Em Brasília, presidente da Venezuela encerra giro pelo Mercosul com
acordos para promover 'revolução' alimentar que visa a reduzir
dependência do petróleo e encontro com o ex-presidente
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou hoje (9) em Brasília,
ao lado da presidenta Dilma Rousseff, que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é o último dos fundadores dos movimentos de integração da
América Latina. “Hoje, Lula nos banhou de sabedoria. Esteve uma hora nos
dando experiência de sua luta. Vemos Lula como um pai. Um pai dos
homens e mulheres de esquerda de nossa América Latina. Dos três gigantes
que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner,
Chávez e Lula, só nos resta Lula”, disse, durante declaração à imprensa,
fechando o último de três dias de visitas aos parceiros de Mercosul.
Segundo a assessoria de imprensa do ex-presidente, os dois se
encontraram no meio da tarde, em audiência que teve também a presença do
presidente do PT, Rui Falcão.
“Estamos construindo o que nunca existiu. Brasil, para nós, era futebol,
samba e caipirinha. Estávamos totalmente de costas. Não nos víamos, não
nos conhecíamos. Da primeira vez que nos vimos seguramente foi com
reserva”, acrescentou. A Venezuela assume no segundo semestre a
presidência temporária do bloco regional, que, na visão de Maduro,
nasceu em essência nas ideias de Hugo Chávez. “Esta visão nós escutamos
pela primeira vez na Venezuela nos escritos de Chávez desde a prisão, em
1992. Desenhar o Mercosul. Naquela década de 1990, onde reinava o
neoliberalismo, poderiam pensar que estava louco. Estava louco pela
pátria grande.” O presidente venezuelano morto no último dia 5 de março
tentou no começo da década de 1990 chegar ao poder por meio de um
levante, ocasião em que acabou preso. Sete anos mais tarde, foi eleito.
Segundo a declaração conjunta no Palácio do Planalto, Maduro conseguiu
no Brasil aprofundar as conquistas que obteve na véspera na Argentina,
fechando parcerias para tentar reduzir a extrema dependência de seu país
na questão alimentar. A baixa produção vem provocando alta nos preços
dos alimentos, e a inflação é um dos principais desafios de seu
recém-iniciado mandato. “Pedimos mais apoio ao Brasil para o
desenvolvimento de uma revolução agroalimentar nos próximos anos. É uma
grande meta. Produzir todos os alimentos que consumimos. Já sabemos que
podemos”, informou Maduro, indicando ainda que espera receber dos
brasileiros conhecimentos sobre técnicas de plantio e planejamento.
Ele culpou as altas rendas do petróleo, cujas jazidas foram descobertas
em abundância no século 20, como responsáveis pela baixa produção
alimentar. A Venezuela sofre com um baixo nível de industrialização
porque o país abriu mão de produzir para depender quase que
exclusivamente da arrecadação garantida pela extração da matéria-prima.
“A Venezuela tem de aprender um mundo inteiro. Porque na Venezuela houve
uma mutação com a chegada do petróleo. Mais que uma mutação, houve uma
amputação. Hoje estamos resgatando isso.”
Maduro aproveitou a passagem por Brasília para fazer uma defesa do
sistema eleitoral venezuelano, que declarou como um dos mais avançados
do mundo, alvo de contestação da imprensa brasileira após a apertada
vitória sobre Henrique Capriles, em abril. A oposição tenta nas últimas
semanas garantir uma mobilização internacional contra o resultado. O
presidente disse que segue em curso uma auditoria sobre todos os votos.
“Hoje estamos construindo um governo para toda a Venezuela, para os que
votaram em nosso governo, para os que não votaram em nosso governo.
Estamos montando um grande projeto para todos.”
Em um curto pronunciamento, lido, a presidenta brasileira destacou a
importância de a Venezuela presidir pela primeira vez o bloco. “Estou
certa de que isso permitirá ao bloco viver um segundo ciclo de expansão
do comércio e de integração das cadeias produtivas”, disse. “Presidente
Maduro, este desafio, que é o desafio da integração regional, sonho de
nossos antepassados e frustração de tantas gerações, tem sido
encaminhado por todos nós. Isso tem grande significado político. Nossos
países estão mostrando vocação para a criação de um futuro comum, que
uma toda nossa região.”
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