segunda-feira, 21 de novembro de 2011

“Esta luta não é só dos chilenos, mas de todos os jovens do mundo”



A esperança é muita, porque se vê que o Chile já não é o mesmo de antes, que a partir disto há um despertar, mas também uma mudança ou o início de uma mudança na estrutura mental”
Oleg Yasinsky, Desinformémonos / Brasil de Fato
Um renovado movimento estudantil cresce no Chile desde maio deste ano. São já seis meses de protestos nas ruas, assembleias e articulações com outros setores da sociedade, sob a primeira demanda de um novo modelo de educação que se traduz em uma demanda contra o sistema neoliberal em geral.
Camila Vallejo, uma jovem de 23 anos, estudante de Geografia, tornou-se uma das figuras visíveis do movimento mais importante no Chile desde a chegada da Concertación. Presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, militante das Juventudes Comunistas, Camila fala em entrevista ao Desiformémonos dos desafios e esperanças do movimento, das conquistas obtidas e dos temores atuais. Na primeira entrevista concedida a um meio de comunicação mexicano, Camila saúda aos estudantes da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e envia uma mensagem aos jovens da América Latina.
O que é ser de esquerda hoje?
Primeiro, tem que se entender que é necessário fazer mudanças profundas na sociedade e no sistema político-econômico e cultural, que é a estrutura, mas também tem que se ter a consciência de que isso requer fazer ação coletiva, trabalho coletivo e trabalhar de maneira organizada e em unidade. Em segundo lugar, essa transformação tem que ter o objetivo de recuperar a soberania dos distintos povos, particularmente no Chile, que essa soberania não somente se traduza na recuperação dos recursos naturais, mas também no poder de distribuir de melhor forma o poder político, uma democracia muito mais coletiva, muito mais participativa que implica em gerar a nível institucional os espaços necessários para que as diferentes sociedades tomem em suas próprias mãos a construção do futuro, e isso com o princípio básico de ter maior justiça social, que passa tanto por justiça distributiva como justiça produtiva e, nesse sentido, não só se foca na recuperação dos meios de produção materiais, mas também culturais, no conhecimento, tem que se democratizar. Acredito que esse é o grande desafio hoje em dia da esquerda.
Por que este movimento surge agora, 23 anos depois do término da ditadura? Por que deixou-se passar tanto tempo? Parecia que no Chile não acontecia nada...
No Chile sempre estão acontecendo coisas, o que acontece é que para fora não se mostra isso, para fora se diz que somos uns jaguares da América Latina, que somos um país exemplar, com um modelo educacional exemplar, que temos uma estabilidade a nível de governo muito clara, um abrupto crescimento econômico, que temos acabado com a pobreza, mas não se mostra como se tem acumulado certos descontentamentos sociais, resultado de lutas, que não têm tido um bom final.
Temos tido mobilizações não tão massivas como esta, mas que têm sido importantes, que têm colocado mudanças sobre a mesa e ainda assim nossa institucionalidade política não tem lhes permitido expressar-se e que essa opinião se traduza em algo vinculativo, como um projeto de lei; então, há uma acumulação de descontentamento que obviamente tem a ver também com o desenvolvimento, a perpetuação e o aprofundamento da desigualdade em nosso país, um país que tem combatido a pobreza, a indigência e onde, contudo, a desigualdade cresce cada vez mais, e o pior, é que a gente tem tomado consciência de que essa desigualdade não é por mero continuísmo de algo, mas que está se reproduzindo como resultado do sistema dominante que foi instaurado à força na ditadura. Aqui se reflete que este estouro social, como se tem assinalado, não é algo espontâneo, mas que vem de toda essa acumulação e amadurecimento de lutas sociais anteriores.
Por que vocês têm tanto apoio e tanta simpatia do povo e não só no Chile? Esperavam uma reação assim a princípio?
Acredito que atacamos problemas centrais do sistema e creio que isso tem gerado transversalidade. Esta não é uma luta sindical, pela defesa de algo corporativo ou algo que não implique diretamente aos estudantes, mas a problemática que se tem apresentado e a demanda que se levanta é uma demanda social, que é para todos, não somente para a atual geração, mas para a futura, e isso tem gerado simpatia e tem também despertado a consciência de muita gente, devolvendo a esperança a aqueles que haviam lutado anteriormente, mas por temor não seguiram lutando, e creio que isso tem sido a principal riqueza deste movimento: a transversalidade, o despertar da consciência, o ataque ao problema central e, sobretudo, o resultado do movimento; creio que não temos negociado, não por intransigência, mas por responsabilidade ante questões que para nós são éticas e morais, que são luta legítima. Nesse aspecto, creio que se tem gerado o maior respaldo social a este movimento.”
Imagem: Camila Vallejo / Foto: Reprodução
Entrevista Completa, ::Aqui::

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