com a eleição da Marina, a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES
vai subir para não haver subsídio. Considera-se subsídio a diferença
entre a TJLP e a Selic. A taxa distorcida é a Selic (que remunera os
títulos da dívida pública); mas Giannetti trata a TJLP (que serve de
base para os financiamentos) como se fosse a abusiva.
Toda a política agrícola é fundada em crédito subsidiado, assim como um
sem-número de políticas sociais, como Minha Casa, Minha Vida.
* * *
A indústria se verá frente ao aumento da inflação, aumento de juros de
curto prazo (com a Selic) e de longo prazo (com a TJLP); câmbio
apreciado, por conta da entrada de dólares atrás dos juros; choque
tarifário, com o adicional do CIDE; sem políticas industriais pela
frente. E como ficará o emprego?
O mágico Giannetti, o economista que não tem dúvidas, responde que "o
desemprego já é uma realidade e a ideia é que termine o quanto antes".
Como? Fé cega e tesoura amolada. "A experiência mostra que a capacidade
de resposta da sociedade brasileira é muito forte. Tendo a crer que
ainda em 2015 será possível ver a volta da economia ao crescimento, se
for muito bem feito".
Não se trata de nenhuma afirmação científica, calçada em dados,
analisando todos os desdobramentos da política econômica. Trata-se de
matéria de fé: "Tendo a crer (...) se for tudo muito bem feito..."
Esquece que um choque inflacionário afeta diretamente as expectativas e a
confiança dos agentes econômicos. Se junto com o choque inflacionária
derrubar o mercado de consumo, quebrará a única perna que sustenta o PIB
hoje em dia. E se, junto com a inflação, sobrevier uma recessão — fruto
do choque fiscal e tarifário — só um milagre para empresários sem
mercado e sem estabilidade de preços manterem a confiança na economia.
Perde a agricultura, perde a indústria e não ganham os programas sociais.
Eles serão mantidos apenas na hipótese de haver folga fiscal, como garante nosso bravo filósofo macroeconomista.
* * *
Indagado sobre qual a diferença de Marina sobre os demais candidatos,
Giannetti é cândido: "Não vemos a economia como um fim em si mesmo, ela é
pré-condição para uma vida melhor para todos, de uma realização mais
plena. O sonho que nos move é que a economia deixe de ocupar o lugar de
proeminência que ela ocupa hoje no debate brasileiro para que a gente
possa focar em questões ligadas à cidadania, à realização humana, à
felicidade".
Luís Nassif
* * *
A miséria da economia
Postado em 12/11/2010 - 21:24
Atualizado em 17/11/2010 - 08:01
Nassif, coloco este comentário aqui por não achar um tópico correspondente.
Estava assistindo no globonews o programa da Miriam Leitão, uma reprise que passou hoje a tarde.
Acabei vendo que lá participava um ex-professor meu, do curso de
economia da FEA-USP. Decidi assistir o programa e ver do que daria dessa
troca de idéias entre Miriam Leitão e Eduardo Giannetti da Fonseca.
Lembro-me do Prof. Giannetti como um economista pouco afeito ao rigor
metodológico. Ele parecia mais um ideólogo do neoliberalismo. Seu
discurso era um misto de conceitos economicos com filosofia liberal.
Hayek, Locke, Voltaire, e aqui e ali algo tipicamente economês:
deflação, taxa, curva de crescimento, feedback negativo, etc, etc.
Lembro-me claramente, como se fosse hoje, ele com uma cara de deboche,
dizendo a um colega de sala que não sabia o que era reificação.
"Reificação? O que é isso? Não entendo esse conceito". E recusou-se a
comentar este conceito marxista e sua critica ao capitalismo. Isso me
pareceu emblemático de seu caráter.
Pois bem, voltando ao "espaço aberto" Miriam Leitão. O tema era taxa de
câmbio. O tema da moda! Depois de um início bastante didático, cheio de
conceitos e explicações simples, até de uma certa ortodoxia, eis que o
querido mestre divide com seus pupilos a solução mágica que nos salvará
da danação cambial. Vou dividir com você:
"Quando o câmbio brasileiro se valoriza, o fato básico é que fica caro
em dólares produzir no Brasil. O custo de produzir no Brasil é muito
alto em dólar. Nós perdemos mercado lá fora e os importados ganham
mercado aqui dentro. O que nós podemos fazer hoje, independentemente de
câmbio, pra reduzir o custo de produzir no Brasil? Existe uma coisa
óbvia e que clama por ser feita, nós precisamos reduzir os encargos que
incidem sobre a folha salarial das empresas no Brasil!". [Voilà!]. "Isso
corresponde a um efeito de uma desvalorização do câmbio. O preço em
dólar pode reduzir muito se reduzirmos fortemente o volume de impostos
que nós cobramos da contratação e do salário aqui na economia
brasileira. [Isso aí] incentiva o emprego, aumenta a formalização, é uma
grande mudança de preços relativos, barateando o fator trabalho. Existe
um lema em economia que [diz]: câmbio é salário. Câmbio é salário. É
salário em dólar. Tá caro produzir no Brasil porque o salário no Brasil,
relativamente à nossa produtividade, tá muito alto em dólar".
Bem, depois ele complementa essa mixórdia toda com algumas outras
abstrações, às quais nao tive paciência de transcrever. A idéia central
está aí. E é vexatória! Mostra claramente como construir uma mentira a
partir de alguns conceitos válidos.
Brincando com os conceitos de preços relativos, ele conclui que a única
maneira de ganhar numa relação de trocas que está contra nós é reduzir
direitos trabalhistas. Acabar com FGTS, por consequência acabar com a
multa recisória, acabar com o 13º, com as férias, com o DSR, com as
Horas extras a 50% e 100%! Simples assim! Os EUA e a China
resolvem mudar os valores das suas moedas, transferem ao mundo o valor
da conta, e nós devemos repassar a conta a ser paga aos trabalhadores.
Nenhuma palavra sobre juros e controle de capitais. Nenhuma palavra! As
principais variáveis que definem a taxa de câmbio não foram sequer
citadas na solução mágica do grande mestre.
Nem vou comentar câmbio é salário. A idéia em si já é uma grosseria.
Outra coisa impressionante, no sentido mais negativo, é o professor
doutor Eduardo Giannetti colocar isso como uma solução para aumentar o
emprego e a formalização. Por onde esteve ele nestes últimos 8 anos? Não
sabe que a nossa atual taxa de desemprego é de 6,2%, próxima do nível
de pleno emprego? Não sabe que foram gerados 15 milhões de empregos com
todos esses direitos que ele quer extirpar como solução para um câmbio
falsamente apreciado? Ou melhor, uma taxa de câmbio que foi levada à
esse nível por conta de politicas deliberadas de 2 países.
Sei que é esperar muito dessa gente, mas não dá mais pra ficar assistindo esse festival de baboseiras.
Os economistas são os piores. Como diria meu ex-professor Adroaldo Moura
da Silva, esse sim uma pessoa coerente, os economistas fazem tanto mal à
sociedade que deveriam ser enforcados pelo saco!
andalex
No GGN
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